Do aumento das turbulências nos voos à queda no tempo das
maratonas, confira algumas das consequências mais inusitadas que a elevação da
temperatura média global do planeta nos reserva. E haja coração - de verdade
Multiplicação das cabras
Um novo estudo, publicado na revista científica Oikos,
mostra que dois fatores principais são importantes para a sobrevivência das
cabras: as horas de claridade do dia e a temperatura. Para os caprinos da
Escócia, que sofrem com o frio das áreas mais elevadas do norte do país, o
aquecimento global pode ser uma dádiva.
A elevação das temperaturas parece estar tornando a vida um
pouco mais fácil para os animais da região, que já começam a marcar território.
O aumento da população de cabra selvagem e a mudança de seu habitat foi
documentada pelo pesquisador britânico Robin Dunbar, da Universidade de Oxford
e seu colega Jianbin Shi.
Adeus ao cafezinho
O nosso querido cafezinho também corre riscos. Segundo uma
nova pesquisa, publicada na revista científica Plos One, essa bebida
tradicional pode sumir do cardápio dentro de 70 anos devido ao aquecimento
global e às mudanças climáticas. O estudo realizado por pesquisadores do Royal
Botanic Gardens da Grã-Bretanha, em colaboração com cientistas na Etiópia,
constatou que entre 38 e 99,7% das áreas adequadas para o cultivo da espécie
arábica desaparecerá até 2080 se as previsões do aumento das temperaturas se
concretizarem.
Aumento de problemas cardíacos
É bom preparar o coração para as mudanças. Eventos
climáticos extremos de calor e frio se tornarão mais comuns e isso vai colocar
pressão sobre o coração das pessoas, dizem os cientistas. Um estudo publicado
no British Medical Journal concluiu que a queda de temperatura de 1ºC em um
único dia no Reino Unido está ligado ao aumento de 200 ataques cardíacos.
Ondas de calor também geram efeito semelhante. Mais de 11
mil pessoas morreram por complicações cardíacas durante a onda de calor que
atingiu a França na primeira metade de agosto de 2003, quando as temperaturas
subiram para mais de 40ºC.
Voos mais turbulentos
Segundo estudo feito por pesquisadores das Universidades
britâncias de Reading e East Anglia, as turbulências vão se tornar mais fortes
e recorrentes se as emissões de CO2 realmente dobrarem até 2050, conforme prevê
a Agência Internacional de Energia. O aumento das concentrações de CO2 eleva a
temperatura média global e acaba mudando a atmosfera por onde passam as rotas
aéreas, tornando-a mais instável para os aviões.
Usando simulações computacionais para avaliar os efeitos do
aquecimento sobre as condições de voo, os cientistas descobriram que as chances
de uma aeronave atravessar uma turbulência aumentarão entre 40% e 170%. Já a
intensidade da sacudidela poderá aumentar entre 10 e 40%.
Queda na capacidade trabalho
Um estudo publicado na revista científica “Nature Climate
Change” sugere que o aumento da temperatura global nos últimos 60 anos reduziu
a capacidade de trabalho em 10%. Pior, a previsão é de que “estresse térmico”
poderá prejudicar ainda mais a aptidão do trabalhador para desempenhar suas
funções nas próximas décadas. De acordo com a pesquisa, a capacidade de
trabalho em 2050 será reduzida a 80% do que hoje.
Maratonas mais lentas
Embora o tempo dos vencedores de maratonas tenha melhorando
gradativamente ao longo do século passado, essa tendência corre risco de diminuir
diante do aumento das temperaturas. Um estudo da Universidade de Boston indica
que o aquecimento global poderá tornar as maratonas mais lentas, afetando o
tempo das vitórias. Mantida a tendência de aquecimento atual, de 0.058°C por
ano, até 2100, a chance de detectar uma "desaceleração consistente no
tempo de vitória da maratona" é de 95%, diz o estudo.
Invasão de vegetação no Ártico
Um estudo liderado pela Nasa indica que as áreas florestais
poderão aumentar 50% na região do Ártico, em decorrência do aumento médio da
temperatura global até 2050. Os efeitos para o meio ambiente e o clima não são
animadores. Segundo os cientistas, a redução da área coberta por neve por causa
da expansão das zonas verdes poderá reduzir refletividade da superfície
terrestre na região, aumentando assim a radiação absorvida – e a temperatura.
Uvas não curtem calor, logo...
As uvas vinícolas são uma das culturas mais sensíveis ao
calor, chuvas, incidências de sol e mudanças bruscas no clima. Não à toa, elas
estão na mira do aquecimento global. Segundo estudos mais recentes, a produção
de vinhos em regiões consagradas, como Bordeaux, na França, pode cair cerca de
60% até 2050. Em contrapartida, a mudança climática poderia também abrir outras
partes do mundo para a produção de uvas, uma vez que os produtores teriam que
procurar lugares mais altos e mais frios.
Mais metano, mais aquecimento
Os efeitos do aquecimento global, acredite, também podem
gerar mais aquecimento global. Estudo recente, publicado na revista Nature por
uma equipe internacional de cientistas, mostrou que o degelo no continente
antártico pode ser uma fonte importante, embora esquecida, de metano, um gás
efeito estufa com potencial de aquecimento global 21 vezes maior do que o do
CO2. Ou seja, o derretimento do gelo pode liberar milhões de toneladas desse
gás na atmosfera e agravar o aquecimento global.
Fonte: Exame