Há um segmento no Brasil com uma demanda reprimida enorme,
com um grande potencial de lucro, capaz de oferecer garantia de fluxo de caixa
de até 30 anos. Trata-se do setor de saneamento, que conta com um marco
regulatório estável, e um caminhão de dinheiro público, pronto para ser
despejado nos municípios que pretendam investir. Nada menos que R$ 41 bilhões
estão disponíveis, através do PAC Saneamento, até 2014. Mesmo com esses
atrativos, o interesse dos investidores estava aquém do necessário. Estava,
garantem os mais otimistas, pois o assunto ganhou de vez a atenção da
iniciativa privada, que aumenta a pressão para dar velocidade às obras do
setor.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo,
propõe a criação de incentivos para aumentar a atração de investidores, e assim
sanar gargalos que comprometem a economia como um todo. “Diversas atividades
industriais são sensíveis à falta de saneamento”, diz José Augusto Fernandes,
diretor de políticas e estratégia da CNI. “Onde não há tratamento de água, por
exemplo, indústrias alimentícias precisam investir para deixar o insumo em
condições adequadas.” Hoje há cerca de 15 entidades de classe mobilizadas para
alterar as vergonhosas estatísticas brasileiras. Somente 46% da população tem
esgoto tratado no País, um quadro que se explica pelo baixo investimento: cerca
de R$ 8 bilhões anuais, quando a necessidade é de R$ 17 bilhões.
A presença pulverizada de empresas públicas e a falta de
fiscalização deixam o tratamento de água e esgoto no último lugar da fila das
prioridades dos prefeitos, como demonstrou a pesquisa de Informações Básicas
dos Municípios (Munic), divulgada pelo IBGE, no mês passado: 70% das cidades
brasileiras não têm um projeto consistente para cuidar do assunto. Em 2007, o
governo federal criou um marco regulatório, que obriga os municípios a terem um
plano de saneamento. A adesão ainda é baixa, mas o governo sinaliza com corte
de verbas para quem não fizer a lição de casa. Com o cerco se fechando para a
ineficiência, novas companhias começam a ingressar no mercado, como a OAS
Soluções Ambientais, divisão da construtora OAS, que deve disputar o mercado de
concessões públicas, e projeta um faturamento de R$ 700 milhões anuais.
Lucros pelo cano
- Investimento no setor de saneamento ainda é metade do que
o país precisa;
- Faturamento do setor de água e esgoto somou R$ 70, 5
bilhões em 2010;
- Investimentos anuais somam entre R$ 7 bilhões e R$ 8
bilhões;
- País precisa investir R$ 17 bilhões por ano;
- Cada R$ 1 investido em saneamento gera R$ 4 de economia na
área de saúde;
- Universalização dos serviços injetaria R$ 41,5 bilhões
anuais na economia.
Por Carla Jimenez e Guilherme Queiroz
Fonte: Isto É Dinheiro