Um professor de música criou um projeto que transformou as
vidas de 20 crianças que vivem no aterro sanitário de Cateura, no Paraguai. Com
os materiais encontrados no lixão, elas construíram seus próprios instrumentos
e montaram uma orquestra.
Nas mãos dos moradores do aterro sanitário de Cateura, no
Paraguai, um latão se transforma em um violão. As crianças batucam em tambores
elaborados com diagnósticos de raios-X e tocam violinos produzidos a partir dos
restos de uma mesa achada no lixão. Para afinar as cordas dos instrumentos, são
utilizados garfos encontrados no aterro.
A Orquestra de Instrumentos Reciclados de Cateura surgiu há
cinco anos, quando o músico e professor Favio Chávez inaugurou uma pequena
escola de música para que os jovens do aterro sanitário tivessem mais
oportunidades de acesso à cultura. “A orquestra deu um novo sentido à minha
vida, porque, em Cateura, infelizmente, muitos jovens não têm a oportunidade de
estudar, já que têm de trabalhar, ou são viciados em álcool e drogas”, diz Ada
Rios, violoncelista de 14 anos.
Sem dinheiro para comprar os instrumentos, Chávez pediu aos
catadores mais velhos que construíssem os equipamentos, utilizando apenas
materiais reciclados. A partir daí, foram criados os saxofones com tampas de garrafa,
uma flauta feita com latas de refrigerante e um contrabaixo montado a partir de
um barril amarelo, que caíram no gosto dos alunos, hoje integrantes da
orquestra infantil.
Segundo os integrantes do projeto, os instrumentos de
material reciclado têm a mesma qualidade daqueles que são vendidos nas lojas.
Neles, os jovens entoam um repertório longo, que conta com canções da música
erudita – como Beethoven e Mozart – até clássicos da música popular – como hits
dos Beatles e de Frank Sinatra – que já foram apresentados na Colômbia, no
Panamá e aqui no Brasil.
“Graças à orquestra, estivemos no Rio de Janeiro. Tomamos
banho no mar, nas praias de Ipanema e de Copacabana. Nunca pensei que os meus
sonhos se tornariam realidade”, diz Tania Vera, de 15 anos, violoncelista que
vive numa barraca de madeira, nas proximidades de um rio contaminado.
Embora o reaproveitamento do lixo seja uma alternativa de
desenvolvimento sustentável, o real propósito do professor é melhorar as
condições de vida das famílias que vivem no lixão paraguaio. “A minha vontade é proporcionar a estas
crianças e às suas famílias uma maneira de saírem do aterro. Para isso, vamos
angariar algum dinheiro, não muito, mas o suficiente para ajudar as famílias de
Cateura”, explica Chávez.
A história da Orquestra de Instrumentos Reciclados de
Cateura rendeu um documentário, e, no ano que vem, os instrumentos de lixo
ganharão uma exposição no Museu de Instrumentos Musicais em Phoenix, nos EUA.
Enquanto se preparam para um possível concerto nos Estados Unidos, os pequenos
músicos fazem apresentações em Assunção, capital do Paraguai.
Com informações
do El Tribuno.
Fonte: CicloVivo