Uma campanha pela preservação das árvores mais antigas da
cidade de São Paulo está sendo lançada nesta sexta-feira (21) pela fundação SOS
Mata Atlântica. Consideradas "veteranas de guerra" por terem
sobrevivido à grande urbanização da metrópole, 20 plantas centenárias foram
escolhidas para receber medalhas de honra e placas de bronze como agradecimento
pelos serviços prestados à população.
A ideia é chamar a atenção das pessoas para estes
"monumentos", resquícios da vegetação nativa da capital paulista, a
Mata Atlântica, ressalta o botânico Ricardo Cardim, parceiro da fundação e
responsável pela escolha das árvores. "Sâo Paulo já teve uma
biodiversidade grande, que foi muito destruída com a urbanização", aponta
ele. "Essas árvores carregam uma história biológica e cultural da cidade."
As plantas são jatobás, ceboleiros, chichás, figueiras e
jequitibás, entre outras, e estão situadas em vários locais, como no Largo do
Arouche, no Centro da cidade; no Parque Ibirapuera, na Zona Sul; em uma escola
de Santo Amaro, também na Zona Sul; e no Parque do Carmo, na Zona Leste.
A árvore mais antiga documentada na cidade fica no Sacomã,
na Zona Sul, segundo a SOS Mata Atlântica. Chamada de figueira-das-lágrimas,
ela tem mais de 200 anos, na avaliação de Cardim. O botânico estima que ela
seja do final do século 18. "Podemos falar que [a planta] é o mais antigo
paulistano vivo, e foi esquecido, jogado em um cantinho."
No local onde está a planta passava, no século 19, a estrada
que ligava o Porto de Santos a São Paulo, ressalta a ONG em nota enviada à
imprensa. Como a árvore demarcava o fim da capital paulista e servia de
referência para despedidas de pessoas que seguiam ao litoral, o seu apelido
incluiu as "lágrimas".
Por baixo da copa da árvore passaram soldados da Guerra do
Paraguai e inclusive Dom Pedro I, indo para o local da proclamação da
Independência em 1822, segundo a nota da SOS Mata Atlântica. "Para dar uma
ideia da antiguidade da árvore, ela assistiu Dom Pedro passar", brinca
Cardim.
Protetora
A figueira-das-lágrimas tem uma cuidadora, ressalta o
botânico, fundador da rede "Árvores de São Paulo". Trata-se de Yara
Rodrigues Caldas, de 55 anos, que mora no entorno do local onde está a árvore.
Yara diz passar todos os dias pelo local onde está a
figueira-das-lágrimas para limpar e cuidar dela. Ela começou a tomar conta da
árvore em 1974, um ano após ter se mudado para a região. "Eu varro todo
dia. Tem que cuidar da árvore como a gente cuida da casa da gente", afirma
a moradora.
A campanha quer incentivar a população a conhecer e
acompanhar as árvores selecionadas, além de permitir o cadastro de outras
árvores antigas da cidade.
Pelo site www.veteranasdeguerra.org, é possível se cadastrar
e adotar uma das plantas. Os cadastrados podem monitorar a situação das
árvores, descrever a situação em que se encontram, incluir fotos, textos e
compartilhar nas redes sociais.
Os "padrinhos" das árvores também poderão entregar
medalhas virtuais às árvores pela força, perseverança e outras qualidades, além
de enviar e-mails para órgãos públicos toda vez que algum problema ou
irregularidade afetar uma planta "veterana".
Fonte: Globo.com