quarta-feira, 11 de abril de 2012

Redes de supermercados implementam o veto às sacolinhas plásticas

Funcionários relatam o cotidiano da relação com clientes. Especialistas conferem visão crítica ao tema e expandem discussão

O setor ambiental, por vezes tão restrito a especialistas, ganhou aspecto tangível nos últimos três meses na cidade de São Paulo. O veto à distribuição de sacolas plásticas nos supermercados efervesceu em conversas corriqueiras e tornou-se pauta dos principais veículos de comunicação.

A decisão, acordada entre a Associação Paulista de Supermercados (Apas), Ministério Público de São Paulo e a Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon), como parte integrante da campanha "Vamos tirar o planeta do sufoco" influiu em um hábito enraizado na cultura da população. Assim, ainda que os princípios da nova medida tenham sido traçados, é importante verificar como reagem os elos fundamentais desta cadeia: consumidores e funcionários de supermercados.

A rede de hipermercados Extra, pertencente ao Grupo Pão de Açúcar, por exemplo, distribuía sacolas plásticas até o dia 02 de abril e, a partir de hoje - data estabelecida como limite de adesão aos supermercados - já começa a seguir o acordo.

Segundo Antônio Jacélio, gerente operacional da loja Extra na Av. General Edgar Faccó, Freguesia do Ó, Zona Norte da cidade, a orientação ainda é a de não deixar o cliente desamparado. "Por sermos uma loja varejista, recebemos uma grande quantidade de caixas de papelão e as disponibilizamos aos consumidores", relata.

A unidade comercializava sacolas retornáveis que, em dependência do volume máximo suportado e da estampa, variavam de R$0,50 a R$2,99. Agora, segundo o termo implementado, os estabelecimentos deverão oferecer, durante um período de seis meses, sacolas reutilizáveis a um preço que não ultrapasse R$0,59.

"Observamos algumas reclamações de pessoas que ainda não entendem ou não aprovam o acordo firmado, mas acredito ser algo natural de acontecer, sendo que é algo recente", completa.

Mônica Suzana, fiscal de caixa da mesma loja, conta que já foi acionada algumas vezes pelas operadoras de caixa em virtude de clientes exaltados e contrários à falta de distribuição. "Quando explicamos a nova medida, assim como fomos orientados a fazer pela Apas, o cliente passa a entender e, na próxima compra, já retorna com uma opção de acondicionamento de produtos para se adaptar à nova realidade", diz.

No supermercado Sonda da Vila Pompéia, Zona Oeste, a gerência fixou banners explicativos nos pisos do estacionamento e nas entradas da loja, alertando o consumidor sobre a mudança. Esta iniciativa é, inclusive, rechaçada pelas outras lojas do grupo. "No dia 25 de janeiro, aniversário da cidade, distribuímos gratuitamente uma sacola retornável para cada cliente que entrasse na loja", lembra Marcos Antônio de Menezes, encarregado de frente de caixa.

"Até ontem, 03 de abril, ainda fornecíamos sacolinhas plásticas, mas os operadores de caixa já tinham sido instruídos a induzir o cliente a trazer opções mais ecológicas da sua própria casa, ou mesmo a transportar em caixas de papelão espalhadas pela loja", complementa. "Falo ao cliente sobre a nova regra, mas a maioria já conhece, ainda que nem todos concordem", explica Carla Lima Dias, operadora de caixa do estabelecimento.

Clientes

Para Gustavo Souza Pinto, administrador de empresas e cliente da loja Carrefour do bairro do Limão, a proibição do acondicionamento de produtos com sacolas plásticas é parte da tendência do país a discutir temas tocantes à preservação ambiental. "Esta é uma medida que já deveria estar em uso há muitos anos, talvez décadas. Pode ser uma pequena parte da solução", argumenta.

Já Felipe César Moraes Viana, estudante de arquitetura e frequentador do Walmart de Santo Amaro, Zona Sul da cidade, acredita que o acordo não terá o retorno esperado pelas entidades envolvidas e parte da população. "Não acho que sacolas plásticas sejam um problema muito grande. Lógico que se pudermos evitá-las, melhor, mas o mundo precisa de ações mais concretas, como medidas de cortes de emissões de gases do efeito estufa, por exemplo", opina.

Lurdes Conceição dos Santos, dona de casa e cliente de diversos supermercados apoia a campanha, mas ressalva que as sacolas retornáveis oferecidas pelas lojas possuem um preço abusivo. "Às vezes você precisa de poucos itens e acaba pagando pela sacola retornável quase o mesmo que gastou com os produtos que comprou. Sei que é algo para conservar o meio ambiente, mas precisa conservar, também, o bolso do cliente", destaca.

Especialistas

De acordo com Roseane Garcia Lopes de Souza, coordenadora da Câmara Técnica de Resíduos Sólidos da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária (ABES-SP), a campanha deve ter como premissa o meio ambiente e a saúde pública. "A conta ambiental sozinha não se sustenta, deve-se ter a inclusão da conta da saúde pública. As embalagens são necessárias, porque garantem a qualidade dos produtos e, portanto, em termos sanitários, são fundamentais", avalia.

Para ela, especificamente ao que se refere às sacolas de supermercado, a questão não se restringe ao plástico e envolve, também, a deficiência ou ausência da coleta seletiva. "Precisamos retornar as embalagens para o ciclo de novos produtos". Roseane defende a composição de uma Análise do Ciclo de Vida (ACV) para se definir os gastos de recursos naturais com a fabricação de sacolas de plástico, papel e de pano. "Essa conta também deve ser feita e apresentada para a sociedade civil. Precisamos não só sensibilizar a sociedade, mas informá-la com dados técnicos".

A especialista lembra que boa parte da população reusa a sacola plástica para embalar o lixo doméstico no aguardo da coleta municipal. "Já verificamos que o lixo está sendo disposto a granel, diretamente na rua e, com isso, haverá um aumento na população de vetores e roedores e, por consequinte, agravos e doenças relacionadas podem aumentar na população, e essa conta quem paga é o Sistema Único de Saúde (SUS)", esclarece.

Para ela, no entanto, a proposta da Apas é louvável, mas precisa englobar uma amplitude de assuntos que foram ignoradas na campanha. "A sustentabilidade é um conceito mais amplo e abrange questões econômicas, sociais e de saúde pública. Precisamos de uma ação conjunta dos governos, empresas e sociedade civil", finaliza.

Em complemento às considerações de Roseane, Carlos Roberto Silva Filho, diretor executivo da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), exemplifica o atual uso exagerado de embalagens com um acontecimento cotidiano. "Ao comprarmos um sapato, levamos para casa uma sacola, uma caixa de papelão, um papel envolvendo o sapato e dois tufos de papel dentro do calçado, além do manual de cuidados com o produto. Se for para presente, ainda há o embrulho, ou seja, é uma quantidade muito grande de embalagens para um único produto", destaca.

Impedimentos

A polêmica gerada pelo assunto, porém, parece estar longe de acabar, ainda mais porque o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) decidiu, por unanimidade, que a Apas deve suspender a campanha "Vamos tirar o planeta do sufoco".

A representação, feita pela Plastivida Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, se baseou no "Anexo U" do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária que trata de "Apelos de Sustentabilidade". A ação movida procurou mostrar que o conteúdo da campanha contraria os oito itens da ética publicitária no que se refere à sustentabilidade. Durante o processo no Conar, a Apas não apresentou qualquer dado científico que embase os apelos ambientais citados na campanha.

Outro pronto questionado se refere ao fato de que, em momento algum, a entidade informou ao cidadão que o custo das sacolas já é embutido no preço dos produtos e que, apesar de deixar de distribuí-las, estas continuam a ser cobradas indiretamente, caracterizando prejuízo econômico ao consumidor, sem qualquer vantagem ambiental.


Outro lado

A Apas informa, por meio de sua área jurídica, que aguarda a intimação para conhecer na íntegra as razões que levaram o Conar a decidir pela suspensão da campanha. Somente após tomar conhecimento formal, irá se manifestar acerca da decisão e das medidas a serem tomadas.

Sobre a ABES-SP

A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental - ABES, é uma organização não governamental de caráter nacional, sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo contribuir através do conhecimento dos seus associados para a melhoria da qualidade devida da sociedade brasileira. A sua dinâmica operacional baseia-se no desenvolvimento de um amplo leque de atividades estruturadas sobre os alicerces da engenharia sanitária e das ciências ambientais e, principalmente, mediante uma série de ações que objetivam o aperfeiçoamento profissional e acadêmico dos seus associados.

Desde a sua fundação, em 1966, é internacionalmente reconhecida como uma instituição devidamente capacitada para exercer, de forma ampla e plural, uma significativa liderança nos diversos setores que integram o saneamento básico e ambiental brasileiro.


por Victor Faverin




Um comentário:

  1. PROIBIÇÃO DAS SACOLINHAS PLÁSTICAS NÃO É MAIS LEI. RESUMIU-SE A UM “ACÔRDO DE CAVALHEIROS” DO QUAL A POPULAÇÂO NÃO PARTICIPOU!

    Sob o mote: “ vamos tirar o planeta do sufoco”, no dia 25 de janeiro de 2012 as sacolas plásticas descartáveis utilizadas na embalagem dos produtos adquiridos pela clientela foram banidas dos supermercados de São Paulo, mercê a um acordo celebrado entre o Governo do Estado e a APAS- Associação Paulista de Supermercados.
    Em troca, os fregueses terão de comprar no próprio estabelecimento, a um preço variando entre R$ 0,19 à R$1,80, sacolas biodegradáveis, feitas de amido de milho ou ecobags, ou mesmo trazer sacolas de pano de casa ou ainda utilizar caixas de papelão descartadas pelos supermercados.
    O “acordo de cavalheiros” foi assinado porque a Lei de nº 15.374 de 19 de maio de 2011, que proíbe a venda e a distribuição de sacolinhas plásticas nos supermercados e centros comerciais da cidade de São Paulo foi suspensa pelo Desembargador Luiz Pantaleão que atendeu o pedido de liminar feito pelo Sindicato da Industria de Material Plástico com o argumento de que “ além de ineficaz a Lei contraria o direito do consumidor de levar os produtos comprados no comércio”. Também o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu manter a liminar dada ao Sindicato após considerar improcedente as alegações expostas no recurso da Prefeitura. A Procuradoria Geral do Município deverá recorrer da decisão no STF.
    Na realidade, de prático, a responsabilidade por este ônus passou dos supermercados para o consumidor final que terá ainda de se virar para embalar e para transportar suas compras tudo em nome de uma pretensa ideia de sustentabilidade, aliás questionável, uma vez que o PEAD (polietileno de alta densidade), matéria prima destas sacolas plásticas, causam menor impacto ambiental que as sacolas feitas com papel, de acordo com estudos recentes ("Life Cycle Assessment of Supermarket Carrier Bags", de Chris Edwards e Meyhoff Jonna Fry).
    Além disso, outras embalagens sugeridas como as caixas de papelão reutilizadas, cuja procedência e uso anterior não podem ser precisados, assim como sacolas de pano retornáveis poderão contaminar os produtos alimentícios embalados.
    Uma outra questão é que, tradicionalmente, as sacolas plásticas tem tido uma outra utilização, desta vez de cunho ecológico, pois são maciçamente utilizadas pelas donas de casa para embalar e destinar o lixo doméstico. A falta destes recipientes terá pois consequências danosas podendo causar um prejuízo ambiental real.
    Finalmente, uma das justificativas alegadas para o banimento das sacolas plásticas é a de que levariam centenas de anos para se degradar no meio ambiente, mais exatamente nos aterros sanitários ou nos lixões.
    Mas o fato é que a disposição de lixo sobre o terreno é uma prática arcaica que está com os dias contados, principalmente nas grandes metrópoles como São Paulo, onde já não existem áreas próximas adequadas para a disposição final destes resíduos.
    A melhor tecnologia de destruição do lixo doméstico são os modernos incineradores acoplados a termelétricas, com dispositivos de controle de emissãoes, similarmente aos utilizados em vários países da Europa. Neste caso, o lixo “enriquecido” com material plástico teria seu poder calorífico elevado propiciando um maior rendimento termodinâmico.
    Ao que parece , o “acordo de cavalheiros” firmado pode ter sido apressado, uma vez que não foi antecedido de um estudo sério de impacto ambiental, parecendo ter sido orientado em direção a aspectos econômicos e de marketing ecológico.Diante disso, espera-se que o STF ao julgar o recurso da Prefeitura de São Paulo leve em conta todos os aspectos técnicos e os impactos ambientais, direta e indiretamente envolvidos.

    ( José Eduardo Cavalcanti)

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