A seca que atingiu a
Bacia Amazônica em 2010 foi tão severa que comprometeu até mesmo a capacidade
da floresta de absorver o excesso de dióxido de carbono (CO2), considerado o
principal gás de efeito estufa. No ano seguinte, com chuva acima da média, a
vegetação conseguiu não apenas absorver toda a emissão oriunda de processos
naturais como também a resultante de atividades humanas, entre elas as
queimadas.
Os dados são de uma
pesquisa financiada pelo Natural Environment Research Council (Nerc), do Reino
Unido, e pela Fapesp (no âmbito do Programa de Pesquisa sobre Mudanças
Climáticas Globais) e foram divulgados na capa da edição de quinta-feira, 6 de
fevereiro, da revista Nature.
“São dois cenários
extremos que mostram como a falta de chuva modifica a dinâmica da floresta e o
balanço de carbono na região. A precipitação pluviométrica, portanto, é um
fator que os cientistas que trabalham com previsão climática terão de levar em
consideração em seus modelos. Caso contrário, os resultados ficarão muito
distantes da realidade”, explica Luciana Vanni Gatti, pesquisadora do Instituto
de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen).
Gatti é autora
principal do estudo ao lado de Emanuel Gloor, da Universidade de Leeds, no
Reino Unido, e de John B. Miller, do National Oceanic and Atmospheric
Administration (Noaa), uma das principais agências científicas norte-americanas
com foco em questões ambientais.
Para chegar a tal
conclusão, o grupo realizou, ao longo de 2010 e 2011, 160 medições aéreas em
quatro locais da Bacia Amazônica: Santarém, Alta Floresta, Rio Branco e
Tabatinga. Em cada perfil de avião foram coletadas 17 amostras de ar
atmosférico em alturas que variavam até 4,4 quilômetros acima do nível do mar.
Incógnita amazônica
Há pelo menos duas
décadas, cientistas de todo o mundo têm se esforçado para entender o balanço de
carbono da Bacia Amazônica e descobrir se a floresta é, de fato, o sumidouro de
carbono que se imagina. “A Amazônia concentra 50% da floresta tropical do
planeta e isso faz muita diferença no balanço global de carbono. É uma
incógnita importante nos modelos climáticos”, contou Gatti.
A floresta
praticamente só absorveu a quantidade de carbono equivalente ao que
naturalmente foi emitido (além de outros processos, desconsiderando a queima de
biomassa) – algo em torno de 30 bilhões de quilos de carbono –, sendo que o
balanço final foi de 480 bilhões de quilos de carbono emitidos para a atmosfera
no ano de 2010.
Embora medições
aéreas ofereçam dados com maior representatividade regional, avaliou a
pesquisadora, é preciso também que o estudo tenha representatividade temporal,
ou seja, tenha longa duração.
“Existe uma
variabilidade muito grande de ano para ano. Se nos baseássemos apenas nas
medições feitas em 2010, que foi um ano completamente anômalo, não teríamos uma
ideia precisa do balanço de carbono da Amazônia. Por isso o projeto continua e
nossa meta é completar dez anos de medições para ter um dado que realmente
represente o balanço de carbono da Bacia Amazônica”, projeta Gatti.
Fonte:
Ecodesenvolvimento.com