O desmatamento deixou de ser a
principal causa de emissão de gases de efeito estufa no Brasil, que passou a
ter como principal fonte de emissão a queima de combustível fóssil, poluindo
"como um país desenvolvido”, segundo avaliação do pesquisador peruano José
Marengo, representante latino-americano no Painel Intergovernamental da ONU
sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Ele é professor de pós-graduação do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foi indicado pelo governo brasileiro
para o programa de monitoramento do clima.
De acordo com o pesquisador, o
inventário de emissão de gases de efeito estufa de 2010, lançado em 2013 pelo
Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, mostra que houve a inversão do
tipo de poluição predominante no Brasil em comparação ao relatório anterior, de
“Desde 2008, talvez um pouquinho
antes, a taxa de desmatamento na Amazônia diminuiu bastante, mas a frota de
veículos aumentou. A agricultura também tem melhorado um pouco, mas ainda
contribui, principalmente [a cultura de arroz], para a emissão de metano, a
mineração contribui, tem as termelétricas. O que basicamente coloca o Brasil
como país poluidor tipo primeiro mundo é mais a queima de combustíveis fósseis,
e aqui no Brasil são basicamente termelétricas, de qualquer tecnologia, e
também a frota veicular”.
Transporte público decente
Para ele, apesar da diminuição no
desmatamento, a situação ainda é preocupante. “Sempre criticamos os países
desenvolvidos por isso [queima de combustível fóssil]. Obviamente, se nós tivéssemos
um sistema de transporte massivo, confiável, confortável, as pessoas deixariam
os carros em casa. Mas se vocês querem tomar o metrô em São Paulo, no Rio, em
uma certa hora do dia, é uma humilhação. Se você vai de bicicleta, te
atropelam. Então, isso tem que mudar, a única forma é favorecer o transporte
público, decente, para que as pessoas deixem o carro em casa”.
Marengo lembra que o IPCC não
trabalha com o tempo geológico, que estuda os grandes ciclos do planeta, e já
provou que houve eras de aquecimento e resfriamento da Terra sem a
interferência humana. As análises são de um período de 200 anos e mostram que
as causas naturais do aquecimento são de longo prazo e levam a variações
pequenas, enquanto a intervenção humana é de curto prazo e tem ação
“superrápida”.
Medidas de mitigação
“A única forma [de evitar um
aquecimento maior] é reduzir a emissão de gases de efeito estufa, diminuindo
por exemplo a frota de veículos, [aumentar as] energias renováveis, solar,
eólica, biomassa, redução no consumo de termelétricas, obviamente não podemos
fechar, zerar a contribuição de gases de queima de combustíveis fósseis, o
ideal é misturar um e colocar outras fontes, obviamente isso pode ter um custo
elevado. Medidas de mitigação são caras”.
Marengo apresentou na
terça-feira, 8 de outubro, um resumo do relatório do Grupo de Trabalho 1 do
IPCC, lançado no fim de setembro em Estocolmo, na Suécia, com as análises dos
aspectos físicos e científicos dos sistemas e das mudanças climáticas.
O Grupo de Trabalho 2 faz a
análise sócio econômica dos impactos das mudanças climáticas e tem previsão de
lançar o relatório em março de 2014 em Yokohama, no Japão. O Grupo 3 vai
apresentar os resultados dos estudos sobre mitigação e opções para redução da
emissão dos gases de efeito estufa em abril de 2014, em Berlim, na Alemanha.
Além dos três relatórios
setoriais, também está previsto o lançamento do relatório de síntese em outubro
de 2014 em Copenhague, na Dinamarca. Este é o quinto relatório produzido pelo grupo,
criado pela Organização das Nações Unidas.