O mergulhador trabalha nessa função há 30 anos
Foto: Ronaldo Schemidt/AFP
Há cerca de 30 anos o mergulhador Julio César ganha a vida
em meio aos resíduos produzidos pelos mais de 20 milhões de habitantes da
Cidade do México. Em meio a ratos, fezes e preservativos que encontra no meio
do caminho, o profissional reconhece a dureza de seu trabalho - prova disso é
que desde que o cargo foi criado, em 1980, ele é o único que se manteve no
posto.
Vestido de roupa de neoprene e com seu escafandro na mão, o
mergulhador contou à AFP que a função no cargo é, sobretudo, preventiva. César
desce as tubulações, canos e usinas de bombeamento descongestionando
manualmente os resíduos que impedem a água de circular. A prática acelera o
trabalho que uma máquina levaria aproximadamente 15 dias para fazer.
"Aqui achamos tudo o que você imaginar, de uma sacola
de celofane até partes de carros. Às vezes, inclusive, estamos trabalhando e
chega um corpo boiando", comentou o mergulhador, que trabalha sem enxergar
um palmo a sua frente. "Quando entramos, com 10 centímetros a visibilidade
já é nula", explicou.
Condições de trabalho
Devido as impurezas encontradas no caminho, César não pode
utilizar cilindro de oxigênio. Para respirar ele utiliza uma espécia de cordão
umbilical, ligado ao exterior dos locais em que trabalha. O mergulhador é
monitorado a todo o tempo por três colegas - a comunicação é estabelecida
através de um sistema de microfones e fones instalado em seu escafandro.
"Uma gota d'água que chegue a nos tocar é uma infecção
certa para nós", admitiu o profissional ao falar sobre os pregos, vidros e
seringas que correm pelas águas contaminadas da Cidade do México, e que
representam um verdadeiro risco para a sua saúde.
"Minha mulher diz que trabalho por amor à arte, mas
gosto muito do meu trabalho, é minha paixão. O que me motiva, acho, é a emoção,
porque eu nunca sei o que vou encontrar lá embaixo", revelou. Além de ser
um emprego arriscado, o salário não é dos mais atraentes.
Mas pra que um mergulhador de esgoto?
A Cidade do México é apenas um caso de metrópole que une
diferentes fatores que congestionam a drenagem dos canos urbanos e tornam
necessários o trabalho do mergulhador. A população da metrópole mexicana
corresponde a terceira área urbana mais populosa do mundo, depois de Tóquio
(Japão) e Nova Deli (Índia), segundo a ONU. Além disso, sua construção é
considerada inadequada, pelo fato de ter sido feita sobre um lago e a cultura
da reciclagem é mínima, o que faz com que os mexicanos joguem lixo nas ruas e rios,
provocando inundações.
"A função do mergulhador ainda vai ter que existir um
tempo mais e vai se reduzir à medida que a população aprenda a descartar seu
lixo e não deixá-lo na rua, indo parar na rede de drenagem", defendeu
Sergio Palacios Mayorga, pesquisador do instituto de Geologia da Universidade
Nacional Autônoma do México (Unam). César, que tem 53 anos, afirmou que
continuará o trabalho enquanto for necessário.
Fonte: EcoDesenvolvimento