Dois estudos desenvolvidos pela ABES-SP, em parceria com a
ABES nacional e a GO Associados, foram apresentados nesta segunda-feira, dia
16, o primeiro dia de painéis do 27º Congresso Brasileiro de Engenharia
Sanitária, promovido em Goiânia até o dia 19. O evento reúne cerca de cinco mil
pessoas, entre gestores públicos, técnicos, engenheiros e profissionais ligados
às áreas do saneamento e do meio ambiente. Com auditórios lotados,
especialistas do Brasil e exterior abordaram os temas Investimentos em
Saneamento e Perdas de Água. As
discussões do Congresso darão origem à “Carta de Goiânia”, documento que será
encaminhado pela ABES ao Governo Federal.
No primeiro painel, sobre investimentos, a ABES ressaltou,
através do estudo “Entraves ao Investimento em Saneamento” que, além de além de
escasso, o investimento em saneamento é pouco eficiente. Um indicador
representativo dessa baixa eficiência é o índice de perdas de água médio
brasileiro, calculado em 37,4% pelo SNIS, número provavelmente
subestimado. Outro aspecto preocupante é
o baixo investimento em pesquisa e desenvolvimento, cuja consequência é a
utilização de tecnologias ultrapassadas e menos eficientes do ponto de vista
operacional.
Segundo o estudo, a universalização do saneamento no Brasil
exige ações em duas frentes. A primeira é aumentar o patamar de investimentos,
que se encontra em níveis muito baixos. A segunda é aumentar a eficiência do
investimento, diminuindo o custo do incremento marginal de capacidade de
atendimento em água e esgoto.
A mesa foi coordenada por Luiz Otávio Mota Pereira, com
participação de José Carlos de Sousa e Castro, vice-presidente regional da
Regional São Paulo do Sindicato Nacional da Arquitetura e da Engenharia, Gesner
de Oliveira, da GO Associados, Valdir Folgosi, Presidente da SINDESAM-ABIMAQ,
Alceu Guérios Bittencout, presidente da ABES-SP, e Luiz Roberto Gravina
Pladevall, presidente da APECS e membro da diretoria da ABES-SP.
Na apresentação do segundo estudo da ABES, perdas de água, o
debate ressaltou como o cenário brasileiro de perdas de água no setor de
saneamento é bastante problemático. A média brasileira de perdas de água é de
aproximadamente 40% (incluindo perdas reais e aparentes), mas em algumas
empresas de saneamento essas perdas superam 60%. O elevado índice de perdas de
água reduz o faturamento das empresas e, consequentemente, sua capacidade de
investir e obter financiamentos. Outra preocupação é que as perdas geram danos
ao meio ambiente na medida em que obrigam as empresas de saneamento a buscarem
novos mananciais. Cases de sucesso no controle de perdas foram apresentados
pela Sabesp, de São Paulo, e pela EPAL, de Portugal.
O debate foi coordenado por Hélio Padula, da ABES-SP, com
participação de Luiz Roberto Gravina
Pladevall, presidente da APECS e membro da diretoria da ABES-SP, Marcel da
Costa Siqueira, da Eletrobras, Fernando Lourenço de Oliveira, da Sabesp,
Francisco Serranito, da EPAL, Heber Pimentel Gomes, da Universidade Federal da
Paraíba, e Alexandre Gomes de Souza, da
Saneago.
Nesta terça-feira, será apresentado no Congresso o terceiro
estudo da ABES, “Soluções Ambientais: oportunidades na gestão de água, esgoto,
drenagem e resíduos sólidos”.
Para conhecer os estudos , acesse http://www.abes-sp.org.br/boletim/71-geral/6005-perdas-de-agua-entraves-aos-investimentos-em-saneamento-e-solucoes-ambientais-com-enfase-em-residuos-solidos
Para colaborar com o estudo sobre investimentos, escreva
para entraves_contribuicoes@abes-sp.org.br
Para colaborar com o estudo sobre perdas, escreva para
perdas_contribuicoes@abes-sp.org.br
Debates propositivos
O presidente da ABES nacional, Dante Ragazzi Pauli,
ressaltou nesta segunda, no talk show de abertura do Congresso, o principal
objetivo desta edição: realizar debates propositivos que darão origem à “Carta
de Goiânia”, documento a ser apresentado ao Governo Federal.
Apresentado pelo jornalista Washington Novaes, o talk show
teve as participações do governador de Goiás, Marconi Perillo, de Pedro Wilson
Guimarães, diretor de Gestão Ambiental da AMMA/GO, Ernani Ciriaco,
representante do Ministério das Cidades, Zilda Maria Faria Veloso, diretora de
Ambiente Urbano da Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente, do
Ministério do Meio Ambiente, Vicente Andreu Guillo, presidente da ANA, Rogério
de Paula Tavares, diretor executivo de Saneamento e Infraestrutura da Caixa Econômica
Federal, e Leonardo Moura Vilela, secretário de Meio Ambiente e de Recursos
Hídricos de Goiás.
Para Dante Ragazzi Pauli, o Congresso demonstra que há uma
verdadeira vontade dos profissionais de saneamento ambiental de reverter a
situação de desigualdade verificada no Brasil. “Mas precisamos transformar
desejos em ações e, a partir de um evento tão grandioso como este Congresso,
ter as respostas adequadas, definitivas e sustentáveis que o setor reclama”,
declarou.
O presidente da ABES-SP, Alceu Guérios Bittencourt, destacou
a participação de quase cinco mil pessoas no Congresso. “As salas estão
lotadas, com alto nível dos debates, o que deve produzir conclusões
importantes.”
Experiências europeias são apresentadas durante discussão
sobre regulação de tarifas de saneamento
Qual o modelo ideal para o cálculo das tarifas cobradas pelo
setor de saneamento nos países europeus? É possível as empresas brasileiras
aplicar os modelos utilizados por países como Inglaterra, Espanha, Portugal e
País de Gales? Para o professor doutor Rui Cunha Marques do Instituto Superior
Técnico da Universidade Técnica de Lisboa, Portugal, a resposta é sim. E
diversos fatores internos e externos influenciam neste cálculo. A doutora
Paulina Beato, representante da REPSOL, da Espanha, também abordou as
experiências europeias, mas sob uma outra ótica, a dos conceitos da regulação
econômica em uma concessionária, os desafios e as lições e exemplos de alguns
países do velho mundo. A discussão fez parte do painel “Estado da arte da regulação
econômica: aspectos conceituais e práticos”, realizado no auditório Lago Azul
do Centro de Cultura e Convenções de Goiânia, durante o 27º Congresso
Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental.
“É preciso adequar os diversos modelos existentes às
realidades locais. Acho preferível utilizar o modelo simples, com análises
robustas e variações consistentes, do que modelos complexos que muitas vezes
acabam fazendo análises superficiais. O modelo inglês é o ideal”, disse o
professor doutor Rui Cunha Marques. Segundo o professor da Universidade Técnica
de Lisboa o modelo inglês garante dados mais reais e ressaltou os diversos
aspectos que influenciam no cálculo das tarifas cobradas. “A eficiência, por
exemplo, é influenciada por um conjunto de fatores explanatórios não
controlados pelos gerentes das prestadoras, tais como estrutura de mercado,
fatores históricos, sociais, ambientais, regulatórios e locais”, explicou.
Outro ponto ressaltado durante o painel do início da tarde
desta segunda-feira, dia 16, são os problemas enfrentados no cálculo do preço.
Para o professor doutor Rui Marques, é preciso ficar atento às comparações
entre o teto do preço aplicado com a taxa de retorno, com especial atenção à
qualidade doi serviço prestado, um problema comum a todas operadoras de
saneamento, seja no Brasil ou na Europa.