Até que ponto nós realmente
"precisaremos" de combustíveis fósseis nos próximos anos?
Em 2011, 13 países obtinham mais
de 30% da sua eletricidade de fontes renováveis, segundo a Agência
Internacional de Energia. Muitos deles têm metas ainda mais ambiciosas.
Robert Samuel Hanson/The New York Times |
Engenheiros da Universidade
Stanford, na Califórnia, publicaram em março uma proposta mostrando como o
Estado de Nova York poderia facilmente produzir, a partir de 2030, toda a sua
eletricidade a partir do vento, do sol e da água. Haveria tanto potencial
energético que as fontes renováveis poderiam também abastecer os carros do
Estado.
"É absolutamente inverídico
que precisemos de gás natural, carvão ou petróleo -achamos que isso é um
mito", disse Mark Jacobson, professor de engenharia civil e ambiental e
principal autor do estudo.
"Do ponto de vista técnico e
econômico, você poderia abastecer os EUA com energias renováveis. Os maiores
obstáculos são sociais e políticos -o que é necessário é a vontade de fazer
isso."
Dos países que mais usam a
eletricidade renovável, alguns, como a Noruega, dependem daquela velha energia
renovável, a hidrelétrica. Mas outros, como Dinamarca, Portugal e Alemanha, já
criaram incentivos financeiros para promover tecnologias mais novas, como a
solar e a eólica.
O Canadá produziu, em 2011, 63,4%
da sua eletricidade de fontes renováveis -em grande parte a hidrelétrica, mas
também um pouco da eólica.
Mas Fatih Birol, economista-chefe
da Agência Internacional de Energia, disse que, embora reduzir o uso de
combustíveis fósseis seja crucial para conter a elevação das temperaturas
globais, melhorar a eficiência energética de lares, veículos e indústrias seria
uma estratégia mais fácil em curto prazo.
Ele alertou que uma expansão
rápida da energia renovável pode ser complicada e custosa. Seu uso em grandes
quantidades geralmente exige modificações nas redes elétricas nacionais. Além
disso, a energia renovável ainda é, em geral, mais cara que os combustíveis
fósseis.
Aliás, muitos países europeus que
se destacam na adoção de energias renováveis têm poucos combustíveis fósseis de
produção própria, então seus custos elétricos já eram elevados. Outros possuem
fortes movimentos ambientalistas que tornaram politicamente aceitável a elevação
de custos.
Quando digo a colegas que
Portugal atualmente obtém 40% da sua eletricidade de fontes renováveis, a
resposta padrão é: "Venta muito em Portugal". Mas em muitos lugares
nos EUA e em outros países também venta.
Quando voltei de Kristianstad, na
Suécia, e falei deslumbrada sobre como essa cidade usa os resíduos de fazendas,
florestas e fábricas alimentícias para produzir o biogás responsável por 100%
da sua calefação, a reação foi também de incredulidade.
Mas eu me atreveria a dizer que
um plano similar funcionaria bem em Milwaukee (no Wisconsin) ou Burlington (em
Vermont), cidades que também ancoram áreas rurais.
Mas até a Europa está tendo um
pouco de dificuldades com suas ambições renováveis. A Alemanha, que obteve
20,7% da sua eletricidade de fontes renováveis em 2011, está reavaliando os
incentivos que oferece com vistas a alcançar 35% até 2020, devido a
preocupações com o encarecimento da energia numa época de incerteza econômica.
O país tem tido problemas para aumentar sua capacidade de transmissão e dar
conta de levar a energia eólica gerada no tempestuoso norte para o industrial
sul.
Birol disse que o gás natural e a
energia renovável podem acabar formando "um belo casal". Mas em que
proporção? Se, dentro de 20 anos, os carros forem 50% mais eficientes e grande
parte da nossa eletricidade for eólica e solar, deveríamos ser mais comedidos
em fazer investimentos em combustíveis fósseis?
Vale a pena ponderar até que
ponto realmente "precisamos" de combustíveis fósseis.
Fonte: Folha de São Paulo