(Imagem: Facebook SPFW)
Na última sexta-feira, chegou ao final a edição de verão da
São Paulo Fashion Week, evento que reuniu marcas, modelos, estilistas e amantes
da moda durante cinco dias. Em meio a desfiles, corpos, novas tendências,
algumas polêmicas e agito, uma notícia ganhou destaque: fiscais do Ministério
Público do Trabalho e da Receita Federal encontraram 29 bolivianos que
trabalhavam em regime de escravidão em uma oficina clandestina na zona leste de
São Paulo.
Eles trabalhavam mais de 12 horas por dia, de segunda a sábado,
e recebiam R$ 4 por cada peça de roupa – as mesmas que enfeitam vitrines de
lojas conhecidas como Cori, Emme e Luigi Bertolli, pertencentes à empresa GEP,
e são vendidas a preços muito mais ”salgados”.
O grupo GEP afirmou que desconhecia as condições de trabalho
dos bolivianos, funcionários de uma empresa terceirizada.
Na repercussão noticiada na mídia, as opiniões de
consumidores e pessoas ligadas ao mundo da moda não são unânimes. De um lado,
há os que dizem que deixariam de consumir produtos de marcas ligadas ao
trabalho escravo. De outro, aqueles que acham que não faz diferença consumir
tais produtos. O pensamento no melhor estilo “uma blusinha só não tem
problema”.
Não é de hoje que renomadas marcas do mundo da moda se
envolvem em escândalos desse tipo. Em 2011, a fiscalização trabalhista flagrou
trabalhadores submetidos a condições de trabalho análogas à escravidão na linha
de produção de peças da marca Zara.
Em reportagem da ONG Repórter Brasil, a auditora fiscal
Giuliana Cassiano Orlandi comentou sobre como a escravidão pode estar próxima a
pessoas comuns. “Mesmo um produto de qualidade, comprado no shopping center,
pode ter sido feito por trabalhadores vítimas de trabalho escravo”. Para ela, a
superexploração dos empregados, que têm seus direitos laborais e
previdenciários negados, é motivada essencialmente pelo aumento das margens de
lucro. Sempre ele…
O impacto ambiental
Do outro lado do mundo, eventos recentes de moda em Paris e
Milão destacaram temas ambientais.
Na Semana de Moda de Paris, a estilista britânica Stella
McCartney apresentou nas passarelas uma coleção com materiais biodegradáveis.
Peles e couros deram lugar a casacos e vestidos feitos a partir de lã e algodão
orgânicos.
Já na cidade italiana, a ação ficou por conta do Greenpeace:
uma passarela vertical foi levantada na fachada do Castelo Sforzesco, um dos
cenários-sede do evento. Uma “ativista-modelo” mandou o recado às grandes
marcas internacionais: é preciso adotar políticas sustentáveis na produção de
suas coleções.
Segundo o Greenpeace, a indústria têxtil é uma das
principais fontes de poluição da água em países como China e México. Por trás
do glamour, as cadeias de produção utilizam produtos químicos que poluem as
águas e couro proveniente de áreas desmatadas na Amazônia. “Exigimos das
grandes marcas que se envolvam na tendência de mercado que está mais em voga
atualmente: roupas bonitas e desvinculadas da destruição das florestas ou da poluição
tóxica de nossos recursos hídricos”, diz o Greenpeace.
A ação faz parte da campanha Duelo da Moda, um ranking que
propõe uma disputa entre as marcas por uma produção mais sustentável. A grife
italiana Valentino lidera a lista, já que se comprometeu a eliminar todos os
lançamentos de produtos químicos tóxicos e a adotar o desmatamento zero em toda
a sua cadeia de fornecimento.
Marcas famosas como Prada, Chanel, Hermès e Dolce &
Gabbana aparecem no final da lista por falta de ações e posicionamento.
Consumir melhor
Mais do que ditar tendências, a moda reflete a forma como
consumimos e nos enxergamos. Como qualquer outra indústria, está submetida às
lógicas de mercado e esconde bastidores ignorados pela maioria.
Marcas importantes que se valem de trabalho escravo,
utilizam produtos químicos tóxicos, poluem e desmatam são as mesmas que, nos
manequins, expõem nosso estilo de vestir – uma forma essencial e encantadora de
nos comunicarmos com o mundo por meio da imagem.
Se a decisão sobre como consumir é a principal arma de quem
faz a roda girar – os consumidores – que seja feita de forma consciente, sem
banalizar o sentido da verdadeira consciência que nos torna mais humanos.
Isso serve para tudo: de comida a objetos eletrônicos, de
informação a roupas e sapatos. Ser consumidor, no sentido mais pleno do verbo
“ser”, é tomar para si a responsabilidade de decidir. Não importa se,
aparentemente, “não faz diferença”. A diferença, afinal, tem que fazer sentido
para a vida de cada um.
E você, o que acha? É possível pensar em um mercado
sustentável para a moda? Evita consumir produtos de marcas “irresponsáveis”
social e ambientalmente?
Fonte: Super Interessante