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por Dal Marcondes
Ananideua, um município próximo a Belém, tão próximo que
parece um bairro, registrou em 2011 o alarmante número de 904 internações por
diarreia para cada 100 mil habitantes. Em 2012 a cidade conseguiu bater seu
recorde entre os 100 maiores municípios brasileiros e marcou 1210 pessoas
internadas com doenças causadoras de diarreias. Na outra ponta, das menores
ocorrências de doenças com diarreia, ficou em 2011 a cidade paulista de
Taubaté, com 1,4 internação para cada 100 mil habitantes. O caso de Ananideua chama
a atenção porque o município que vem logo em seguida, Belford Roxo (RJ),
registrou em 2011 menos da metade dos casos, 399,4 internações para cada 100
mil habitantes. Esses dados foram levantados pela organização não governamental
Instituto Trata Brasil, que monitora o saneamento básico no Brasil.
Dados da Organização Mundial de Saúde apontam que 88% das
mortes por diarreia no mundo são causadas pelo saneamento inadequado, enquanto
a Unicef demonstra que essa é a segunda maior causa de mortes entre crianças de
0 a 5 anos e se estima que a cada ano 1,5 milhão de crianças nessa idade morram
a cada ano em todo o mundo vítimas de doenças diarreicas. O estudo realizado
pelo Instituto Trata Brasil, divulgado no final de fevereiro, procura, através
de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), medir o impacto sobre a saúde da
população exposta ao saneamento básico inadequado nos 100 maiores municípios
brasileiros. O estudo levantou dados de 2008 a 2011, em alguns casos 2012, e
demonstrou que em quase metade dos municípios (49%) existe apenas uma oscilação
nos números de internações, sem apresentar nenhuma tendência clara de melhora
no indicador. Em 2011, 396.048 pessoas deram entrada no SUS com doenças
diarreicas, enquanto 54.399 vivem nos 100 maiores municípios do país.
De todas as internações, cerca de metade são crianças de 0 a
5 anos, justamente a faixa etária mais fragilizada pela falta de saneamento
básico, sendo que em algumas cidades essa taxa chega a mais de 70% como é o
caso de Duque de Caxias (RJ), Juazeiro do Norte (CE), Macapá (AP), Feira de
Santana (BA), Belém (PA), Porto Velho (RO) e Manaus (AM).
Dados de 2011 apontam que os gastos do SUS com internações
por diarreia foram de R$ 140 milhões e os municípios que mais gastaram foram
justamente aqueles com piores indicadores de saúde e de saneamento básico.
Enquanto Ananideua o gasto total por 100 mil habitantes foi de R$ 314.459,00,
na cidade de Taubaté o gasto foi R$ 721,00 para a mesma população.
Dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento (SNIS)
mostram que são poucas as cidades, entre as 100 maiores do país, que podem
ostentar a marca de 100% de seus esgotos coletados (o que não significa
tratados), são elas Santos, Piracicaba, Jundiaí e Franca, no estado de São
Paulo, e a capital mineira, Belo Horizonte.
Esses números reforçam a urgência de aplicação dos recursos
previstos para saneamento básico em todo o Brasil. Existem políticas e planos
nacionais para a gestão de recursos hídricos e saneamento, sem, no entanto,
haver um esforço concentrado na aplicação em obras que possam reverter este
quadro de desastre vivido pela população, principalmente das áreas mais pobres
do país.
Às vésperas de mais um Dia Mundial da Água, que é comemorado
em 22 de março, o Brasil pouco tem a comemorar. Nas grandes cidades a questão
do abastecimento de água é cada vez mais complexa, com as empresas de água
tendo de buscar o recurso em mananciais cada vez mais distantes, justamente
pela falta do saneamento e do tratamento de esgotos, que coloca os rios das
regiões mais habitadas entre os mais poluídos do mundo.
É hora de se entender que a água limpa e o saneamento básico
são indicadores de desenvolvimento muito mais importantes do que o Produto
Interno Bruto.
Leia aqui a íntegra do relatório do Instituto Trata Brasil.
* Dal Marcondes é
jornalista, diretor da Envolverde, passou por diversas redações da grande mídia
paulista, como Agência Estado, Gazeta Mercantil, revistas IstoÉ e Exame. Desde
1998 dedica-se à cobertura de temas relacionados ao meio ambiente, educação,
desenvolvimento sustentável e responsabilidade socioambiental empresarial.
Fonte: Envolverde