Estudo aponta que presença de cobertura florestal e recuperação das
florestas já existentes pode contribuir para a manutenção da qualidade de águas
superficiais e também para aumentar sua proteção
A presença de cobertura florestal é essencial para a
manutenção da qualidade da água dos corpos d’água em regiões com atividade
agrícola e pecuária. Ao mesmo tempo, a recuperação e o enriquecimento das
florestas já existentes pode proporcionar uma resposta mais rápida para a
proteção das águas superficiais. As constatações são de uma pesquisa da
engenheira Carla Cristina Cassiano realizada no LCF - Departamento de Ciências
Florestais da Esalq - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz USP, em
Piracicaba.
O estudo foi dividido em duas partes. A primeira buscou
avaliar as condições da vegetação florestal na área de estudo e o seu potencial
na prestação de serviços, e a segunda parte mensurou o efeito desta vegetação
em parâmetros físico-químicos da água. "As unidades de estudo foram
definidas na bacia do rio Corumbataí (interior de São Paulo), a partir do
mapeamento do uso do solo do ano de 2000 pelo método de amostragem adaptativa,
onde as unidades deveriam apresentar um mínimo de 70% de matriz e 10% de cobertura
florestal", explica Carla. "Foram selecionadas seis unidades de 16
quilômetros quadrados (km2), três unidades com matriz de pasto e três unidades
com matriz de cana-de-açúcar".
Com as unidades definidas foram realizados os mapeamentos
por fotointerpretação para cinco datas (1962, 1978,1995, 2000 e 2008) e, a
partir disso, foi possível calcular as mudanças do uso do solo e índices para
os fragmentos florestais que identificaram sua trajetória. "A pesquisa
propôs uma metodologia para caracterizar o potencial de proteção dos recursos
hídricos pelas florestas a partir da estrutura e dinâmica da paisagem,
permitindo a diferenciação da vegetação florestal de acordo com o seu histórico,
localização e características do terreno", aponta o professor Silvio
Frosini de Barros Ferraz, que orientou a pesquisa.
VEGETAÇÃO FLORESTAL
Segundo a autora do trabalho, os resultados mostraram que a
vegetação florestal na área de estudo tem aumentado nos últimos anos, dando
indícios ao inicio de uma fase de regeneração, conhecida como a segunda fase da
transição florestal, porém apenas estudos futuros poderão confirmar essa
análise. "No entanto, a paisagem apresentou uma baixa cobertura florestal,
de aproximadamente 16% da área de estudo, com muitos fragmentos pequenos,
geralmente próximos a cursos d’água de primeira ordem. Das florestas
existentes, apenas um terço estaria exercendo seu potencial pleno de
conservação das águas", conta.
De acordo com o orientador do estudo, quando pensamos em
aumentar a proteção dos recursos hídricos pela vegetação florestal é
interessante se atentar para a recuperação dos fragmentos florestais já
presentes na paisagem. "Muitas vezes é dada uma importância maior ao plantio
de novas áreas, do que ao enriquecimento das já existentes. Plantios novos
levarão mais tempo para se estabelecer e se desenvolver enquanto a recuperação
dos fragmentos poderá apresentar uma resposta mais rápida para o aumento e a
permanência dessa vegetação florestal na paisagem e consequentemente para
oferta de serviços ecossistêmicos", conclui Ferraz.
A conversão de florestas em usos antrópicos tende a reduzir
a qualidade da água, devido ao aporte de nutrientes e sedimentos provenientes
da movimentação e manejo do solo. "As florestas se apresentam como a
melhor cobertura do solo para a manutenção da qualidade natural das águas
superficiais, proporcionando serviços ecossistêmicos de regulação e provisão
desse recurso", aponta Carla. Em contrapartida, segundo a pesquisadora,
"a presença de vegetação florestal na área ripária pode reduzir esses
efeitos, através da prestação de alguns serviços de proteção dos corpos
d’água".
Com o objetivo de detectar a influência da mata ciliar na
composição físico-química da água em microbacias agrícolas, a engenheira
florestal desenvolveu, no programa de Pós-graduação em Recursos Florestais da
Esalq um trabalho de avaliação da cobertura florestal sua relação com os
recursos hídricos. A proposta está inserida no projeto "Avaliação
multi-escala de impactos ambientais em paisagem fragmentada agrícola"
coordenado pela professora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, do
LCF, que busca avaliar os impactos na fauna, na flora e na água resultantes da
ocupação e uso do solo na área rural. O professor Silvio Frosini de Barros
Ferraz, também do LCF, orientou a pesquisa, que teve apoio da Fapesp - Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Fonte: Planeta Sustentável