Nos passeios tradicionais de
mergulho, a principal atração é a variedade de peixes. Porém, um projeto para
visitantes do Parque Estadual da Ilha Anchieta, em Ubatuba (SP), oferece
trilhas subaquáticas gratuitas onde o foco são lições sobre o ecossistema que
permite essa biodiversidade e a importância da conservação no ambiente marinho.
No percurso de 150 metros por
baixo d'água com cilindro de oxigênio, o visitante é acompanhado por um
mergulhador profissional que sinaliza pontos de interesse como o fundo arenoso,
os diverso tons de algas e os micro-organismos que compõem o ambiente. As
explicações são dadas antes e depois do passeio.
A ação é parte do curso Educação
Ambiental em Unidades de Conservação Marinha, criado pelo Instituto de
Biociências da Universidade de São Paulo (USP) em parceria com a ONG Ecosteiros
- a 12.ª edição do projeto entra hoje em sua última semana. As trilhas, indicadas
para leigos tanto em mergulho como em conservação marítima, ocorrem próximas ao
costão rochoso da Ilha Anchieta, um antigo presídio transformado em parque
estadual na década de 1970.
"Aqui falamos sobre como as
mudanças climáticas poderiam afetar as cerca de 50 espécies de algas da região,
por exemplo. É algo que as operadoras de turismo nem cogitam explorar",
diz o biólogo Kauê Senger, de 25 anos, que há sete verões participa como
voluntário.
Em 2007, quando cursava Biologia
na USP, Senger participou como voluntário do curso, precedido por um módulo
teórico. Desde então, atua como monitor e hoje é um dos dive masters (guias de
mergulho). "Aqui a pessoa recebe orientações, mas jamais poderia mergulhar
sozinha. É um mergulho de até 3 metros, bem simples", explica.
Os peixes também fazem parte da
paisagem. O costão rochoso da ilha fica a poucos quilômetros do continente,
mas, por conta da conservação, há espécies de até 40 centímetros que não
existem mais por lá.
A trilha subaquática é a
principal atração do projeto, que ainda oferece um passeio de natação em grupo
de quatro pessoas, conduzidas por uma pequena balsa de apoio, com paradas nos
pontos de treinamento e de interpretação ambiental. Para quem não quiser se
aventurar na água, há a opção de uma trilha "virtual": uma sequência
de painéis que reproduzem as atividades realizadas no mar.
Pesquisa. Em paralelo ao curso,
que ocorre sempre em janeiro, o Instituto de Biociências estuda os organismos
fixados no fundo rochoso. "Mantemos uma estação de monitoramento de longo
prazo, que deverá ter continuidade pelas novas gerações, visando à detecção
prematura de eventuais alterações causadas pelas mudanças climáticas
globais", explica o professor Flavio Berchez, que coordena o projeto. Ele
afirma que usou como referência trilhas semelhantes surgidas na Europa a partir
da década de 1970. "Mas a estrutura desse projeto é única e possui maior
complexidade e grau de estruturação, com seus diferentes modelos."
Fonte: Estadão.com