terça-feira, 9 de outubro de 2012

Governo do Tocantins retira apoio a projeto de safári africano no Jalapão


Esta poderia fazer parte de uma série das “ideias verdes maquiadas” – aquelas que aludem à preservação ambiental, mas não têm nada de sustentáveis. A proposta do chamado Out of Africa Brasil (OOAB) é transportar animais da África para o Brasil e criar um safári no Jalapão, região turística do Tocantins.


O projeto é encabeçado pela Conservação de Animais Silvestres e Proteção do Meio Ambiente S.A, empresa recém-criada em Palmas/TO, e considerado “ousado e arrojado em todos os aspectos”, de acordo com um vídeo promocional que tem provocado polêmica desde que vazou na internet (assista abaixo).

O material traz algumas pérolas do tipo: “agora já podemos sentir o coração da África no Tocantins” e “o conceito de safári já não pertence mais somente à África, é um tesouro mundial”.

A proposta do Out of Africa Brasil é acomodar em uma área de 100 mil hectares de Cerrado 400 animais (dentre eles os chamados cinco “grandes”: elefante, rinoceronte, leopardo, búfalo e leão) trazidos de regiões da savana africana.

Em entrevista ao Estadão, Nicolau Esteves, presidente do OOAB, diz que o projeto não é fazer um parque, onde os animais são alimentados. “Ali não. Vai ser a cadeia natural mesmo. O leão come a zebra, a hiena come a carcaça. A cadeia natural está sendo muito estudada”. E completa: “Eles são um pouco mais inteligentes que a gente, né? Eles não se autoexterminam igual a gente. Eles são muito educados, caçam só para se alimentar e não passa disso”.


Uma apresentação divulgada em reportagem do site ((o))eco mostra que empresas como Shell, Mobil, Toyota e Engel patrocinam a ideia, que tem investimento previsto de R$350 milhões. Nela, a criação do safári é tratada como “um empreendimento mundial sem precedentes”. Ou seja, retirar animais de seu habitat natural e alterar a fauna local virou empreendimento, que traz “retorno financeiro para os empreendedores”, como reforça o vídeo.

Mas não para por aí: o objetivo final é fazer desse ambiente artificialmente construído um reduto de turismo de luxo, com a construção de um complexo hoteleiro com três resorts próximos à área do safári, para que os turistas possam aproveitar a vista nacional como se estivessem na África. São hotéis com diárias que variam de R$700 a R$1.000 por pessoa, anunciados como referência em serviço e gastronomia para proporcionar aos hóspedes “um convívio de perto com a vida selvagem”.

A repercussão

A ideia de chamar a atenção de forma positiva para a “intenção” de preservar o meio ambiente teve efeito contrário. A Associação Tocantinense de Biólogos (Atobio) elaborou um abaixo-assinado contra o safári (que tem pouco mais de 2 mil assinaturas até agora) e o governo do Estado retirou o apoio ao projeto.

A nota foi publicada na semana passada e diz: “Apenas pela rejeição provocada nos meios ambientais federais e pela própria sociedade, o Governo não vê viabilidade na implementação do referido projeto como ele foi aventado. Tendo em vista a participação de empreendedores internacionais, o governo espera que os mesmos mantenham sua disposição em investir no Tocantins, desde que em projetos viáveis e em consonância com a sustentabilidade e respeito ao meio ambiente”.

Essa é a boa notícia da história. Mesmo assim, é essencial continuar contestando ideias malucas insustentáveis como esta. Para preservar, é mais importante deixar os animais africanos na África e elaborar projetos locais de turismo sustentável, que privilegiem a educação ambiental e preservação da fauna brasileira, sem tratar a natureza como negócio. 

Fonte: Superinteressante 
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