Esta poderia fazer parte de uma
série das “ideias verdes maquiadas” – aquelas que aludem à preservação
ambiental, mas não têm nada de sustentáveis. A proposta do chamado Out of
Africa Brasil (OOAB) é transportar animais da África para o Brasil e criar um
safári no Jalapão, região turística do Tocantins.
O projeto é encabeçado pela
Conservação de Animais Silvestres e Proteção do Meio Ambiente S.A, empresa
recém-criada em Palmas/TO, e considerado “ousado e arrojado em todos os
aspectos”, de acordo com um vídeo promocional que tem provocado polêmica desde
que vazou na internet (assista abaixo).
O material traz algumas pérolas
do tipo: “agora já podemos sentir o coração da África no Tocantins” e “o
conceito de safári já não pertence mais somente à África, é um tesouro
mundial”.
A proposta do Out of Africa
Brasil é acomodar em uma área de 100 mil hectares de Cerrado 400 animais
(dentre eles os chamados cinco “grandes”: elefante, rinoceronte, leopardo,
búfalo e leão) trazidos de regiões da savana africana.
Em entrevista ao Estadão, Nicolau
Esteves, presidente do OOAB, diz que o projeto não é fazer um parque, onde os
animais são alimentados. “Ali não. Vai ser a cadeia natural mesmo. O leão come
a zebra, a hiena come a carcaça. A cadeia natural está sendo muito estudada”. E
completa: “Eles são um pouco mais inteligentes que a gente, né? Eles não se
autoexterminam igual a gente. Eles são muito educados, caçam só para se
alimentar e não passa disso”.
Uma apresentação divulgada em
reportagem do site ((o))eco mostra que empresas como Shell, Mobil, Toyota e
Engel patrocinam a ideia, que tem investimento previsto de R$350 milhões. Nela,
a criação do safári é tratada como “um empreendimento mundial sem precedentes”.
Ou seja, retirar animais de seu habitat natural e alterar a fauna local virou
empreendimento, que traz “retorno financeiro para os empreendedores”, como
reforça o vídeo.
Mas não para por aí: o objetivo
final é fazer desse ambiente artificialmente construído um reduto de turismo de
luxo, com a construção de um complexo hoteleiro com três resorts próximos à
área do safári, para que os turistas possam aproveitar a vista nacional como se
estivessem na África. São hotéis com diárias que variam de R$700 a R$1.000 por
pessoa, anunciados como referência em serviço e gastronomia para proporcionar
aos hóspedes “um convívio de perto com a vida selvagem”.
A repercussão
A ideia de chamar a atenção de
forma positiva para a “intenção” de preservar o meio ambiente teve efeito
contrário. A Associação Tocantinense de Biólogos (Atobio) elaborou um
abaixo-assinado contra o safári (que tem pouco mais de 2 mil assinaturas até agora)
e o governo do Estado retirou o apoio ao projeto.
A nota foi publicada na semana
passada e diz: “Apenas pela rejeição provocada nos meios ambientais federais e
pela própria sociedade, o Governo não vê viabilidade na implementação do
referido projeto como ele foi aventado. Tendo em vista a participação de
empreendedores internacionais, o governo espera que os mesmos mantenham sua
disposição em investir no Tocantins, desde que em projetos viáveis e em
consonância com a sustentabilidade e respeito ao meio ambiente”.
Essa é a boa notícia da história.
Mesmo assim, é essencial continuar contestando ideias malucas insustentáveis
como esta. Para preservar, é mais importante deixar os animais africanos na
África e elaborar projetos locais de turismo sustentável, que privilegiem a
educação ambiental e preservação da fauna brasileira, sem tratar a natureza
como negócio.
Fonte: Superinteressante