Esqueça as enchentes, secas, derretimento de geleiras e
outros eventos associados ao aquecimento – a elevação das temperaturas do
planeta reserva “surpresas” ainda mais inusitadas. Veja a seguir:
Quer sobreviver ao aquecimento global? Então seja
pequeno. Pelo menos essa é a dica para os peixes, segundo um grupo de
cientistas que estudam o efeito da elevação das temperaturas sobre a vida
marinha.
Em estudo divulgado ontem (2 de Outubro), os pesquisadores alertam que o
aquecimento global vai deixar a situação mais difícil para peixes grandes (como
a arraia gigante ao lado) que precisam de mais oxigênio que as espécies
menores, um recurso cuja concentração tende a diminuir a medida que as águas
dos oceanos esquentam.
Mas esse não é o único efeito de causar surpresa associado
ao aquecimento global. Outras consequências não menos inusitadas têm sido alvo
de estudo dos cientistas.
Heroína mais potente
O aumento das concentrações de dióxido de carbono na
atmosfera em um mundo em aquecimento pode ter um efeito drástico sobre a
potência do ópio, extraído de papoulas, de acordo com um estudo do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês). Apesar da
importância dos opiáceos na Medicina para a produção de analgésicos, essas
substâncias narcóticas também são usadas na fabricação de drogas, como heroína.
A atual safra de papoulas é duas vezes mais potente do que
as cultivadas sob os níveis de dióxido de carbono registrados em 1950, segundo
a pesquisa liderada por Lewis Ziska do Laboratório de Mudança Climática, do
USDA. Se as projeções se mantiverem, o dióxido de carbono atmosférico vai
aumentar em três vezes o nível de morfina nos opiáceos até 2030 e em 4,5 vezes
até 2090.
Atchim!
Quem sofre com alergias respiratórias e asma deve se
preparar: estudo da Universidade da Carolina do Norte, nos EUA, prevê uma maior
incidência nos casos alérgicos em decorrência do aumento das temperaturas. Os
cientistas perceberam que os níveis mais elevados de dióxido de carbono estão
contribuindo para a antecipação da estação da Primavera. Com as plantas
crescendo mais cedo e produzindo mais pólen, a estação das alergias pode durar
mais tempo.
Adeus ao Uísque...
O maior produtor mundial de uísque, a Escócia, deverá sentir
o impacto das mudanças climáticas na bebida que lhe rende não só fama mas
receita vultosa - no ano passado, o país exportou cerca de 12 bilhões de reais
em uísque. Há motivos para se preocupar. Estudo encomendado pelo governo
escocês em 2011 levantou ricos potenciais associados ao aquecimento global e a
bebida.
Entre eles, o de que o suprimento e a qualidade de cereais,
especialmente o malte, poderá sofrer, no futuro, com secas, enchentes em
regiões produtoras costeiras e doenças na plantação. Temperaturas mais elevadas
também poderão tornar menos eficientes o processo de produção e afetar a
disponibilidade de água.
...e ao presunto,
bacon e linguiça
Amantes de bisteca, salsicha, torresminho e outros derivados
suínos, preparem-se: pode faltar carne de porco no mercado. O aviso vem da
Associação Nacional de Porcos da Grã-Bretanha (NPA), segundo a qual a seca nos
Estados Unidos e a consequente queda na produção de grãos que estão na base da
alimentação dos animais já pode ser sentida na produção
A situação é tão preocupante, que os produtores preveem uma
escassez mundial de carne de porco e bacon no próximo ano. Já, os agricultores
americanos, estimam que os preços da carne de porco vai bater novos recordes em
2013. Segundo economistas entrevistados pelo britânico The Guardian, o custo de
levar o bacon para casa nos EUA quase dobrou desde 2006.
Pedra nos rins
Essa é das mais curiosas e difícil de acreditar num primeiro
momento, mas um grupo de pesquisadores americanos sugere que a elevação das
temperaturas do planeta pode influenciar a formação de cálculos renais.
Publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of
Sciences, o estudo diz que aquecimento pode fazer com que 2,2 milhões de
pessoas sofram com a doença até 2050, 30% a mais que os casos de hoje.
A explicação é que as temperaturas elevadas podem
intensificar a desidratação, apontada como um dos principais fatores de risco
para o surgimento de pedras nos rins, uma vez que o baixo volume de urina leva
a concentração de sais que formam os cristais.
Céu “em queda”
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Auckland, na
Nova Zelândia, analisou a variação da altura das nuvens na última década, a
partir de imagens captadas por satélites da agência espacial americana, Nasa. A
altura média global das nuvens diminuiu de 30 a 40 metros entre março de 2000 e
fevereiro de 2010, o que equivale a 1% de sua altura tradicional.
Segundo o estudo, publicado recentemente na revista
Geophysical Research Letters, a diferença é resultado de uma redução na
formação de nuvens em altitudes elevadas. Os cientistas não sabem ao certo
quais são as causas dessa baixa, mas especulam que a mudança seja uma reposta
ao aquecimento do planeta.
Espécies "sem
rumo"
A elevação das temperaturas tem causado o que os cientistas
chamam de “estresse térmico” no mundo animal. Durante vinte anos, pesquisadores
europeus vêm estudando o movimento de populações de aves e borboletas no
continente frente às mudanças cada vez mais constantes no clima.
O resultado preocupa: os animais simplesmente não conseguem
migrar na velocidade necessária para habitats com condições propícias para
alimentação e procriação e correm risco de desaparecer ao se concentrarem em
regiões com clima mais hostil. Ou seja, as aves e borboletas europeias estão
voando para longe de seus habitats mais adequados, sofrendo com o tal “estresse
térmico”.
Fonte: Exame