Investimentos em empresas que geram energia a partir de
fontes alternativas ao petróleo ultrapassaram 8 bilhões de dólares no Brasil em
2011 e movem os negócios no setor.
Não é difícil encontrar o endereço do aposentado Evaldo
Rodrigues, de 61 anos - mesmo quando falta luz no bairro onde mora, situado
numa das praias de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro. "Só na minha casa
as lâmpadas continuam acesas", diz Rodrigues.
Há alguns anos, ele e a mulher, Mirian, de 61 anos,
instalaram no quintal um gerador que parece um ventilador gigante. A brisa do
mar move uma hélice que, por sua vez, aciona uma turbina que produz
eletricidade. "Metade de nossa energia é produzida com a força do
vento", diz Rodrigues. Outra parte, usada para esquentar a água do
chuveiro, advém de um aquecedor que utiliza o calor do sol. "Só 30% do
consumo é eletricidade fornecida pela distribuidora", diz.
Histórias como a dos Rodrigues devem ser cada vez mais
comuns no Brasil nos próximos anos. A produção de energia por fontes
alternativas - como vento, sol e biomassa (resíduos como lixo e bagaço de
cana-de-açúcar) — vem aumentando rapidamente. Em 2011, os investimentos em
negócios ligados ao setor ultrapassaram 8 bilhões de dólares no país, segundo a
consultoria Bloomberg New Energy Finance.
Crescimento dos negócios da cadeia de produção de energia
proveniente de fontes renováveis no Brasil
Para cada brasileiro, foram investidos 42 dólares - quatro
vezes o valor de seis anos atrás. Os recursos foram para parques eólicos,
usinas solares, termelétricas movidas a biomassa e fornecedores de produtos e
serviços da cadeia produtiva. Até 2020, esses investimentos devem elevar a
participação das fontes alternativas no total de energia produzida no Brasil de
10% para 16%, de acordo com a estimativa da Empresa de Pesquisa Energética, do
Ministério de Minas e Energia.
Para os empreendedores, esses números significam um grande
mercado. "A demanda por produtos e serviços para novas usinas vai
aumentar, e muito", diz Mauro Passos, presidente do Instituto Ideal,
organização não governamental que acompanha as tendências no setor. "As
pequenas e médias empresas devem ser as principais beneficiadas."
A procura já está acontecendo. As usinas estão comprando
hélices, geradores, painéis solares, caldeiras, cabos de alta tensão, medidores
de consumo e serviços como treinamento de mão de obra e transporte. O gerador a
vento no quintal de Rodrigues, por exemplo, foi produzido pela Enersud,
fabricante de torres e turbinas localizada em Maricá, no Rio de Janeiro.
A empresa nasceu há dez anos, quando o engenheiro mecânico
Luiz Cezar Pereira, de 71 anos, se aposentou da Petrobras. Pereira começou a
pesquisar modelos de hélices e turbinas para iluminar sua casa no litoral
fluminense com a força do vento marítimo. "Só encontrei equipamentos
importados", diz ele. "Desenvolvi um modelo e o patenteei." Pereira
passou, então, a vender as máquinas a moradores de áreas sem luz elétrica nos
arredores de Niterói e a fazendeiros do interior de São Paulo e Minas Gerais.
Ao longo dos anos, Pereira montou equipamentos mais potentes
e conquistou como clientes empresas que consomem grandes quantidades de energia
em áreas remotas, como transportadoras que instalam antenas em estradas pouco
movimentadas para rastrear o tráfego de suas cargas.
No início, uma pequena equipe de vendas recebia as
encomendas, feitas por telefone ou pela internet.
Fonte: Planeta Sustentável