O desmatamento é uma bomba-relógio para o futuro dos animais
vertebrados da Amazônia, de acordo com uma pesquisa publicada nesta
quinta-feira na revista Science. Pesquisadores da Universidade Rockfeller, nos
Estados Unidos, e do Imperial College London, da Inglaterra, criaram um método
que prevê o impacto da perda de habitat para espécies de mamíferos, anfíbios e
aves.
O grupo de pesquisadores liderado por Oliver Wearn dividiu a
Amazônia em áreas de 50 x 50 quilômetros quadrados e estudaram o impacto do
desmatamento em cada local, com dados de 1978 a 2008, sobre 204 mamíferos, 332
aves e 214 anfíbios. Como resultado, os cientistas conseguiram apontar quantos
animais podem desaparecer em cada área, conforme o avanço do desmatamento.
Quando uma espécie desaparece de uma localidade, ela ainda
pode se refugiar em outro local, mas a biodiversidade já estará comprometida.
Caso a espécie tenha somente aquela região por área de vida, sua extinção já
pode ser esperada. Isso cria o que os pesquisadores chamam de "débito de
extinção". Essa "dívida" ocorre quando as espécies de plantas e
animais perdem seu hábitat, mas não desaparecem. A extinção da espécie às vezes
leva várias gerações, mesmo após a perda de seu ambiente natural.
A estimativa dos pesquisadores é de que cada região da
Amazônia perca, em média, nove espécies de vertebrados e que outras 16 entrem
na fila da extinção até 2050. O estado que mais acumula "débito de extinção"
é Tocantins, com 28 espécies; seguido pelo Maranhão, com 20 espécies; Rondônia,
com 16; e Mato Grosso, com 11 espécies.
CALOTE
"Ou tomamos uma medida para dar um calote nesse débito
ou vamos perder espécies nessas localidades", diz o ecólogo Thiago Rangel,
professor e pesquisador da UFG (Universidade Federal de Goiás), revisor do
artigo da Science (leia entrevista abaixo). O "calote" que ele propõe
é ampliar medidas de preservação e recuperação de áreas degradadas para que a
fauna e a flora se reestabeleçam.
Os pesquisadores britânicos concluem que os próximos anos
oferecem uma janela de oportunidade. "É preciso concentrar esforços em
áreas com o maior 'débito de extinção'. Isso poderia reduzir a dívida a ser
paga", escreveram. "Assim seria possível ajudar as espécies que ainda
persistem, antes que elas desapareçam para sempre."
Fonte: Planeta Sustentável