A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
(ABES-SP), comprometida em fomentar discussões com aspectos técnicos e
conceituais à sociedade, organizou, na manhã do dia 21 de junho de 2012, um
encontro aberto ao público. Na ocasião, a importância da gestão metropolitana
nas marginais do Sistema Tietê – Pinheiros foi considerada.
A apresentação ficou a cargo do engenheiro Rodolfo José da
Costa e Silva Junior, assessor técnico da Secretaria de Desenvolvimento
Metropolitano de São Paulo, que desenvolve e articula temas em benefício da
funcionalidade da região que, atualmente, conta com a terceira maior
aglomeração urbana do mundo, com 19,6 milhões de habitantes.
Desta forma, para iniciar os trabalhos, o palestrante
conferiu um perfil da população residente na Região Metropolitana de São Paulo
(RMSP) com base na pesquisa “Como a cidade deve ser em três décadas?”,
realizada em 2011, que foi respondida por 25 mil paulistanos.
Constatou-se, assim, que os principais projetos desejados,
foram: “A cidade de 30 minutos”, tempo médio de qualquer deslocamento dentro da
capital; “Rios vivos”, que contempla a revitalização dos córregos urbanos; e
“Comunidades”, que abrange a urbanização e acesso à cultura e lazer em qualquer
ponto da cidade.
De acordo com o assessor técnico, os três temas estão
diretamente ligados com o Plano de Requalificação Urbana das Marginais do
Sistema Tietê – Pinheiros. “Precisamos integrar o rio com a sociedade,
facilitar o fluxo de pessoas no entorno e quebrar o isolamento histórico
imposto pela construção das marginais, criando formas de acesso às margens do
rio”, considera.
Segundo ele, é necessário que a Região Metropolitana de São
Paulo seja planejada com olhos para o mundo e para o futuro, valorizando a
qualidade de vida dentro de sua área territorial. “Esta ideia gira em torno de
transformar o que é quintal em cartão de visita”, sintetiza.
Como exemplos, o especialista citou o Corredor Verde
Monsanto, em Lisboa, Portugal; a Passarela do Aterro do Flamengo, no Rio de
Janeiro; o Museu Guggenheim Bilbao, na Espanha; assim como a Millennium Bridge,
em Londres e a Ponte da Mulher, em Buenos Aires, Argentina. “Todos estes
lugares fizeram com que a região de seus principais rios ficasse esteticamente
atraente”, ressalta. “Poderíamos, ainda, promover a navegação turística e
comercial através dos rios, como acontece em Magdeburg, Alemanha”.
Para Silva Junior, o Plano de Requalificação envolve, em
suma, um novo tratamento, tanto arquitetônico e paisagístico como funcional.
“Podemos transformar a área em um grande centro de cultura”, vislumbra. A
implantação de instalações de artistas, criação de teatros ao ar livre,
esculturas de artistas brasileiros, bem como bibliotecas e a promoção de
artesanato latino-americano são algumas das prospecções do projeto.
“Já temos uma primeira proposta encaminha ao governo e que
já foi aprovada, que é a interligação da Universidade de São Paulo (USP) ao
Parque Villa Lobos”, conta. De acordo com ele, a ideia implícita no plano de
requalificação é a de buscar um novo patamar de valorização urbana da cidade,
calcado na urbanização das favelas da região, na recuperação de espaços
degradados e a requalificação e modificação do uso de prédios públicos
incompatíveis com o plano.
“Pretendemos criar espaços de lazer e esportes ao longo da
região de planejamento, integrando-os com clubes e parques existentes”. Como
princípios a esta ação, estipula-se a criação de circuitos de caminhada com
estações de ginástica, pistas de skate, passarelas que facilitem o acesso dos
clubes às marginais e facilitar, ainda, o acesso aos parques existentes
aproveitando o potencial esportivo.
Segundo o assessor técnico, um plano que enxergue a cidade
do ponto de vista conceitual e anteceda às obras é fundamental ao êxito do
projeto. “Buscamos a volta do verde, com pisos drenantes, jardins urbanos,
telhados e corredores verdes”, visualiza. De acordo com o estudo, a cidade de
São Paulo necessita de 48,5 km de corredores verdes, entre ruas e avenidas,
para amenizar fenômenos climáticos, como as ilhas de calor, e para ter maior
capacidade de reter a água da chuva.
O Plano de Requalificação das marginais, cuja conclusão está
prevista para 2013, abrange análise de questões jurídicas e avaliação
preliminar do impacto financeiro das obras. “Entretanto, pelo potencial
turístico e funcional das propostas, o plano se sustenta do ponto de vista
econômico”, salienta. As condicionantes frente aos principais problemas dos
rios: enchentes e qualidade da água, também estão envolvidas.
“A questão mercadológica do turismo interno e internacional,
a influência da requalificação na dinâmica interna futura da RMSP, a
caracterização das limitações físicas e estruturais de toda a área onde será
implantado o plano de requalificação são pontos importantes que serão
analisados. Além disso, temos de nos atentar sobre a caracterização de trechos
degradados sob o ponto de vista ambiental e social, além de estudo das
interferências com usos subterrâneos da área estudada”, enumera Silva Junior.
Como benefícios do Plano de Requalificação, o assessor
elenca os stakeholders do projeto, com a contribuição de melhoria e valorização
imobiliária, assim como o amplo desenvolvimento do turismo na cidade, a geração
de empregos, dinamização da economia e a redução dos custos de transporte.
“Independente do nível social, a população ganhará
quilômetros de lazer na metrópole. Precisamos modificar as prioridades da
cidade”, diz. De acordo com ele, como trincheiras aos entraves políticos e
imobiliários que o plano possa enfrentar, existem o Banco Mundial e o Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que já estão, preliminarmente,
ligados ao projeto. “As parcerias público-privadas que iremos articular também
serão importantes neste processo”, conta.
Para Dante Ragazzi Pauli, presidente da ABES-SP, o tema é de
absoluta relevância e proporciona a oportunidade da Associação desviar-se do
convencional, mesmo que o tema seja interligado com a sua área de atuação.
Já para Roberval Tavares de Souza, diretor da Região Sudeste
da ABES Nacional, também presente no encontro, o plano de requalificação das
marginais é ousado e suscita a visão de planejamento urbano e a esperança de
melhoria do aspecto urbanístico da RMSP. “O saneamento ambiental é parte
fundamental da despoluição das águas do sistema Tietê – Pinheiros”, constata.
O encontro contou com a presença de, aproximadamente, 80
pessoas, entre representantes de prefeituras, entidades, engenheiros autônomos,
estudantes e parcela significativa da sociedade civil, interessada em um fórum
de discussões que priorize interesses comuns.
A palestra pode ser vista no vídeo: