Dama de ferro primeiro defendeu e depois atacou políticas de
proteção do planeta
Margaret Thatcher, morta ontem aos 87 anos de idade, foi uma
das pessoas politicamente mais influentes do mundo na segunda metade do século
20, e ajudou a trazer e espalhar por ele a nefasta ideologia do neoliberalismo.
Flertou com ditadores, impôs políticas que geraram desemprego, descontentamento
e uma cruel concentração de renda e será lembrada com saudade apenas pela
direita.
No entanto, a mesma Dama de Ferro teve posição notável na
questão do aquecimento global. Em um discurso em 1990 no Palácio das Nações, em
Genebra, na segunda Conferência Mundial do Clima, ela foi incisiva: “Pode ser
mais barato agir agora que esperar e descobrirmos que teremos de pagar muito
mais no futuro,” afirmou. O aquecimento era “real o bastante para fazermos
mudanças e sacrifícios, e não vivermos às custas das gerações vindouras.”
“A direita sempre esquece esta parte de seu legado,” disse
ontem Lord Deben, membro da Câmara dos Lordes e presidente da organização
independente Comissão Sobre a Mudança do Clima. Deben participou de seu governo
e afirmou que o papel dela foi crucial para conferir importância às negociações
envolvendo a questão em todo mundo, ainda que isto fosse extremamente impopular
entre seus colegas. Thatcher também teve papel essencial para convencer George
Bush a comparecer à Rio 92. Disse que o trabalho do Painel Intergovernamental
Sobre a Mudança do Clima (IPCC), da ONU, era “notável e muito cuidadoso.”
Ela tinha também um plano doméstico, lembra o Daily Climate.
Disse a seu parlamento que os conservadores cortariam as emissões de gases
estufa ao nível de 1990 até 2005, o que foi visto com ceticismo pela oposição,
sem falar em seus pares. Mas, diz Deben, “não conseguiu convencer seu ministro
da Fazenda.”
Thatcher não manteria estas posições. Em 2003, vendo a onda
conservadora se voltar com mais virulência contra qualquer ação em relação à
mudança do clima, declarou que tais
medidas seriam “uma excelente desculpa para um socialismo supra-nacional” e acusou
Al Gore por divulgar “hiperboles apocalípticas.” E elogiou George W. Bush por
rejeitar o Protocolo de Kyoto. O jornalista Bob Warden lembra no Guardian que o
revisionismo da primeira-ministra foi baseado em informações de instituições
americanas de direita como o Cato Institute e a Heritage Foundation.
Fonte: Planeta Sustentável