Pesquisa revela que mesmo os plásticos classificados como
"BPA free" liberam partículas danosas
Endocrinologistas e pesquisadores vêm estudando a
possibilidade de certos compostos químicos interferirem no funcionamento do
nosso organismo. Um deles é o bisfenol-A (BPA), composto químico utilizado na
fabricação do policarbonato, que é um tipo de plástico rígido e transparente.
Esse composto é muito empregado em embalagens de alimentos, recipientes
plásticos usados na cozinha, revestimento interno de latas de alumínio, escovas
de dente, em grande parte das mamadeiras plásticas e na composição de papéis
termo-sensíveis, como extratos e comprovantes bancários.
Estudos apontam que o BPA simula o comportamento do
estrogênio, hormônio feminino, no organismo, interferindo no funcionamento de
algumas glândulas endócrinas, e pode também alterar a ação de vários hormônios.
Para completar, o estudo Toxic Baby Bottles, publicado pelo Environment
California Research and Policy Center, revela que, mesmo em pequenas quantidades,
esse produto químico pode provocar doenças, tais como: alterações do sistema
imunológico, aumento da próstata, diabetes, hiperatividade, infertilidade,
obesidade, puberdade precoce e câncer da mama.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia(SBEM) tenta há algum tempo fazer com que seja proibido o uso desse disruptor
endócrino em produtos nacionais. E a entidade já teve algum sucesso: desde o
dia 1° de janeiro de 2012, as mamadeiras fabricadas no país ou importadas não
podem conter essa substância, conforme a resolução RDC n° 41, de setembro de
2011. Decisão semelhante tomaram outros países, como Dinamarca, alguns países
da União Europeia e alguns estados dos EUA e o Canadá, precursores desse
movimento. Agora, a SBEM busca fazer com que essa resolução também inclua
brinquedos (o BPA é especialmente agressivo para crianças de 0 a 12 meses,
porque o sistema endócrino delas ainda está em formação) e embalagens de
alimentos.
Especialistas estimam que uma pessoa ingira, em média, até
10 mg de bisfenol-A por dia, que são liberados a partir de copos descartáveis,
escovas de dentes e outros produtos plásticos.
Essa quantidade contraria a recomendada pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa), que considera uma dose de 0,6 mg por quilo de
alimento dessa substância não prejudicial à saúde. No entanto, alguns especialistas afirmam que
esse componente pode permanecer no corpo humano por um longo período, podendo
provocar, com isso, um efeito acumulativo.
Como funciona a atividade estrogênica
O BPA é considerado uma molécula instável e com facilidade
de migrar dos produtos para os alimentos apenas com mudanças de temperatura ou
danos à embalagem. Quando o produto que contém essa substância química é exposto
ao sol, aos raios ultravioleta e infravermelho ou tem contato com álcool, o
"estrogênio" é liberado. Desse
modo, quando uma vasilha plástica é colocada no micro-ondas ou contém um
alimento quente, ocorre uma intensa transferência de BPA com lixiviação química
(retirada de uma substância presente em componentes sólidos por meio da sua
dissolução num líquido) 55 vezes mais rápida do que quando é armazenado nela um
alimento frio. O mesmo acontece quando
essa vasilha é lavada com agentes de limpeza ou detergentes agressivos ou ainda
colocada com frequência na máquina de lavar.
Sabendo desses perigos, diversos setores industriais
começaram a fabricar alguns produtos isentos de BPA, chamados "BPA
free". A diferença de custo de
fabricação desses produtos não se alterou de modo significativo: os polímeros
que podem fazer com que um produto seja livre da atividade estrogênica têm um
preço similar aos polímeros feitos a partir de monômeros que têm atividade
estrogênica. O polipropileno (PP) que não possui aditivos que tenham atividade
de simulação de estrogênio (mesmo depois de sofrer tensão), por exemplo, custa
aproximadamente R$ 2,40/kg; o mesmo preço das resinas de polipropileno que
contêm aditivos com atividade de simulação de estrogênio. Contudo, um estudo publicado
pela Environmental Health Perspectives revelou que mesmo produtos rotulados
como "BPA free" apresentaram atividade estrogênica, especialmente
quando eles foram expostos a solventes mais e menos polares, e colocados em
condições de tensionamento usuais.
Essa questão da atividade estrogênica provocada pelo BPA
ainda é controversa porque, por enquanto, a maioria das pesquisas foi feita com
animais mamíferos. No entanto, pode-se esperar que os resultados obtidos dessa
experiência sejam também aplicados a nós, uma vez que o mecanismo endócrino foi
altamente conservado, ao decorrer da evolução da espécie humana, em todas as
classes de vertebrados, como aponta Kavlock em seu estudo.
Dicas para reduzir a exposição ao bisfenol-A
Com tantas incertezas a respeito da substância, é bom se
precaver. Siga algumas dicas simples:
-Não esquente no micro-ondas bebidas e alimentos
acondicionados em plástico, pois o bisfenol-A é liberado em maiores quantidades
quando o plástico é aquecido.
-Evite levar ao freezer alimentos e bebidas guardados em
plástico, porque a liberação do composto também é mais intenso quando o
plástico é resfriado.
-Evite pratos, copos e outros utensílios de plástico. Opte
pelo vidro, porcelana e aço inoxidável na hora de armazenar bebidas e alimentos.
-Descarte utensílios de plástico lascados, arranhados ou
amassados. Evite lavá-los com detergentes fortes ou colocá-los na máquina de
lavar louças.
-Se usar embalagens plásticas para acondicionar alimentos ou
bebidas, evite aquelas que tenham os símbolos de reciclagem com números 3 e 7
no seu interior e na parte posterior da embalagem. Esses dados indicam que a
embalagem contem BPA na sua composição.
-Na dúvida, é melhor evitar os plásticos transparentes e
mais duros - eles geralmente são feitos de BPA.
Imagens: Shutterstock e Acik
Fonte: eCycle