O número de consumidores
conscientes no Brasil não sofreu aumento significativo nos últimos seis anos,
conforme aponta a Pesquisa Akatu 2012: Rumo à Sociedade do Bem-Estar, lançada
nesta quinta-feira (25), em São Paulo, pelo Instituto Akatu. De acordo com o
levantamento, que entrevistou 800 pessoas de todas as regiões do Brasil, apenas
5% dos consumidores do país podem ser classificados como conscientes -
exatamente a mesma percentagem das duas últimas edições da pesquisa, que foram
realizadas em 2010 e 2006.
Já o número de consumidores que
podem ser considerados engajados - classificação que aparece logo abaixo dos
consumidores conscientes no levantamento - caiu: eles são 22% atualmente,
contra 28% em 2006. Para chegar a esse resultado, o Akatu analisou o
comportamento dos entrevistados em 13 diferentes indicadores relacionados ao
consumo consciente - entre eles, os hábitos de reciclar, comprar orgânicos e
ler os rótulos dos produtos antes de decidir se vai levá-los para casa.
Para Aron Belinky, coordenador
técnico da pesquisa, o resultado pode ser reflexo da "bonança
econômica" que o Brasil vive nos últimos anos. "A parcela mais
carente da população, que possui menos posses, tem uma tendência maior de,
neste período de bonança, querer produtos vangloriados pela sociedade de
consumo. No entanto, isso não significa que eles não queiram seguir pelo
caminho da sustentabilidade", explicou.
Belinky se refere a outro
resultado da Pesquisa Akatu 2012, que apontou que a população está, sim,
adotando práticas de consumo mais conscientes, ainda que, neste momento, de
maneira eventual e não contínua. Os hábitos sustentáveis que mais se popularizaram
nos últimos dois anos foram os de planejar a compra de alimentos e de roupas,
que sofreram, respectivamente, aumento de 11% e 7%. "Esta é a diferença
entre consumo consciente e consumismo. Ninguém defende que as pessoas deixem de
comprar, mas que façam compras melhores, com mais sabedoria", disse
Belinky.
SOCIEDADE DE BEM-ESTAR
A Pesquisa Akatu 2012 ainda
avaliou o que é felicidade para os consumidores brasileiros. Estes resultados
do levantamento foram considerados mais positivos pela equipe do Instituto:
mais de 60% dos entrevistados consideram que felicidade é ter saúde e bom
convívio social com a família e os amigos. Apenas três em cada dez brasileiros
associa o sentimento à posse de bens. (Saiba mais em: Bem-estar traz mais
felicidade do que consumo, diz estudo)
"Isso significa que as
pessoas, em geral, estão mais mobilizadas para alcançar o bem-estar. Ou seja, a
cultura de consumo, criada em cima de uma noção superficial de felicidade, está
mudando", opinou Belinky.
Presente no evento, o sociólogo
Ricardo Abramovay - autor do primeiro livro publicado pelo selo Planeta
Sustentável, o Muito Além da Economia Verde - concorda com Belinky, mas
acredita que a sociedade ainda precisa ir muito além: "A pesquisa aponta
para avanços graduais, mas precisamos de avanços extraordinários. Não é só
explicar para as pessoas consumirem menos, reutilizarem e reciclarem.
Precisamos redesenhar, renovar e regenerar nosso papel enquanto
consumidores", afirmou. Abramovay ainda completou: "Se tivéssemos 60
anos para mudar de postura, poderíamos ir aos poucos, fazendo transformações
mais lentas e menos traumáticas, mas não temos esse tempo."
O CONSUMIDOR E AS EMPRESAS
A última parte da Pesquisa Akatu
2012 avaliou como o consumidor enxerga a Responsabilidade Social das Empresas
(RSE) e concluiu que os brasileiros estão mais céticos em relação ao assunto.
Apenas 8% das pessoas disseram acreditar nas informações de RSE que as
companhias divulgam. Há dois anos, a porcentagem era de 13%.
Além disso, o consumidor está
mais exigente e afirmou que o comportamento das empresas impacta, cada vez
mais, sua decisão de compra. Entre as questões que mais são levadas em conta
estão:
- Não maltratar animais (52%);
- Ter boas relações com a
comunidade (46%);
- Ter selos de proteção ambiental
(46%);
- Ajudar na redução do consumo de
energia (44%) e
- Ter selo de garantia de boas
condições de trabalho (43%).
Já as práticas que mais
"queimam o filme" das empresas, perante os consumidores, são vender
produtos que podem causar danos à integridade física das pessoas (72%) e fazer
propaganda enganosa (71%).
"Saber que o potencial de
adesão ao consumo consciente e à sustentabilidade já se expressa nos desejos
dos consumidores é um sinal de alerta para empresas e lideranças em geral, que
deveriam avaliar mais profundamente suas estratégias de explorar mais ainda um
modelo esgotado, insustentável e conflitante com as aspirações dos consumidores
e com suas concepções de felicidade", finalizou Helio Mattar,
diretor-presidente do Instituto Akatu e conselheiro do Planeta Sustentável.
Fonte: Planeta Sustentável