SEM INTERFERÊNCIA DO MUNDO CIENTÍFICO, DESPREZANDO AS
SEGUIDAS ADVERTÊNCIAS DOS TÉCNICOS DA AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS (ANA), CONTRA A
VONTADE DE 80% DO POVO BRASILEIRO, A BANCADA RURALISTA, NUMA DITADURA VIA
CONGRESSO, FULMINA NOSSAS FLORESTAS, NOSSOS RIOS E O PROMOVE O SOLAPO DAS BASES
NATURAIS QUE SUSTENTAM NOSSAS RIQUEZAS.
Estamos atravessando uma cíclica e grande seca no Nordeste.
Quem vive por aqui sabe que, ao andar pela caatinga, se avistar um conjunto de
árvores verdes, é porque elas devem estar à beira de um riacho intermitente. No
cerrado essa vegetação também é chamada de mata de galeria. Costuma ser mais
frondosa que a vegetação ao redor.
O próprio povo do sertão aprendeu a fazer cacimbas – pontos
de coleta de água de minação – no leito dos riachos temporários. Eles só “botam
água”, como diz o povo, quando chove. Mas, mesmo intermitentes, é em seus
subsolos que muitas vezes se busca água em tempos de seca.
Além do mais, quando não existe mata ciliar ao redor desses
rios com características tão próprias, as suas enchentes costumam ser mais
abruptas e violentas, como aconteceu no sertão pernambucano, região de Palmares
e outras cidades, quando uma chuva torrencial arrasou cidades que ainda hoje
estão sendo reconstruídas.
O Conselho Nacional de Recursos Hídricos fez uma oficina
para debater a questão da outorga da água nos rios intermitentes. Fui
representar a sociedade civil na oficina. Decidimos o óbvio: “outorga só para
coleta de águas, jamais para lançamento de dejetos”. É que nesses rios estão
importantes mananciais de abastecimento das populações do semiárido.
Pois bem, a ditadura ruralista imposta ao povo brasileiro
pela Câmara dos Deputados, quer eliminar qualquer proteção aos rios
intermitentes nas novas regras do Código Florestal. A proposta é defendida pela
senadora Kátia Abreu que afirmou, em toda sua ignorância, que “se precisasse
dessa matas, na Europa não haveria mais rios”. Alguém precisa esclarecer à
senadora o que é um rio, o que é um bioma, um que é um continente e a diferença
entre eles.
O senador do Acre, Jorge Viana, reagiu dizendo que isso é
prejudicar 50% dos rios brasileiros. O senador deveria saber que no Nordeste
99,99% dos nossos rios são intermites, à exceção do São Francisco, Parnaíba e
alguns outros rios menores.
Assim, sem interferência do mundo científico, desprezando as
seguidas advertências dos técnicos da Agência Nacional de Águas (ANA), contra a
vontade de 80% do povo brasileiro, a bancada ruralista, numa ditadura via
Congresso, fulmina nossas florestas, nossos rios e o promove o solapo das bases
naturais que sustentam nossas riquezas.
Roberto Malvezzi (Gogó), articulista do Portal EcoDebate,
possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe
CPP/CPT do São Francisco.
Fonte: EcoDebate, 14/08/2012