Há algumas décadas, construtores e arquitetos de todo o
mundo começaram a adotar os telhados verdes na hora de projetar e construir
casa de clientes que prezavam por um ambiente mais agradável e sustentável.
Logo os benefícios da técnica ganharam o mundo e os ecotelhados passaram a ser
copiados em todas as regiões do planeta.
E não é apenas a beleza que chama a atenção de quem vê uma
construção coberta por plantas, flores e até pequenas árvores. A técnica é
capaz mitigar muitos dos problemas ambientais comuns em locais onde os telhados
convencionais são predominantes, como excesso de poluição, poeira e barulho,
presença de ilhas de calor e alagamentos em época de chuvas.
A “mágica” é possível graças à estrutura dos telhados
verdes, que é capaz de abrigar diversas espécies vegetais em um local que, até
então, não teria nenhuma serventia além proteger os seus habitantes.
Dados da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos,
apontam que cerca de 25% da superfície de uma cidade é composta por telhados.
Como resultado, 80% da incidência solar é absorvida por essas coberturas
impermeáveis
Um telhado verde é formado por diversas camadas que garantem
impermeabilização, drenagem da água e segurança da cobertura/Foto: Divulgação
Ecotelhado
Ao plantar gramas, arbustos e mudas de diversas espécies nos
telhados, é possível resolver, de imediato, dois dos grandes problemas urbanos
de uma só vez: a impermeabilização do solo e as ilhas de calor.
A opinião é do doutor em Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo
e professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Márcio D'Ávila. Segundo ele, as cidades chegam a
ser 5°C mais quentes que os ambientes rurais e a maior causa é o excesso de
asfalto e de materiais impermeáveis que cobrem a terra.
Com os telhados verdes, as plantas extraem o calor do
ambiente pela evaporação, fotossíntese e pela capacidade de armazenar calor de
sua própria água. Dessa forma, a superfície verde funciona como um isolante
térmico, reduzindo as oscilações de temperatura e, consequentemente, a energia
elétrica gasta para aquecer e resfriar o interior do local.
Além disso, o substrato de terra e argila presentes no
ecotelhado é capaz de absorver até 70% da água da chuva, reduzindo o
transbordamento de esgotos, aumentando a vida útil dos sistemas de escoamento e
devolvendo uma água mais limpa para a bacia hídrica circundante.
Para completar, as plantas ainda retêm as partículas
suspensas de poeira e poluição, melhoram a acústica do ambiente, garantem
sombra e durante o processo de fotossíntese, produzem um ar mais puro para a
região.
Mais simples do que parece
Segundo o engenheiro agrônomo e diretor da Ecotelhado, João
Manoel Feijó, qualquer laje impermeabilizada pode receber um telhado verde.
Existem três modelos disponíveis no mercado específicos para cada tipo de
construção e para cada categoria de plantas que será utilizada.
“A diferença é em relação à espessura da camada de
substrato”, explicou ao EcoD o professor Márcio D'Ávila. “Essa camada de terra
varia de acordo com o tipo de uso que o telhado vai ter e com a área disponível.
Uma camada mais fina exige menor manutenção e geralmente é usada para
gramíneas, já uma mais grossa possibilita uma maior cobertura vegetal e tem
maior manutenção”, esclarece.
A instalação de um ecotelhado inclui diversas etapas, como a
disposição de uma camada impermeabilizante, de um sistema de drenagem, da
camada de solo e de uma vegetação adequada à superfície a ao clima local. A
manutenção, segundo Feijó, é igual a de um jardim comum e os custos são similar
a de um telhado convencional.
Mas antes de sair plantando qualquer coisa na superfície de
sua casa, peça ajuda a um profissional. “Hoje existe um amplo leque de
possibilidades de projetos. Mas é preciso analisar alguns aspectos para
garantir que a estrutura irá aguentar”, alerta o professor D'Ávila.
Plantas de diversos portes e espécies podem ser utilizadas
nos telhados verdes/Foto:Mundo Ecologia
Mercado em crescimento
Com tantas vantagens, não é surpresa que o mercado dos
telhados vivos esteja em expansão. Para João Manoel Feijó, a tecnologia é uma
tendência. Sua empresa, pioneira na implantação dos ecotelhados no Brasil, tem
visto sua demanda dobrar anualmente.
“Estamos agora num ponto de virada da história da
civilização. Há 50 anos a maioria da população vivia na zona rural e hoje no
Brasil caminhamos para 80% de urbanização. A população anseia por contato com a
natureza, cada vez mais distante, e o ecotelhado desponta como uma solução para
esse problema”, afirmou ao EcoD.
Para Márcio D'Ávila é preciso tornar a implantação dos
telhados mais dinâmica e acessível para a população. Informar melhor a
sociedade dos benefícios da técnica, intensificar estudos e pesquisas que
aprimorem a tecnologia, rever alguns critérios da legislação e reforçar a
participação dos governos na propagação do sistema é fundamental, garante o
professor.
“Hoje há demanda, interesse e sensibilização por parte da
sociedade. O desafio agora é criar um mercado para isso, com incentivos
econômicos e de gestão. Aí veremos como essa tecnologia é benéfica não apenas
para questões térmicas e ambientais, mas para a própria relação que o homem tem
com os recursos naturais ao seu redor”, conclui.
Fonte: EcoDesenvolvimento