A partir deste mês, 4.600 alunos da rede pública de São Paulo, com idades entre 12 e 14 anos, vão começar a ir para a aula de bicicleta. Os veículos serão distribuídos pela Secretaria Municipal de Educação, que também irá treinar os estudantes para pedalar com segurança. A iniciativa faz parte do projeto Escolas de Bicicleta, que chama a atenção pela vanguarda, mas também pela matéria-prima das bikes: o bambu.
As chamadas bambucicletas são uma criação do designer
carioca Flávio Deslandes, 39 anos, radicado há 12 na Dinamarca. Formado em
Desenho Industrial pela PUC-Rio, ele começou a pesquisar em 1994 a fabricação
de equipamentos à base de bambu, como andadores para portadores de necessidades
especiais. Sua motivação sempre foi associar design moderno com materiais
naturais. “Desde o começo, percebi que o bambu — uma estrutura feita em forma
de tubo pela natureza — tinha um potencial tremendo.” O material é 17% mais
resistente que o aço quando forçado no sentido longitudinal (como nos quadros
de bike) e tem a leveza do alumínio (sem os danos ambientais causados por sua
fabricação). Por ser flexível, resiste a trepidações e dura mais. “Santos
Dumont usou bambu na construção dos primeiros modelos de seus aviões. Então
pensei: vou conseguir fazer uma bicicleta.”
O primeiro protótipo foi apresentado como projeto final de
graduação em 1999 e patenteado em 2005. As peças são coladas entre si usando
uma resina vegetal. Além da eficiência aerodinâmica, o designer vê outras
vantagens no material. A primeira é ambiental: além de abundante, não requer
fertilizantes no cultivo e ainda emite oxigênio enquanto cresce. A segunda é
social, já que o bambu emprega mais de dois bilhões de pessoas ao redor do
mundo.
Deslandes veio especialmente ao Brasil para treinar 15
pessoas das comunidades beneficiadas pelo Escolas de Bicicleta para fabricar os
quadros das quase 5 mil bikes do projeto. Para o designer, a adoção das
bambucicletas abre caminho para tornar a metrópole mais amigável. “Hoje, o
grande obstáculo para o uso de bicicletas nas cidades brasileiras é a
agressividade do trânsito”, afirma. “Um programa como esse prepara os
motoristas para a convivência com ciclistas e forma as crianças, futuras
motoristas, para um trânsito mais humano.”
Fonte: Revista Galileu