Dan Epstein, diretor de sustentabilidade das Olimpíadas,
conta como pretende realizar o evento mais “verde” da história. E dá as dicas
para o Rio não ficar atrás
O pequeno Dan é um homem muito poderoso: tem em seu poder 9
bilhões de libras, algo próximo a 23 bilhões de reais. Essa é a verba destinada
a produzir a Olimpíada de Londres. Embora não seja o chefe do Comitê Olímpico,
é ele quem decide, direta ou indiretamente, como se deve gastar esse dinheiro.
Tudo porque Londres fez uma promessa: promover os jogos olímpicos mais
sustentáveis da história. "Nada é 100% sustentável", disse ele para
ALFA. "Mas estamos realizando uma operação brilhante."
Epstein é um sujeito de poucos sorrisos e olhar desconfiado.
Talvez tenha seus motivos: apesar de entender muito do assunto, sabe que sua
missão está sujeita a questionamentos constantes. Ser sustentável, segundo ele,
implica em um conjunto complexo de ações, que vai desde o reaproveitamento
daquilo que foi demolido para dar lugar a uma nova edificação, até a economia
de combustível para deslocar público e atletas. "Meu trabalho fez com que
o orçamento da Olimpíada subisse de 3 bilhões de libras para os 9 bilhões atuais."
Será que o Rio de Janeiro está preparado para esse custo e essa mentalidade em
2016? "Acho que sim", diz. "Basta muito planejamento e chamar as
pessoas certas, que têm experiência e conhecem o assunto." Embora economia
sustentável seja uma prática recente, Epstein é um pioneiro: atua na área há 30
anos. Formado em bioengenharia e ciências ambientais, trabalhou em projetos
grandiosos e viveu sete anos no Nepal conduzindo um programa de recuperação de
estradas e edifícios.
Em Londres, Epstein pôs a mão na massa. "Demolimos 240
prédios, limpamos e reutilizamos os detritos. Isso significa que 2 milhões de
metros cúbicos de terra foram mantidos no local, o que corresponde a 85% do
material utilizado na obra e a 16 mil caminhões a menos nas estradas - menos
tráfego, menos poluição, menos custos", explica. Uma das principais
providências que Epstein tomou foi diminuir ao máximo o número de automóveis
que circularão durante os jogos. "Não haverá estacionamentos", conta.
"A ida aos estádios será realizada quase totalmente por transporte
coletivo. Isso inclui o deslocamento do público, da imprensa e dos
esportistas." Para tanto, foram investidos mais de 3 bilhões de dólares em
transporte público em 30 locais diferentes da cidade.
Epstein se orgulha principalmente do velódromo: um show de
tecnologia e design para homenagear uma de suas paixões, a bicicleta. "É
um edifício leve como um balão e eficiente como um barco de palha",
declara. O mais importante, porém, será o legado dos jogos: "Estou tendo
apoio da população porque todos percebem que produzo soluções que vão
permanecer no futuro", diz.
De todo jeito, o que ocorre no momento é uma grande guinada
na mensagem que os jogos procuram transmitir ao público. Sinal dos novos
tempos: a Olimpíada sempre estabeleceu uma forte conexão com a paz. Hoje, é com
o meio ambiente. Apesar de suas convicções e do conhecimento técnico, membros
do comitê olímpico inglês reclamaram que a meta de 20% de energia renovável não
foi atingida. "A ideia de uma Olimpíada verde já virou piada", disse
um representante do Partido Verde. Sustentabilidade também envolve política e,
nesse sentido, Dan Epstein parece não estar tão preparado assim.
Fonte: Planeta Sustentável