Hoje (acima) e há três anos (abaixo): uma casa fechada e escura deu lugar a uma lar sustentável.
Mas é o que está dentro da casa que nos trouxe aqui. Em uma sala de estar naturalmente clara e fresca, graças a portas e janelas que proporcionam a ventilação cruzada e claraboias que iluminam os cômodos, Camille nos explica que a casa foi reformada de acordo com os preceitos da permacultura, cujo objetivo é desenvolver práticas mais eficientes para manter uma vida ambientalmente sustentável. E foi assim que, em cinco meses de trabalho, o casal transformou aquela construção horrorosa, como diz Melina, em um lar harmônico.
- Nós só aproveitamos a fundação e as principais paredes. Como a casa já tinha elementos de alvenaria, não pudemos usar adobe (tijolos de barro que são uma das principais características das bioconstruções), então procurei aplicar outros elementos da bioarquitetura, como o telhado verde e o bason - lembra Camille.
A bioarquiteta Camille ao lado da claraboia, que garante mais luminosidade á casa, e Melina em seu telhado verde
Motivo de curiosidade e estranheza, o bason é um vaso sanitário que não está ligado à rede de esgoto e sequer utiliza água. Na parede do banheiro, um quadrinho explica aos visitantes o seu funcionamento: homens também fazem xixi sentados, o número um vai para um compartimento específico, e o número dois escorrega para uma espécie de caixote que fica do lado de fora da casa, onde seca com o calor do Sol e, depois de alguns meses, vira adubo. A "descarga" é feita com serragem e cinzas, que ajudam a eliminar o odor, e um cano externo leva o vapor da secagem para a atmosfera. Tudo muito natural.
- Os animais comem da terra e depois as suas fezes voltam para a mesma terra. O vaso sanitário que a gente conhece existe há pouco mais de um século. O que nós fazemos aqui é retomar uma tradição, mas de uma forma mais higiênica - afirma Melina.
- Os animais comem da terra e depois as suas fezes voltam para a mesma terra. O vaso sanitário que a gente conhece existe há pouco mais de um século. O que nós fazemos aqui é retomar uma tradição, mas de uma forma mais higiênica - afirma Melina.
Motivo de estranheza para muitos, o
Bason é um vaso sanitário que não usa água.
- Nessa casa todos os dias tem visita. A gente está resgatando o conceito de comunidade: um toma conta do filho do outro, divide as frutas que dão no quintal. É assim que se vive de maneira mais integrada - diz Melina.
Para ser completamente sustentável, a casa ainda precisa de alguns ajustes, como uma cisterna para a captação da água da chuva, e placas de energia solar - reformas que demandam um investimento um pouco maior. Mas aos poucos serão feitas, garante Melina. Quando perguntamos se ela usa máquina de lavar roupa, a resposta vem em tom de brincadeira:
- Claro! Eu não sou xiita não, gente!
Em sentido horário: o coqueiro é umas das 15 árvores frutíferas do quintal; compartimento externo onde ficam armazenadas os dejetos do bason; vasinhos com verduras e temperos; maracujá e carambola e inhame na colheita do dia.
Fonte: Globo