Altamira está agora com sua capacidade esgotada em termos de leitos hospitalares, vagas escolares. Foto :André Solnik/Flickr |
Uma pesquisa científica vai
avaliar os impactos sociais e ambientais da construção da usina hidrelétrica de
Belo Monte, próxima à cidade de Altamira, no Pará. A pesquisa tem apoio da FAPESP por meio do
SPEC - São Paulo Excellence Chair, que visa propiciar a vinda ao Brasil de
pesquisadores do exterior para criar núcleos de pesquisa em universidades
paulistas.
Intitulada “Processos sociais e
ambientais que acompanham a construção da hidroelétrica de Belo Monte,
Altamira, PA”, a pesquisa é liderada pelo cubano Emilio Federico Moran,
professor da Michigan State University, nos EUA. Participam da equipe
cientistas da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidade Federal
do Pará e da Universidade Estadual do Pará.
“Começaremos com o levantamento
dos impactos sobre a população urbana”, disse Moran à Agência FAPESP. “Elaborei
junto com meus colaboradores um questionário para entender como a construção da
hidrelétrica está afetando os moradores antigos, o pessoal que já estava aqui.
Depois, enfocaremos os moradores novos, aqueles que vieram atraídos pela obra:
operários, comerciantes, engenheiros, profissionais de vários tipos.”
“No setor rural, parece que temos
duas possibilidades. Pode ser que o crescimento da população urbana em função
da hidrelétrica, fazendo aumentar a demanda de alimentos, promova uma
intensificação agrícola na região. Mas, pode ser também que as obras atraiam
trabalhadores do campo, levando a um enfraquecimento da agricultura familiar
por falta de mão de obra no setor agrícola. As primeiras observações apontam
nesse sentido, mas estamos só começando os estudos”, disse.
Uma terceira linha de pesquisa
vai acompanhar a população ribeirinha. Um contingente de 20 mil pessoas deverá
ser reassentado em razão da barragem.
“Vamos acompanhar de perto essa
população nativa, que será a mais diretamente afetada. Porque os indígenas
conseguiram que a companhia mudasse o plano da barragem, de forma a não terem
efeitos diretos. Terão, sim, efeitos indiretos. Já os ribeirinhos vivenciarão
um reassentamento enorme: muitos povoados ribeirinhos vão ter de mudar e, de
fato, vários já estão sendo removidos na área”, disse Moran.
De acordo com o pesquisador, as
observações preliminares na área permitem perceber que alguns problemas que
ocorreram no exterior já se manifestam também no Pará.
“A população de Altamira dobrou
nos últimos dois anos. Já alcançou 150 mil pessoas. E vários preparativos para
receber essa população foram prometidos, mas não realizados a tempo”, comentou.
“De modo que Altamira está agora com sua capacidade esgotada em termos de
leitos hospitalares, vagas escolares, efetivos de segurança etc., criando-se
uma situação caótica para todos na cidade.”
“Esperamos poder subsidiar
propostas para um planejamento que considere as pessoas tão importantes como a
produção de energia”, disse Moran. A pesquisa deverá se estender até agosto de
2018.
Fonte: Ciclo Vivo