Artigo publicado na Environment and Behavior revela que a
simpatia é muito importante para incentivar atitudes verdes
Qual seria o melhor meio de fazer as pessoas adotarem
atitudes sustentáveis? Pesquisadores franceses e italianos da área de
psicologia fizeram uma experiência para analisar a reação de indivíduos à
promoção de atitudes mais verdes. Publicado na revista Environment and Behavior, o resultado apresentado no artigo trouxe a conclusão de que as
pessoas estão mais abertas a aceitar esse tipo de ideia quando foram abordadas
de forma mais leve e sem acusações.
Na psicologia social existem duas linhas de pesquisa que
trabalham em dois tipos de abordagem na hora de promover mudanças de atitudes e
comportamento. A primeira trabalha com o comprometimento, e é a partir da
liberdade de se escolher uma atitude que esse comprometimento produz uma
tendência à mudança de comportamento. A segunda forma de abordagem seria pela
dissonância cognitiva, isto é, uma provocação no intuito de relembrar as
pessoas de suas atitudes incoerentes, gerando certo sentimento de hipocrisia, o
que de imediato também pode produzir mudanças comportamentais. As duas
mostraram-se maneiras eficientes de incentivo a mudança de atitudes, no
entanto, apenas quando a atitude a ser adotada era imediata. Dessa vez,
propõem-se analisar as duas formas de abordagem em uma situação real e
cotidiana, com um tempo de distância entre a intervenção e a tomada de atitude.
A experiência foi realizada em frente a um supermercado em
Paris, onde os pesquisadores exibiam um cartaz com os dizeres “A Terra não pode
respirar, pare de usar sacolas de plástico, se eu posso você também pode!”.
Eles estabeleceram três grupos de análise. O primeiro seria o das pessoas que
eram abordadas apenas para assinar um documento assegurando sua concordância
com a mensagem (condição de comprometimento), para o segundo era feito o mesmo
pedido, mas, ao final, perguntavam também se eles já tinham usado tais tipos de
sacos que causam problemas para o meio ambiente (condição de hipocrisia). E o
terceiro seria o grupo de pessoas que não foram abordadas para assinar o
documento. A abordagem foi feita antes das pessoas entrarem nos supermercado para
que houvesse um tempo entre a intervenção e a intencionada mudança de atitude:
não pegar as sacolas plásticas gratuitas.
Ao final, os pesquisadores notaram que as pessoas na
condição de comprometimento apresentaram melhores resultados na hora de abandonar
os sacos plásticos pelas sacolas reutilizáveis. As pessoas na condição de
hipocrisia tiveram praticamente o mesmo resultado que o grupo de controle, com
o qual não foi feita a intervenção. A explicação que os psicólogos deram em
relação à eficácia das intervenções, foi que as pessoas em condição de
hipocrisia acham justificativas de defesa por suas transgressões passadas nesse
meio tempo, e na decisão final ao caixa não estão mais dispostas a mudar de
comportamento. Muitas delas, por exemplo, justificam o uso das sacolas
plásticas gratuitas pelo fato de as usarem em casa como sacos de lixo, além de
não quererem pagar pelas sacolas reutilizáveis.
Em 2005, na França, o governo começou a promover campanhas
com ideias sustentáveis, e implantou uma medida na qual os supermercados
deveriam substituir sacolas plásticas por sacolas reutilizáveis, mas muitos
mercados ainda as mantêm com medo de perderem seus clientes. A pesquisa foi
realizada no intuito de chamar atenção para a forma de elaboração de campanhas
que promovem mudança de atitudes, visto que a maior parte delas exige um
intervalo entre a intervenção e a tomada de atitude de fato.
Agora já sabemos, na hora de promover atitudes verdes seja
legal e permita o comprometimento livre da pessoa. Pegar mais leve em
intervenções pode também produzir pegadas mais leves.
Fonte: eCycle