Vandana Shiva nasceu na Índia em
1952, é filósofa com formação em física quântica e autora de diversos livros
(dentre eles Monoculturas da mente, Guerras por água e Biopirataria: a pilhagem
da natureza e do conhecimento). Reconhecida mundialmente como líder e pensadora
de temáticas sociais, políticas e ambientais, foi premiada em 1993 com o Right
Livelihood Award, prêmio considerado uma versão alternativa do Nobel da Paz.
Ela esteve no Brasil em julho e
participou do III Encontro Internacional de Agroecologia, em Botucatu, no
interior de São Paulo. Além de criticar o modelo do agronegócio mundial,
forneceu pistas alternativas para se pensar a produção de alimentos no mundo.
Vandana afirma que o atual sistema transforma as pessoas apenas em consumidores
de suas mercadorias e não em seres humanos que precisam de uma vida saudável.
A indiana fez parte de um grupo
de 300 cientistas de todo mundo que se dedicam a pesquisar a agricultura e
concluiu, após três anos de estudos, que nem a Revolução Verde da década de
1950, nem o uso intensivo das sementes transgênicas e dos agroquímicos podem
resolver os problemas da alimentação mundial. Na prática, as grandes
multinacionais do agronegócio chegam a controlar 58% de toda produção agrícola
do mundo, porém, dão trabalho para apenas 3% das pessoas que vivem no meio
rural.
Alimentar o mundo, para ela, é
algo que só pode acontecer por meio da recuperação de práticas agroecológicas
que convivam com a biodiversidade. O modelo da agroecologia permite aumentar a
produtividade sem destruir a diversidade biológica do meio, produz alimentos
sadios e cria empregos e formas de vida que evitam a migração das populações do
campo para as periferias das grandes cidades.
Recomendações aos jovens
Vandana Shiva fez seis
recomendações aos jovens - especialmente aos estudantes de agronomia, que
muitas vezes se formam dentro da lógica dominante e reproduzem o pensamento do
agronegócio:
1. A base da agroecologia é a
preservação e a valorização dos nutrientes que há no solo. “Precisamos aplicar
técnicas que garantam a saúde do solo, e dessa saúde, recolheremos frutos com
energia saudável”.
2. Estimular que os agricultores
controlem as sementes. As sementes são a garantia da vida. “Nós não podemos
permitir que as empresas transnacionais transformem nossas sementes em meras
mercadorias. As sementes são um patrimônio da humanidade”.
3. Precisamos relacionar a
agroecologia com a produção de alimentos saudáveis, que garantam a saúde e
conquistem os corações e mentes da população da cidade, que está sendo cada vez
mais envenenada pelas mercadorias com agrotóxicos. “Se vincularmos os alimentos
com a saúde das pessoas, ganharemos milhões de pessoas da cidade para a nossa
causa”.
4. Precisamos transformar os
territórios em que os camponeses têm hegemonia em verdadeiros santuários de
sementes, de árvores sadias, de cultivo da biodiversidade, de criação de
abelhas e de diversidade agrícola.
5. Precisamos defender a ideia
que faz parte da democracia: a liberdade das pessoas de terem opções de
alimentos. Elas não podem mais ser reféns dos produtos que as empresas colocam
nos supermercados de acordo com a sua vontade.
6. Precisamos lutar para que os
governos parem de usar dinheiro público – que é de todo o povo – para subsidiar
fazendeiros. Isso vem acontecendo em todo o mundo e também na Índia. O modelo
do agronegócio não se sustenta sem os subsídios e vantagens fiscais que os
governos lhes garantem.
Fonte: Superinteressante