O metano (CH4) responde por metade da emissões de
gases
efeitoestufa de todo o agronegócio / SXC.Hu
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As emissões globais de gases de
efeito estufa do setor agropecuário somaram 4,69 bilhões de toneladas de
dióxido de carbono (CO2) equivalente em 2010 (o ano mais recente com dados
disponíveis), um aumento de 13% sobre as emissões de 1990, de acordo com um novo
relatório do Worldwatch Institute.
Por comparação, as emissões
globais de CO2 provenientes dos transportes totalizaram 6, 7 bilhões de
toneladas naquele ano, enquanto as emissões de energia elétrica atingiram 12, 4
bilhões de toneladas.
Não se engane pelos números, nem
pela aparência bucólica e pacata dos animais. Apesar da agropecuária ter taxas
inferiores às demais, o setor é o grande responsável pela liberação de metano
na atmosfera, um gás de efeito estufa com potencial de aquecimento 25 vezes maior
que o CO2.
Na ponta do lápis, o metano
responde por metade da emissões de todo o agronegócio, que sozinho é
responsável por 25% das emissões globais de GEE. A fermentação entérica - a
digestão de materiais orgânicos pelos ruminantes - é a maior fonte dessa
emissão, que é liberada pela flatulência e arrotos de animais, como vacas, cabras
e ovelhas.
De acordo com o estudo, as
emissões por fermentação entérica subiram 7,6% em todo o mundo entre 1990 e
2010, mas a variação regional foi alta. De 51,4% e 28,1%, respectivamente, na
África e Ásia, enquanto as emissões na Europa e Oceania caíram 48,1% e 16,1%.
Essa redução significativa da
Europa em emissões pode estar não só associada ao declínio de produção de carne
bovina no continente entre 1990 e 2010, mas ao aumento do uso de grãos e óleos
na alimentação do gado em vez de gramíneas.
“Mas uma mudança a partir de uma
dieta a base de gramíneas para uma de grão e oleaginosas muitas vezes acompanha
a mudança para uma produção baseada no confinamento de engorda concentrada, que
pode ter uma série de consequências negativas, como a poluição da água e alto
consumo de combustíveis fósseis", afirma a pesquisadora Laura Reynolds,
uma das autoras do estudo.
Segundo ela, “não há outro
caminho claro para tornar a produção de carne de gado mais sustentável que não
passe por reduzir as populações de animais em geral”. Não se deve ignorar que o
apetite da humanidade por carne vermelha é o grande agente de estímulo dessa
cadeia.
Alguns cientistas já estudam a
criação em laboratório de carne artificial, que teria a capacidade de reduzir
entre 78% e 96% as emissões de gases efeito estufa associadas à produção
convencional.
Os outros dois vilões do campo
O metano está entre os três gases
mais comuns emitidos pelo setor, que incluem ainda o óxido nitroso e o CO2.
Dentre eles, o óxido nitroso (N2O) é responsável por cerca de 36% das emissões
de gases de efeito estufa agrícolas, segundo o estudo. Solos de ecossistemas
tropicais são considerados maiores emissores naturais de óxido nitroso.
Entretanto, as emissões mundiais
de N2O estão ganhando fôlego, estimuladas pelo uso desenfreado de fertilizantes
sintéticos. Só na China, o uso excessivo dessas substâncias, que serviram de
pilar da "Revolução Verde", está se transformando em um vilão
ambiental.
Além disso, o estrume que é
depositado no solo das pastagens contribui para as emissões globais de óxido
nitroso por causa de seu alto teor de nitrogênio.
Finalmente, o terceiro gás mais
emitido pelo agronegócio é o dióxido de carbono, liberado pelo solo quando a
matéria orgânica se decompõe aerobicamente (com oxigênio). A maior fonte de
emissões de CO2 na agricultura é a drenagem e cultivo de "solos
orgânicos", solos em zonas húmidas, pântanos, brejos ou com alto teor de
material orgânico.
Quando estas áreas são drenadas
para o cultivo, a matéria orgânica no solo decompõe-se a uma taxa rápida,
libertando CO2. Este processo é responsável por cerca de 14% das emissões totais
de gases de efeito estufa agrícolas, de acordo com o relatório do Worldwatch
Institute.
Caminhos mais seguros
Embora a redução das populações
de animais se apresente como uma forma clara para reduzir as emissões do
agronegócio global, os agricultores e proprietários de terras têm inúmeras
outras oportunidades de mitigação, muitos dos quais oferecem co-benefícios
ambientais e até econômicos.
Por exemplo, o cultivo de árvores
lenhosas e perenes em terra pode sequestrar carbono, ao mesmo tempo em que
ajuda a restaurar os solos, reduzir a contaminação da água e fornecer
benefícios para o habitat dos animais selvagens.
Algumas práticas podem até mesmo
resultar em aumento de renda para os agricultores, através de programas
"cap-and-trade", onde ao criar e conservar áreas plantadas, os
agricultores poderiam comercializar licenças de emissões.