O mundo encontra-se em processo de mudança e todas as
relações, tais quais conhecemos hoje, devem adaptar-se a uma nova realidade nos
próximos anos. E o trio de fatores que aparentou ser um indício de uma
catástrofe de ordem mundial (o aquecimento global, a crise econômica e a falta
de emprego) pode ser o que a humanidade precisava para criar um novo movimento
em prol do desenvolvimento sustentável.
Uma das soluções para reverter o atual quadro é o
investimento em “empregos verdes”. Esse conceito, difundido em todo o planeta
como “Green Jobs”, estimula a criação de novos postos de trabalho e carreiras
profissionais voltadas à sustentabilidade, em áreas como agricultura,
engenharia, indústria e serviços.
A preocupação climática e ambiental, a escassez de recursos
energéticos e o surgimento de um mercado consumidor mais atento incitam valores
de responsabilidade, transparência, produtividade, criatividade e inovação por
parte das empresas, sendo este o momento de uma guinada e reformulação dos
atuais modelos de negócios.
Profissionais trabalham em um Telhado Verde - novos mercados
estão surgindo/Foto:Green for all
Segundo a pesquisa “Carreiras do Futuro”, realizada pelo
Programa de Estudos do Futuro (Profuturo) da Fundação Instituto de
Administração (FIA), entre as seis carreiras mais promissoras até 2020, gerente
de ecorelações é a que possui maior tendência de crescimento e oportunidade de
negócio. Este profissional irá se comunicar e trabalhar com consumidores,
grupos ambientais e agências governamentais para desenvolver e maximizar
programas ecológicos.
A pesquisa revelou que os aspectos mais importantes dos empregos
verdes estão relacionados à inovação, busca por qualidade de vida e preocupação
com a relação desenvolvimento econômico e meio ambiente. Daqui pra frente
haverá pressão pela busca de alternativas de baixo impacto ambiental, seja na
fase de desenvolvimento, produção/processo ou mesmo na fase de descarte e, no
limite, na redução da poluição resultante.
Essas tendências não atuarão de forma isolada e sim
interdependente, o que propicia a ação de uma sobre a as outras. Com isso, será
possível ver, por exemplo, a busca de qualidade de vida e preocupação com o
meio ambiente pressionando por inovações em diversas áreas.
Os empregos verdes devem se multiplicar na cidade e também
no campo/Foto:ecofriendlymag
Impacto nas empresas
Essa nova configuração nas relações de trabalho tem feito
muitas empresas embarcarem no denominado "radical greening", ou
“esverdeamento radical”. O movimento subiu da nona para a quarta posição no
ranking dos 10 fatores mais desafiadores para as companhias, divulgado pelo
“Relatório de Riscos para os Negócios 2009” da Ernst & Young.
Mas o que poderia ser um problema trata-se, na verdade, de
uma oportunidade de tamanho maior ou igual, foi o que afirmou o diretor da
empresa de consultoria, Joel Bastos, em entrevista à revista Ideia Socioambiental.
“Quando um setor é afetado por um risco qualquer, se identificá-lo de maneira
adequada e agir estrategicamente, poderá enxergar melhor a oportunidade
relativa a esse desafio", avalia.
O Bundestag, parlamento alemão, definiu novas leis para estimular
investimentos nas energias renováveis visando a redução da emissão de 250
milhões de toneladas de CO2 em 2020 e uma participação das energias renováveis
na produção de 30% da eletricidade no mesmo ano. Com isto, a tecnologia
ambiental será quadruplicada até alcançar 16% da produção industrial em 2030,
levando o emprego no setor a superar o da indústria automobilística e de
máquinas e ferramentas daquele país.
Investimentos na eficiência energética nos edifícios gerarão
3,5 milhões de empregos verdes na Europa e nos Estados Unidos. A reciclagem e a
gestão de dejetos empregam cerca de 10 milhões de pessoas na China, onde o
capital de risco verde duplicou até alcançar 19% do total dos investimentos
realizados nos últimos anos.
O profissional do futuro
A capacidade de visão de futuro e uma formação
multidisciplinar são elementos chaves para os profissionais que querem se
dedicar aos empregos verdes. O desafio será sempre relacionar os interesses
econômicos com a responsabilidade social e a eficiência ambiental e assim
desenvolver uma estratégia sustentável da organização.
As novas áreas estão em todos os níveis, desde stakeholders,
gestores e empresários com novos modelos de gestão, aos técnicos e criadores. E
já é possível encontrar esses profissionais nos mais diversos ambientes, como:
- Construção e reforma de edifícios, de forma a torná-los mais eficientes e sustentáveis;
- Geração de eletricidade a partir de fontes renováveis;
- Desenvolvimento e produção de veículos mais eficientes;
- Desenvolvimento de biocombustíveis;
- Avaliação e melhoria da eficiência energética em indústrias, residências e comércio;
- Produção de bens a partir de processos e materiais sustentáveis;
- Produção de alimentos orgânicos;
- Reciclagem e reaproveitamento do lixo;
- Tratamento, melhoria da eficiência e conservação da água, etc.
"Esses esforços não serão bem sucedidos se não
investirmos nas pessoas que farão esses trabalhos" - Rachel Gragg/Foto:
Chronicle/Paul Chinn
“Novas tecnologias requerem novos conhecimento”, afirmou a
diretora da Workforce Alliance, Rachel Gragg, ao site Career Builder. “Adotar
práticas de energias limpas é fundamental para o bem-estar da nação, mas esses
esforços não serão bem sucedidos se não investirmos nas pessoas que farão esses
trabalhos. Nós precisamos de pessoas para instalar milhões de painéis solares,
construir e fazer a manutenção de plantas energéticas alternativas, criar
edifícios mais eficientes e manter e reparar os veículos híbridos”, ela
completa.
E são essas oportunidades que chamam a atenção dos
profissionais que estão de olho no futuro. Para o diretor da consultoria Ideia
Sustentável, Ricardo Voltolini, as empresas precisarão cada vez mais de
profissionais de diferentes formações, capazes de pensar o negócio a partir de
uma estratégia de sustentabilidade. Serão economistas e planejadores preparados
para reordenar novas equações de custo-preço ambientalmente honestas,
contadores capazes de tangibilizar os ativos socioambientais e cientistas
prontos para fazer pesquisa aplicada à inovação e ao desenvolvimento de
tecnologias sustentáveis.
"Vivemos uma situação de crise financeira na qual a
moeda pesa muito. Mas imagino que diante dessas dificuldades, o mundo passe a
atribuir menos valor ao dinheiro e mais a outros tipos de moeda como
conhecimento, tecnologias e meio ambiente", ressalta José Roberto Kassai,
professor da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras
(FIPECAFI).
É esperar (e se preparar) para ver.
Fonte: EcoDesenvolvimento