"No começo achei que minha
luta era para salvar a comunidade seringueira, depois a floresta, mas hoje
percebo que minha luta é pra salvar a humanidade." - Chico Mendes
Palavras como essas do
seringueiro, sindicalista, ativista ambiental e revolucionário brasileiro
Francisco Alves Mendes Filho - o Chico Mendes -, não haviam mobilizado sua
filha Elenira Mendes, de 28 anos, até meados de 2002, ano em que a primogênita
teve conhecimento de uma foto dela, ainda recém-nascida, nos braços do pai.
Fotografia cujo verso guardava a dedicatória que mudaria a sua vida: "És a
vanguarda da esperança. Darás continuidade, um dia, à luta que teu pai não
conseguirá vencer".
Atualmente, Elenira lembra a
memória de seu pai, assassinado há 25 anos, com um ciclo de palestras que será
realizado em todo o Brasil e que compõe a campanha Chico Mendes para Sempre. A
primeira parada foi no Centro Universitário Jorge Amado, em Salvador, no dia 11
de abril, onde a ativista falou sobre a importância da preservação ambiental.
Também presidente do Instituto
Chico Mendes, Elenira realiza ações de educação ambiental baseadas no legado
deixado pelo seu pai, abordando formas de manter a Amazônia equilibrada e
preservada, de forma que possibilite a integração entre o ser humano e o meio
ambiente. Um dos trabalhos é o livro A História de Chiquinho, desenhado pelo
cartunista Ziraldo Pinto, com foco em sustentabilidade.
"Temos a mania de jogar toda
a responsabilidade para o poder público, mas temos que olhar para dentro de nós
e nos enxergar como agentes transformadores. Se um seringueiro semianalfabeto
conseguiu mudar a história do seu estado quando não haviam tantos recursos
tecnológicos, por que não podemos fazer a diferença hoje?", provoca a ambientalista.
Em entrevista exclusiva ao EcoD,
Elenira comentou sobre alguns assuntos que marcaram a trajetória de luta de
Chico Mendes e que hoje estão mais presentes na sociedade.
Seringueiros: "Entre as
décadas de 1960 e 1980, a luta dos seringueiros era para continuar em suas
localidades extraindo o látex [leite da seringueira que produz a borracha]. Na
verdade, esse foi o primeiro passo da luta do meu pai: resguardar o direito dos
seringueiros de permanecer em suas locações e extrair o material responsável
por sua sobrevivência".
Segundo a ambientalista, hoje os
seringueiros que estavam morando na cidade voltaram para o seringal e continuam
trabalhando com látex, mas agora, em condições melhores. A atividade no local
ainda é forte.
Reserva extrativista: "Esse
pode ser considerado o ponto X da luta de Chico Mendes. Ele lutou para que
fossem criadas reservas extrativistas e hoje temos várias unidades de
preservação permanente, sob os cuidados do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ibama. A estratégia nasceu do
coração dos seringueiros, no Acre, e hoje temos Áreas de Preservação
Permanentes (APPs) espalhadas por todo o Brasil."
Assassinato de líderes
extrativistas: Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a
Secretaria de Diretos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) consideram
justa a condenação dos executores dos líderes extrativistas José Claudio
Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados há dois anos
no Pará.
Sobre o assunto, a ambientalista
declarou que "essa é uma questão que ainda precisa melhorar muito no
Brasil. Ainda há conflitos de terra em nosso país e a justiça precisa ser mais
punitiva. É inadmissível que, após 25 anos da morte brutal de meu pai,
repercutida no mundo inteiro, pessoas continuem sendo assassinadas por
isso", desabafa.
Código Florestal: "O código
aprovado tem várias deficiências, até mesmo maiores que o anterior. A redução
das APPs e a anistia para os desmatadores, por exemplo, são duas das mudanças
mais graves a meu ver. A questão financeira seria uma boa forma de punir essas
pessoas, não poderíamos perder isso e foi o que aconteceu".
Usina Belo Monte: "Esse é um
assunto delicado, pois trata de uma questão que tem sido muito discutida
atualmente, que são as políticas públicas indo de encontro às comunidades
tradicionais de base. As coisas estão sendo 'empurradas' sem uma consulta
prévia à população. Isso precisa ser modificado".
Fonte: Ecodesenvolvimento.com