sexta-feira, 12 de abril de 2013

Presságio: Filha de Chico Mendes segue os passos do pai


"No começo achei que minha luta era para salvar a comunidade seringueira, depois a floresta, mas hoje percebo que minha luta é pra salvar a humanidade." - Chico Mendes



Palavras como essas do seringueiro, sindicalista, ativista ambiental e revolucionário brasileiro Francisco Alves Mendes Filho - o Chico Mendes -, não haviam mobilizado sua filha Elenira Mendes, de 28 anos, até meados de 2002, ano em que a primogênita teve conhecimento de uma foto dela, ainda recém-nascida, nos braços do pai. Fotografia cujo verso guardava a dedicatória que mudaria a sua vida: "És a vanguarda da esperança. Darás continuidade, um dia, à luta que teu pai não conseguirá vencer".

Atualmente, Elenira lembra a memória de seu pai, assassinado há 25 anos, com um ciclo de palestras que será realizado em todo o Brasil e que compõe a campanha Chico Mendes para Sempre. A primeira parada foi no Centro Universitário Jorge Amado, em Salvador, no dia 11 de abril, onde a ativista falou sobre a importância da preservação ambiental.

Também presidente do Instituto Chico Mendes, Elenira realiza ações de educação ambiental baseadas no legado deixado pelo seu pai, abordando formas de manter a Amazônia equilibrada e preservada, de forma que possibilite a integração entre o ser humano e o meio ambiente. Um dos trabalhos é o livro A História de Chiquinho, desenhado pelo cartunista Ziraldo Pinto, com foco em sustentabilidade.

"Temos a mania de jogar toda a responsabilidade para o poder público, mas temos que olhar para dentro de nós e nos enxergar como agentes transformadores. Se um seringueiro semianalfabeto conseguiu mudar a história do seu estado quando não haviam tantos recursos tecnológicos, por que não podemos fazer a diferença hoje?", provoca a ambientalista.

Em entrevista exclusiva ao EcoD, Elenira comentou sobre alguns assuntos que marcaram a trajetória de luta de Chico Mendes e que hoje estão mais presentes na sociedade.

Seringueiros: "Entre as décadas de 1960 e 1980, a luta dos seringueiros era para continuar em suas localidades extraindo o látex [leite da seringueira que produz a borracha]. Na verdade, esse foi o primeiro passo da luta do meu pai: resguardar o direito dos seringueiros de permanecer em suas locações e extrair o material responsável por sua sobrevivência".

Segundo a ambientalista, hoje os seringueiros que estavam morando na cidade voltaram para o seringal e continuam trabalhando com látex, mas agora, em condições melhores. A atividade no local ainda é forte.

Reserva extrativista: "Esse pode ser considerado o ponto X da luta de Chico Mendes. Ele lutou para que fossem criadas reservas extrativistas e hoje temos várias unidades de preservação permanente, sob os cuidados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), do Ibama. A estratégia nasceu do coração dos seringueiros, no Acre, e hoje temos Áreas de Preservação Permanentes (APPs) espalhadas por todo o Brasil."

Assassinato de líderes extrativistas: Recentemente, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e a Secretaria de Diretos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) consideram justa a condenação dos executores dos líderes extrativistas José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, assassinados há dois anos no Pará.

Sobre o assunto, a ambientalista declarou que "essa é uma questão que ainda precisa melhorar muito no Brasil. Ainda há conflitos de terra em nosso país e a justiça precisa ser mais punitiva. É inadmissível que, após 25 anos da morte brutal de meu pai, repercutida no mundo inteiro, pessoas continuem sendo assassinadas por isso", desabafa.

Código Florestal: "O código aprovado tem várias deficiências, até mesmo maiores que o anterior. A redução das APPs e a anistia para os desmatadores, por exemplo, são duas das mudanças mais graves a meu ver. A questão financeira seria uma boa forma de punir essas pessoas, não poderíamos perder isso e foi o que aconteceu".

Usina Belo Monte: "Esse é um assunto delicado, pois trata de uma questão que tem sido muito discutida atualmente, que são as políticas públicas indo de encontro às comunidades tradicionais de base. As coisas estão sendo 'empurradas' sem uma consulta prévia à população. Isso precisa ser modificado".

Fonte: Ecodesenvolvimento.com 
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