segunda-feira, 29 de abril de 2013

Picanha sem queimada



O ano de 2009 não suscita boas lembranças aos frigoríficos brasileiros que mantêm operações na Amazônia. Foi nessa data que eles se viram sob a mira de duas instituições com potencial para transformar a vida de qualquer empresa num inferno: o Ministério Público e a ONG Greenpeace. A acusação de ambos era que os frigoríficos estavam envolvidos com o desmatamento da região ao comprar carne de milhares de pecuaristas que desrespeitam a legislação ambiental.

As denúncias também mancharam a imagem dos varejistas, entre eles os três maiores do país: Walmart, Carrefour e Pão de Açúcar. Afinal, eles tinham esses frigoríficos como importantes fornecedores de carne e, segundo o Greenpeace, eram "parceiros silenciosos do crime". Na época, todos os envolvidos declararam que se mexeriam para resolver o problema.

Parte dos grandes frigoríficos criou políticas para monitorar a ação dos pecuaristas de quem compra. Já os varejistas, por meio da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), apresentaram no final de 2009 um programa ambicioso de controle de origem da carne. Ele incluía severas exigências para os frigoríficos. Na prática, porém, passados quase quatro anos, pouco avançou. A boa notícia é que pelo menos um dos projetos lançados com base nas denúncias saiu do papel.

Ao ver que o sistema imaginado pela Abras emperrava, o Walmart decidiu criar o próprio programa. A empresa começa agora a divulgar as medidas adotadas para reduzir o risco de que sua marca volte a ser associada ao desmatamento.

O passo mais audacioso dado pelo varejista é que ele tem agora um sistema de tecnologia que lhe permite calcular o "risco socioambiental" de cada uma das fazendas que abastecem seus supermercados. Até 2015, todo o fornecimento de carne poderá ser rastreado. Funciona da seguinte forma: feito um pedido de carne pelo software, os frigoríficos informam ao varejista dados da propriedade que irá suprir aquela demanda. O sistema cruza essas informações com imagens de satélite e dados oficiais do governo. Após o cruzamento, o programa qualifica o pecuarista com base em critérios: a propriedade não pode estar localizada em área indígena, protegida, embargada pelo Ibama ou que tenha sido desmatada após outubro de 2009. Além disso, deve estar fora da lista suja do trabalho escravo. Se infringir qualquer uma dessas normas, a fazenda será tachada de "inapta", o pedido será bloqueado e o frigorífico terá de suprir o varejista com carne de outra propriedade. O pecuarista não será, porém, banido para sempre. "Queremos que os produtores sejam mais responsáveis e, por isso, eles ganharão tempo para se adequar", diz Maurício Almada, diretor de perecíveis do Walmart.

Monitoramento

O sistema começou a ser desenvolvido em 2011 e, desde meados do ano passado, vem sendo testado com a ajuda do frigorífico JBS, o maior do mundo.

Só na Amazônia o JBS negocia com cerca de 30 000 fornecedores de carne. O curioso é que JBS e Marfrig, outro grande frigorífico, já tinham os próprios sistemas de rastreamento. Por que então o Walmart investiu tempo e 500 000 reais para ter seu software de rastreamento? Diz Almada: "Sempre que fomos questionados pela opinião pública tivemos de nos comportar como meros espectadores porque não tínhamos controle da cadeia como um todo". A meta do varejista é que até junho deste ano todos os frigoríficos comecem a fornecer dados para o sistema. Caso isso não ocorra, eles terão as vendas para o varejista suspensas. O objetivo é que em dois anos o programa monitore 100% da produção de carne vinda da região.

A iniciativa do Walmart pode ajudar a reduzir o impacto da pecuária no desmatamento. Não vai, porém, solucionar de vez o problema. Como apontam especialistas do Imazon, ONG dedicada à pesquisa na Amazônia, os sistemas de rastreamento ainda não incluem o primeiro elo da cadeia: as fazendas que vendem novilhos aos produtores que vão engordá-los para fornecer aos frigoríficos. "Ainda assim, não há dúvidas de que o movimento do Walmart deve ser elogiado", diz Marcio Astrini, coordenador do Greenpeace na Amazônia.

Fonte: Planeta Sustentável

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