O aumento recente do preço da
gasolina tem feito com que muitos brasileiros fiquem em estado de pânico quando
precisam ir ao posto para abastecer. Derivado do petróleo, o combustível fóssil
que já não fazia bem ao meio ambiente, agora tornou-se também um vilão do bolso
dos consumidores.
Mas que tal usar o etanol
proveniente das cascas do eucalipto? A novidade ainda não está disponível em
escala comercial, mas já está presente nos laboratórios do curso de engenharia
de energia da PUC Minas, onde estudantes do segundo período, orientados pelo
professor Otávio de Avelar Esteves, obtiveram o biocombustível a partir do
processamento dessa parte específica da planta.
Vale lembrar que enquanto as
reservas de petróleo do mundo se tornam mais escassas e de mais difícil acesso
e os preços dos combustíveis fósseis sobem, a demanda por etanol cresce no país
com a expansão da frota de veículos flex, mas não é acompanhada por um aumento
proporcional na produção. É por essas razões que os estudantes de Minas Gerais
defendem que o procedimento deva ser adotado em larga escala no país.
"Uma tonelada de cana produz
cerca de 80 litros de etanol, enquanto uma tonelada de casca fresca de
eucalipto produz 106, ou seja, no mínimo 20% a mais. É importante lembrar que a
casca degrada mais rapidamente que a cana e perde açucares mais
rapidamente", destacou ao jornal O Estado de Minas o pesquisador Juliano
Bragatto, autor de uma tese de doutorado desenvolvida na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP), em
novembro de 2011.
Dados do estudo apontam que a
casca do eucalipto tem 20% menos carboidratos do que a de cana, mas como ela
tem mais hidratos de carbono que podem sofrer fermentação (83%, contra 65% da
cana), em um balanço final a casca fresca de eucalipto teria uma vantagem de
cerca de 6%.
Bragatto acredita que a tendência
de aproveitar a biomassa deva crescer nos próximos anos em todo o mundo e
defende que o Brasil precisa aproveitar isso. "Nosso país é o que chamam
de 'hotspot de biomassa', temos o bagaço da cana e o rejeito de eucalipto em
abundância", explicou.
O pesquisador lembrou que as
condições climáticas e de luminosidade são ideais no país para o crescimento
das culturas de cana e de eucalipto. Bragatto sugeriu que a casca de eucalipto
deva começar a ser aproveitada pela indústria de celulose nos próximos anos
para produzir bioplástico ou para etanol.
Efeito de comparação
Na comparação com a cana, o
pesquisador observou que o caldo ganha da casca de eucalipto por produtividade:
"Um hectare de cana-de-açúcar produz cerca de 6 mil litros de etanol,
enquanto um de casca de eucalipto produz 2,6 mil litros. Já o hectare de milho
e de beterraba produz cerca de 3 mil litros, e é bom lembrar que eles são
alimentos."
Os estudantes Pedro Henrique
Alves da Silva, de 19 anos, Paulo Henrique Roversi, de 19, Carolina Maria de
Oliveira, de 18, Gabriel Fabel, de 18, e Elena Velloso, de 20, são mais
otimistas. "A produção da casca é mais barata e vantajosa e pode ser muito
mais barata se for feita em escala industrial", avaliou Pedro Henrique.
Ele lembrou que a casca de eucalipto não concorre com a indústria alimentícia,
não passa por períodos de entressafra e não é usada para a produção de
celulose.
Laboratório e indústria
O consultor da União da Indústria
de Cana-de-açúcar (Unica), Alfred Szmarc, contou que existem várias iniciativas
no país e no mundo para consolidar o processo de produção de etanol celulósico
a partir do bagaço e da palha da cana, mas defende que a possibilidade de o
insumo ser obtido em larga escala a partir de cascas de eucalipto ainda tem que
ser demonstrada.
"Acho ótimo ouvir sobre
essas iniciativas e torço para que deem realmente certo. Mas, pelo que conheço
do assunto, acredito que a competitividade do etanol de cana é maior. Nem
sempre é possível reproduzir em escala industrial o que é feito em laboratório
e projetos para se produzir álcool a partir de madeira existem no país desde a
década de 1970", relatou.
De qualquer forma, não se
surpreenda caso estacionar em um posto de combustíveis em um futuro próximo e
tiver a seguinte opção para escolher junto ao frentista: - Por favor: pode
encher o tanque de etanol de eucalipto!
Fonte: Ecodeselvolvimento