segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Cidade sueca produz apenas 1% de resíduo



Bons investimentos públicos reduzem gastos, melhoram a vida da população e ajudam o meio ambiente

O Brasil está entre as dez maiores economias do mundo, mas continua tendo índices de desigualdade (como o Coeficiente de Gini e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que deixam a desejar. Por esse motivo, muitas vezes o Estado brasileiro ainda é visto como um empecilho e não como um parceiro para melhoria da vida da população. Uma característica dos países que despontam com bons índices de IDH e Gini é o investimento em infraestrutura e uma relação de parceria entre o Estado e a população.

Uma prova do sucesso dessa administração pública é a cidade de Boras, na Suécia. O município conseguiu reduzir em 99% o volume de lixo destinado aos aterros, ao investir em tecnologia e contar com a ajuda da população. Dessa forma, houve diminuição no valor da conta de luz e também no preço do transporte público. A relação do lixo com o setor energético e de transportes foi feita através da implantação do processo de biodigestão dos resíduos, da técnica de incineração gaseificada e da coleta seletiva eficiente. Todas essas práticas juntas despoluíram o rio Viskan, que já foi um esgoto a céu aberto, e permitiram à cidade alcançar o incrível índice de produção de apenas 1% de resíduos destinados aos aterros sanitários.

Biodigestão

O benefício da biodigestão é aproveitar ao máximo o lixo. Esse processo funciona como uma composteira seca em grande escala e num sistema fechado. Ou seja, as bactérias decompõem o lixo orgânico, que neste caso pode ser de qualquer origem, inclusive dejetos humanos e de animais, mas com o diferencial de que todos os gases produzidos no processo não são lançados na atmosfera. A decomposição da matéria orgânica produz metano (CH4) e gás carbônico (CO²), gases que são a composição básica do biogás, podendo ser utilizado em diversos setores da economia em substituição ao gás natural e GLP, dois combustíveis de origem fóssil, além da possibilidade de ser utilizado na indústria, em termelétricas e na frota de veículos do transporte público. Assim como em uma composteira, os resíduos finais são biofertilizantes ricos em nutrientes.

Nos lixões, esses gases da decomposição são liberados para a atmosfera, intensificando o problema do aquecimento global. Em aterros, o metano (CH4) costuma ser queimado, mas sem uma finalidade muito específica, apenas para que ele se transforme em gás carbônico e diminua seu impacto na atmosfera. O CH4 é um gás de efeito estufa cujo efeito é da ordem de 20 vezes superior ao CO², contribuindo fortemente para o desequilíbrio do efeito estufa.

Reciclagem e gaseificação

O sistema de reciclagem em Boras é muito eficiente e conta com a importante participação da população. O lixo doméstico é colocado em sacos de lixo de duas cores, um para lixo orgânico e outro para lixo reciclável. Uma máquina diferencia as cores dos sacos e faz a triagem inicial. Uma outra opção é a venda em pontos de coleta em supermercados - basta colocar o lixo na máquina para receber um valor de acordo com o volume de material. Separar o orgânico do lixo reciclável já é uma maneira de potencializar a reciclagem no município e facilitar o andamento dessa cadeia produtiva em qualquer país.

A parcela de lixo que não é orgânico nem reciclável é incinerada, mas não da maneira tradicional (em que tudo é transformado em cinzas e CO²). O processo utilizado é conhecido como gaseificação, no qual o resíduo é incinerado em alta pressão junto com vapor d’água e ar. Assim, além de alimentar termelétricas, o syngas, um gás sintético que é matéria prima para diversos produtos, dentre eles fertilizantes e combustível, também é produzido. Já o calor dos gases residuais é aproveitado em uma rede de aquecedores urbanos, evitando o consumo de qualquer outro combustível para gerar calor.

Um processo tão eficiente e prático pode exigir, de início, uma quantia elevada de recursos financeiros, mas as consequências do manejo inadequado do lixo são decerto muito mais caras aos cofres públicos do que o investimento em tecnologia e conscientização. Com o manejo adequado dos resíduos urbanos, a cidade de Boras caminha para a independência de combustíveis fósseis ao usar o biogás para produzir energia e mover o transporte público. A cidade inclusive importa lixo orgânico dos países vizinhos para alimentar seus biodigestores. Assim, o retorno dessa independência dos combustíveis traz benefício tanto financeiramente, quanto para o meio ambiente.

Boras é uma cidade pequena, com cerca de 60 mil habitantes. Embora seja complexa a implantação de um projeto similar em grandes metrópoles como São Paulo, com população de 11 milhões de pessoas, essa pequenas iniciativas podem servir de modelo para o desenvolvimento e alternativas focadas na realidade das cidades brasileira.


Fonte: eCycle

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