O esgoto doméstico pode se tornar
um aliado da agricultura. Pesquisadores da Universidade Federal Fluminense
(UFF) estão desenvolvendo um adubo, feito com lodo produzido em estações de
tratamento de esgoto, que se mostrou mais eficiente que os fertilizantes
comerciais.
Fruto de parceria da UFF com a
prefeitura de Volta Redonda (RJ) e o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae)
da cidade, os experimentos vêm sendo conduzidos em uma estação de tratamento do
município desde 2011.
Segundo a pesquisadora Fabiana
Soares dos Santos, que coordena a equipe de cinco professores da UFF e alunos
de iniciação científica, o uso agrícola do lodo é uma boa ideia porque
"alia o baixo custo com o impacto ambiental extremamente positivo".
O lodo de esgoto doméstico é o
resíduo gerado no tratamento do esgoto sanitário e pode causar sérios problemas
ambientais se disposto de forma inadequada. Em vez de ser descartado nos
aterros, ele vira matéria-prima para a produção do fertilizante, por ser fonte
de matéria orgânica e nutrientes para as plantas.
Mas esse lodo pode conter certas
substâncias que, em determinadas concentrações, são nocivas ao meio ambiente e
à saúde. Por isso, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) publicou em
2006 a Resolução n.º 375, que define quais são os níveis máximos de poluentes
que o lodo de esgoto pode ter para ser usado na agricultura.
O fertilizante feito pela equipe
da UFF foi criado com base uma mistura desse lodo com resíduos das podas de
árvores feitas pela prefeitura. Durante quatro meses, os pesquisadores fizeram
a compostagem desses materiais e analisaram se os agentes contaminantes
orgânicos, inorgânicos (metais pesados) e biológicos (coliformes, ovos de
helmintos, salmonela) estavam adequados aos níveis da resolução.
Concluída essa etapa, iniciaram
os experimentos com o cultivo de milho e de aroeira, uma espécie arbórea
utilizada em projetos de reflorestamento. Nessa fase, os pesquisadores cultivaram
as duas plantas em cinco diferentes tipos de solo: um adubado com o
fertilizante desenvolvido por eles, um com o substrato comercial, e os outros
três utilizando combinações desses dois adubos em diferentes proporções.
Resultados
A equipe de Fabiana constatou que
as plantas se desenvolveram melhor nos tratamentos que continham as proporções
mais concentradas do composto de lodo de esgoto. "No caso do milho, a
diferença foi bem marcante entre o tratamento com o substrato comercial puro
quando comparado com o lodo de esgoto. O lodo teve um efeito significativo no
desenvolvimento das plantas."
Agora, eles se debruçam sobre os
dados coletados e analisam, em laboratório, os pigmentos e a concentração dos
nutrientes nas folhas para comprovar fisiologicamente a diferença que já pode
ser constatada só de olhar.
Fonte: Exame.com