A eficiência energética vem se consolidando como uma das
principais diretrizes que norteiam a construção de novos empreendimentos no
Brasil. Mas, aos poucos, a economia de água também tem ganhado os holofotes de
projetos sustentáveis. Isso faz todo o sentido uma vez que diariamente
desperdiçamos litros e litros desse recurso. Uma simples torneira gotejando,
por exemplo, é capaz de jogar fora mais de 32 litros em um dia. O que também
aumenta a necessidade de ações preventivas contra o desperdício é o custo da
água. Atualmente, paga-se entre R$ 16,00 e R$ 20,00 por metro cúbico de água
potável, incluindo o tratamento de esgoto.
Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de
Serviços de Conservação de Energia (ABESCO), o mercado de eficiência energética
pode movimentar até R$ 2 bilhões por ano. A partir de um bom plano, as médias
de redução na conta de energia e água de uma indústria ficam entre 4% e 9%. No
comércio, a economia pode alcançar entre 10% e 30%.
Portanto, para se considerar um projeto "verde",
ou seja, ecologicamente correto, o consumo e as formas de controle da água não
podem ser ignorados. Em outras palavras, para ser "verde", não se pode
esquecer do "azul".
Uma das ações possíveis e de fácil aplicação é o controle de
vazamentos, que pode ser feito por meio de um monitoramento constante da curva
de água do empreendimento. A partir desse princípio, é possível entrar com
correção imediata caso haja alguma alteração. Para um empreendimento médio, que
chega a gastar cerca de R$ 110 mil mensais com água, o monitoramento constante
de vazamentos representa de 5% a 7% de redução na conta mensal.
Outra prática importante é a adequação dos equipamentos.
Isso envolve a troca por aparelhos mais eficientes ou a regulagem da vazão de
água. Os pressurizadores nas torneiras, que distribuem melhor a água que chega
ao usuário, diminuem a pressão e, consequentemente, a água usada para lavar as
mãos, por exemplo. Também já podem ser encontrados mictórios a seco, e caixas
de descarga com apenas seis litros, em vez dos 12 litros que se utilizava há
alguns anos.
A captação de água também gera uma boa economia,
principalmente porque materializa o conceito de reciclagem da água. O tipo mais
indicado a de águas pluviais. Captada por uma cisterna instalada no telhado do
empreendimento, a água passa pelo procedimento "first flush", quando
os primeiros 10 minutos de água são descartados, por serem geralmente mais ácidos
(especificamente na cidade de São Paulo). O sistema então armazena a água, que
fica pronta para receber um tratamento simples. O único inconveniente dessa
alternativa é o espaço para armazenar a água coletada. Se não um for um
problema para o edifício, a técnica só traz bons resultados, com redução de 17%
no consumo de água.
Reciclagem de água
Também é possível reciclar para fins
potáveis as chamadas "águas cinzas", de lavatórios, chuveiros ou
qualquer água que não tenha contato com bacia sanitária. O tratamento é um
pouco mais caro, mas é facilmente compensado com a estimulação do uso racional
da água que essa técnica acaba proporcionando.
O reúso de "águas negras", de esgoto, apresenta um
maior nível de complexidade no tratamento pela maior probabilidade de
contaminação. Outras ações, como a opção por plantas nativas nos jardins, que
consomem menor quantidade de água, e campanhas de conscientização dos usuários
do empreendimento, também trazem reduções consideráveis.
Um bom projeto pode contemplar até 20% ou 25% na redução do
consumo de água. Medidas como controle de vazamentos, instalação de redutores
de pressão nas torneiras, substituição de válvulas de descarga e de boias de
regulagem de nível podem gerar excelentes economias.
Para se ter uma ideia do montante de economia que é possível
fazer com o controle de água, tomemos com exemplo um shopping center da cidade
de São Paulo. O empreendimento mantinha um consumo de água mensal de cerca de
R$ 115 mil e após a adoção de um programa para controle de água conseguiu
reduzir os gastos em 20%, ou mais de R$ 22 mil. As mesmas medidas, num
empreendimento que gasta R$ 253 mil por mês com consumo de água, resultaram em
economia de 24%, ou R$ 62 mil por mês.
Seja qual for o projeto, é importante ter em mente que uma
ação aparentemente simples já é capaz de trazer uma economia interessante.
Quando se fala de um recurso tão indispensável quanto a água, todo e qualquer
esforço para sua preservação torna a operação de um empreendimento mais
inteligente e mais eficiente.
Por HELOISA BOMFIM, GERENTE COMERCIAL DA DALKIA BRASIL.
Fonte: Estadão