Um estudo do Instituto de Química
de São Carlos, da Universidade de São Paulo, destinado a livrar solos da
contaminação por cobre, chumbo e cromo, utilizou o húmus resultante da
compostagem com minhocas (vermicompostagem) no esterco bovino, como alternativa
ecológica para corrigir terras que precisam ser descontaminadas.
De acordo com a professora Maria
Olimpia de Oliveira Rezende, que coordenou a pesquisa, a limpeza de solos contaminados
pelos metais é um processo complexo e oneroso, que utiliza produtos nocivos ao
meio ambiente. Com o novo método desenvolvido pela pesquisa, o esterco bovino é
usado por ter propriedades orgânicas e também por ter se apresentado como
solução ecológica, já que se trata de um resíduo que seria descartado no meio
ambiente. Além do esterco, existem outras fontes que poderiam ser utilizadas,
como bagaço de laranja e cana-de-açúcar.
Segundo Leandro Antunes Mendes,
mestre em química ambiental e autor da pesquisa, a contaminação por cobre e por
chumbo pode ocorrer em qualquer área de mineração ou despejo de resíduos sem
controle no solo. O cromo, liberado pelas indústrias de curtume, após o
tratamento do couro, é problema de cidades paulistas como Jaú e Franca, onde
existem muitas fábricas de calçados.
Ele explica que, apesar de a
presença do cobre e do chumbo em pequenas quantidades serem essenciais para as
plantas, a bioacumulação desses metais no solo diminui a fertilidade e podem
torná-lo improdutivo. A existência de cromo provoca nas plantas o amarelamento,
impedindo o crescimento e provocando a morte das mudas.
Segundo a pesquisadora Maria
Olimpia, a dosagem do húmus de minhoca ainda pode ser usada para corrigir
deficiências de cobre e chumbo nos diferentes tipos de terras, conforme a
necessidade de cada cultura.
Nas pesquisas iniciais, foram
utilizados 25% de húmus de minhoca para 75% de solo contaminado. Com esse
percentual, os cientistas conseguiram eliminar totalmente a contaminação. A
pesquisadora Maria Olimpia explica que o processo, no entanto, não retira os
metais do local. “Os elementos tóxicos continuam no solo, mas ficam
imobilizados. Eles não ficam disponíveis para as plantas, nem para serem
carregados e levados ao lençol freático”, explicou a pesquisadora, que
ressaltou a necessidade de monitoramento constante dos solos após a
descontaminação.
O procedimento usado pelos
pesquisadores foi deixar o esterco compostado por três meses. “Através da ação
conjunta de bactérias, a compostagem vai transformando o esterco bovino em um
material mais estabilizado”, disse.
O próximo passo foi adicionar
minhocas, que se alimentam do composto e expelem o húmus. “Esse material tem
muitas propriedades, que ajudam na fertilidade do solo”. A aplicação do
vermicomposto no solo contaminado eleva a capacidade de troca catiônica, que é
o quanto o solo consegue trocar cátions com o meio.
“Se você tem um solo com elevada
capacidade de troca catiônica, ele tem maior possibilidade de liberar os
cátions retidos no solo e absorver aqueles que são perigosos, como o cobre,
chumbo e cromo”, disse. Assim, explicou, após o uso do vermicomposto em solo
contaminado, as espécies metálicas (cobre, chumbo e cromo) ficam retidas, de
uma forma que tornam-se indisponíveis no meio ambiente.
Uma das vantagens do novo método
de descontaminação é que a imobilização de metais que contaminaram os solos
impede que os tóxicos sejam levados aos lençóis freáticos pela chuva. “O risco
para a saúde humana na água é ainda maior que a contaminação no solo, porque os
metais espalham-se facilmente pela água”, disse Maria Olimpia. Ela explicou que
a ingestão de cromo em quantidades elevadas pode provocar câncer, e que o
chumbo, em mulheres grávidas, pode gerar malformação de fetos.
Segundo Leandro, o estudo, tema
da sua tese de mestrado, foi feito apenas em laboratório e teve início em março
de 2010. O próximo passo dos pesquisadores será testar o vermicomposto em
campo, e tentar reduzir a proporção da quantidade de húmus empregada. Além
disso, os cientistas pretendem examinar a fitotoxidade dos solos, ou seja, irão
plantar sobre a terra descontaminada por meio do vermicomposto para verificar
se os metais foram ou não sugados pelas plantas.
Fonte: Ciclo Vivo