quarta-feira, 10 de outubro de 2012

A corrida verde chega aos céus


Grandes fabricantes de aeronaves ou pequenas empresas de tecnologia. Todos buscam o combustível verde para reduzir as emissões de carbono do setor aéreo.



Boeing: tanques abastecidos com uma mistura de óleo diesel e óleo de cozinha.
Na trilogia cinematográfica "De Volta para o Futuro", um clássico dos anos 80, o personagem vivido pelo ator Michael J. Fox viaja pelo tempo a bordo de um DeLorean, carro esportivo que era abastecido com lixo e voava. Os carros ainda não voam, mas o lixo já está movendo aviões — ou quase. Na corrida pelo combustível verde para aviação, vale qualquer tipo de matéria-prima.

Plástico reciclável, serragem, palha, óleo de cozinha e algas são algumas das opções que estão sendo estudadas para entrar no tanque dos aviões. A pressão por alternativas sustentáveis tem recaído sobre os principais fabricantes do setor e não para de aumentar. Proporcionalmente, os aviões são o meio de transporte que mais polui.

As cerca de 17 000 aeronaves comerciais em atividade no mundo respondem por 2% das emissões dos gases de efeito estufa. Os cerca de 1 bilhão de carros em circulação, por sua vez, respondem por 15% dos poluentes.

A meta do setor é reduzir as emissões de carbono em 50% em 2050, tendo como base o ano de 2005, de acordo com a Associação Internacional do Transporte Aéreo. Como é comum quando o assunto é meio ambiente, os europeus deram os primeiros passos.

No ano passado, a Comissão Europeia, companhias áreas e fabricantes de biodiesel assinaram um pacto para produzir 2 milhões de toneladas de combustível sustentável até 2020, o que equivale a 14% do consumo de querosone de aviação na Europa. Com base nesse compromisso, em março a francesa Airbus entrou num consórcio com empresas australianas para estudar o potencial do eucalipto para a fabricação de biocombustível.

Em abril, um 787 da concorrente americana Boeing cruzou o Pacífico com os tanques abastecidos com uma mistura de diesel e óleo de cozinha reutilizável. O mais recente anúncio nessa área ocorreu no dia 24 de setembro. A Airbus e a petrolífera chinesa Sinopec assinaram um acordo para desenvolver um combustível mais verde de biomassa e óleo reciclado.

No Brasil, desde 2005 a Embraer fabrica aviões agrícolas que são abastecidos com etanol. O combustível, porém, não é considerado o ideal para jatos por apresentar dificuldades técnicas. O poder calorífico do  produto (a quantidade de energia por unidade de massa) é bem menor do que o do querosene, o que reduz a autonomia de voo.
Fora isso, como o etanol exige adaptações no motor, acaba elevando os custos. Atualmente, a fabricante brasileira, em parceria com a americana Boeing e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, estuda outras alternativas, como o bagaço de cana.
Atraídas pelas oportunidades criadas pelo setor aéreo, até empresas de pequeno porte estão investindo numa solução verde. A irlandesa Cynar, por exemplo, criou um diesel para aviação a partir de plástico reciclado — vale desde utensílios domésticos até embalagens de salgadinho.

O material é derretido em altíssimas temperaturas e os gases expelidos no processo são convertidos em combustível líquido. Para cada tonelada de lixo plástico é possível extrair 662 litros de diesel. Em novembro, o combustível da Cynar deverá fazer seu primeiro grande teste. Um pequeno avião Cessna fará a rota de Sydney, na Austrália, a Londres, no Reino Unido.

“A vantagem do nosso produto é que ele é menos poluente e ainda reduz a quantidade de lixo no meio ambiente”, diz Michael Murray, presidente da companhia, que esteve no Brasil no começo de setembro para apresentar a tecnologia. Nas Filipinas, a empresa Polygreen desenvolveu outra versão verde a partir do plástico, cujo preço seria 20% menor que o do querosene comum de aviação.

Nos Estados Unidos, a Swift Fuels criou um biodiesel de um tipo de grama com alta capacidade de conversão em energia. “Nossa alternativa é menos poluente e reduz a dependência dos países que importam petróleo”, diz Chris D’Acosta, presidente da Swift. Além da gritaria dos ambientalistas, há um incentivo financeiro para a adoção de uma opção sustentável no setor aéreo.

Nas últimas duas décadas, o preço do querosene multiplicou por 6. Medidas adotadas desde a década de 70 para aumentar a eficiência  energética, como novos motores, têm surtido efeito. Com a mesma quantidade de passageiros e querosene, voa-se o dobro da distância. Apesar disso, os gastos com combustível ainda são o maior custo das companhias aéreas.


Fonte: Exame
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