Optar por construir um
empreendimento sustentável traz benefícios muito além do meio ambiente e do
marketing: é uma opção cada vez mais comum para agregar qualidade e reduzir
custos na obra. Contudo, antes de cimentar o título de “verde” em cada tijolo
do empreendimento, deve-se buscar um processo de construção alinhado com as
práticas ambientais.
Tudo começa no papel, ou melhor,
no computador. Um novo software de modelagem de dados, mais avançado do que o
Cad, está conquistando o mercado da construção civil como um poderoso aliado no
planejamento. O BIM (Modelagem das Informações da Construção, em português) é
diferente do tradicional Cad, uma vez que permite agregar informações além dos
desenhos.
Uma das vantagens do BIM (e
justamente o que o adjetiva como opção “sustentável”) é a antecipação do
processo de planejamento . “Se a gente começar a planejar antes vamos evitar
trabalho, desperdício na construção”, explicou a arquiteta Jealva Fonseca,
especialista no software, ao participar do 10º Seminário Tecnológico e 9º
Seminário de Inovação na Construção Civil, realizados na quinta-feira, 13 de
setembro, em Salvador, durante o Construir Bahia.
De acordo com ela, ao agregar
dados de diferentes setores, o programa antecipa problemas, permitindo
solucioná-los antes mesmo de levantar o primeiro tijolo. “Com o BIM, já posso
saber como será minha parede, minha tinta. Já chego no canteiro de obras com
tudo definido”, afirma.
Planejamento
Para além da tecnologia
utilizada, uma obra só será bem-sucedida no quesito ambiental se for pensada
como tal bem antes de entrar no canteiro de obras. A arquiteta explica que um
dos fatores que se deve pensar ao planejar a obra é o entorno. “A obra não é alheia
ao ambiente”. E isso inclui pensar nas possíveis consequências geradas nas
construções vizinhas. “Nosso trabalho é diminuir esse impacto negativo”,
destaca ela.
Para Jealva, é necessário ainda
pensar em soluções arquitetônicas que potencializem os recursos naturais já
existentes no ambiente, como posicionar a janela para que absorva luz e vento
suficientes para reduzir o consumo da iluminação e do ar-condicionado dentro da
habitação.
Foto: Divulgação
Pesquisadora da Escola
Politécnica da USP (Universidade São Paulo), Clarice Degani ressaltou também o
papel fundamental do planejamento para uma construção sustentável. “É nesta
fase que se toma decisões, como o material que se irá trabalhar”. Expondo como
a logística no canteiro de obras pode ser sustentável, a engenheira afirmou que
os processos de construção sustentável começam desde a demolição das estruturas
pré-existentes, com seu o eventual aproveitamento, até as instalações
provisórias, feitas não somente para abrigar os trabalhadores, mas também para
promover as vendas do futuro empreendimento.
Essência
Um empreendimento responsável
deve pensar a sustentabilidade para além da própria edificação. Para construir
estruturas provisórias verdes, algumas características dessas instalações são
desejáveis, como a gestão adequada de resíduos; conforto térmico e acústico;
eficiência energética; uso racional da água; facilidade de limpeza; promoção do
bem-estar dos trabalhadores; desmontabilidade e reciclabilidade.
Outros aspectos interessantes
para uma intalação sustentável, de acordo com a pesquisadora, seriam a
implantação de sistema de reúso ou infiltração de águas pluviais, por exemplo, e
a utilização de contâineres ou edificações anteriores para construir as
instalações provisórias. No entanto, ela observa que essas sugestões devem ser
analisadas caso a caso. “Não é uma listinha. A sustentabilidade exige
coerência. E tudo vai depender do canteiro de obras”.
Foto: João Alvarez/FIEB
Por outro lado, Clarice orienta
que a escolha de materiais seja responsável, pautada em diversos aspectos e não
apenas no caráter sustentável. “Essa tomada de decisão não pode ser puramente
ecológica, tem que estar pautada no desempenho”, salienta. De acordo com a
pesquisadora, o planejamento dos materiais a serem utilizados na obras não deve
ser feito isoladamente. “É essencial que essa escolha seja integrada entre
produtos, sistemas, processos construtivos e desempenho final”.
Material
A pesquisadora chamou a atenção
para a necessidade de investigar a procedência do material junto ao fornecedor
e procurar conhecer seus componentes. “Tem muito fornecedor que não
disponibiliza essas informações porque nunca pensou nisso antes”, conta.
Desvendar a origem do material e assim descobrir se foi extraído de modo
sustentável, também é interessante. “A madeira está na moda investigar. Mas
areia e gesso não”, compara.
Além disso, no canteiro de obras
é necessário haver uma boa gestão de resíduos. A legislação determina que o
gerador de resíduos de construção é responsável pela destinação adequada. Para
tanto, na fase de planejamento, o empreendimento é obrigado a apresentar um
Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). A norma foi
instituída há 10 anos, mas não ocorre na prática, porque os municípios não
criaram áreas específicas para destinação destes resíduos.
“Tem muito município que também
não exige dos empreendimentos”, relata Clarice, ressaltando que é interessante
realizar um plano para avaliar a possibilidade de reúso ou reciclagem dentro do
próprio canteiro para resíduos da Classe A (reutilizáveis na obra, como blocos
e tubos), por exemplo, ou se é viável a logística reversa para os da classe B
(recicláveis em outras situações, como papel e vidro).
Fonte: Ciclo Vivo