sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Sustentabilidade em um empreendimento começa antes da construção



Optar por construir um empreendimento sustentável traz benefícios muito além do meio ambiente e do marketing: é uma opção cada vez mais comum para agregar qualidade e reduzir custos na obra. Contudo, antes de cimentar o título de “verde” em cada tijolo do empreendimento, deve-se buscar um processo de construção alinhado com as práticas ambientais.

Tudo começa no papel, ou melhor, no computador. Um novo software de modelagem de dados, mais avançado do que o Cad, está conquistando o mercado da construção civil como um poderoso aliado no planejamento. O BIM (Modelagem das Informações da Construção, em português) é diferente do tradicional Cad, uma vez que permite agregar informações além dos desenhos.

Uma das vantagens do BIM (e justamente o que o adjetiva como opção “sustentável”) é a antecipação do processo de planejamento . “Se a gente começar a planejar antes vamos evitar trabalho, desperdício na construção”, explicou a arquiteta Jealva Fonseca, especialista no software, ao participar do 10º Seminário Tecnológico e 9º Seminário de Inovação na Construção Civil, realizados na quinta-feira, 13 de setembro, em Salvador, durante o Construir Bahia.

De acordo com ela, ao agregar dados de diferentes setores, o programa antecipa problemas, permitindo solucioná-los antes mesmo de levantar o primeiro tijolo. “Com o BIM, já posso saber como será minha parede, minha tinta. Já chego no canteiro de obras com tudo definido”, afirma.

Planejamento

Para além da tecnologia utilizada, uma obra só será bem-sucedida no quesito ambiental se for pensada como tal bem antes de entrar no canteiro de obras. A arquiteta explica que um dos fatores que se deve pensar ao planejar a obra é o entorno. “A obra não é alheia ao ambiente”. E isso inclui pensar nas possíveis consequências geradas nas construções vizinhas. “Nosso trabalho é diminuir esse impacto negativo”, destaca ela.


Para Jealva, é necessário ainda pensar em soluções arquitetônicas que potencializem os recursos naturais já existentes no ambiente, como posicionar a janela para que absorva luz e vento suficientes para reduzir o consumo da iluminação e do ar-condicionado dentro da habitação.

 Jealva explicou como o BIM pode auxiliar a incrementar sustentabilidade na construção
Foto: Divulgação


Pesquisadora da Escola Politécnica da USP (Universidade São Paulo), Clarice Degani ressaltou também o papel fundamental do planejamento para uma construção sustentável. “É nesta fase que se toma decisões, como o material que se irá trabalhar”. Expondo como a logística no canteiro de obras pode ser sustentável, a engenheira afirmou que os processos de construção sustentável começam desde a demolição das estruturas pré-existentes, com seu o eventual aproveitamento, até as instalações provisórias, feitas não somente para abrigar os trabalhadores, mas também para promover as vendas do futuro empreendimento.

Essência

Um empreendimento responsável deve pensar a sustentabilidade para além da própria edificação. Para construir estruturas provisórias verdes, algumas características dessas instalações são desejáveis, como a gestão adequada de resíduos; conforto térmico e acústico; eficiência energética; uso racional da água; facilidade de limpeza; promoção do bem-estar dos trabalhadores; desmontabilidade e reciclabilidade.


Outros aspectos interessantes para uma intalação sustentável, de acordo com a pesquisadora, seriam a implantação de sistema de reúso ou infiltração de águas pluviais, por exemplo, e a utilização de contâineres ou edificações anteriores para construir as instalações provisórias. No entanto, ela observa que essas sugestões devem ser analisadas caso a caso. “Não é uma listinha. A sustentabilidade exige coerência. E tudo vai depender do canteiro de obras”.

 Clarice afirma que a construção sustentável começa no canteiro de obras
Foto: João Alvarez/FIEB


Por outro lado, Clarice orienta que a escolha de materiais seja responsável, pautada em diversos aspectos e não apenas no caráter sustentável. “Essa tomada de decisão não pode ser puramente ecológica, tem que estar pautada no desempenho”, salienta. De acordo com a pesquisadora, o planejamento dos materiais a serem utilizados na obras não deve ser feito isoladamente. “É essencial que essa escolha seja integrada entre produtos, sistemas, processos construtivos e desempenho final”.

Material

A pesquisadora chamou a atenção para a necessidade de investigar a procedência do material junto ao fornecedor e procurar conhecer seus componentes. “Tem muito fornecedor que não disponibiliza essas informações porque nunca pensou nisso antes”, conta. Desvendar a origem do material e assim descobrir se foi extraído de modo sustentável, também é interessante. “A madeira está na moda investigar. Mas areia e gesso não”, compara.

Além disso, no canteiro de obras é necessário haver uma boa gestão de resíduos. A legislação determina que o gerador de resíduos de construção é responsável pela destinação adequada. Para tanto, na fase de planejamento, o empreendimento é obrigado a apresentar um Plano de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil (PGRCC). A norma foi instituída há 10 anos, mas não ocorre na prática, porque os municípios não criaram áreas específicas para destinação destes resíduos.

“Tem muito município que também não exige dos empreendimentos”, relata Clarice, ressaltando que é interessante realizar um plano para avaliar a possibilidade de reúso ou reciclagem dentro do próprio canteiro para resíduos da Classe A (reutilizáveis na obra, como blocos e tubos), por exemplo, ou se é viável a logística reversa para os da classe B (recicláveis em outras situações, como papel e vidro).

Fonte: Ciclo Vivo


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