Um dos mais influentes designers do mundo, Brian Dogherty
explica com clareza as noções do ecodesign e como ele poder ajudar a evitar
desperdício.
Livro Design Gráfico Sustentável, de Brian Dogherty:
Ecodesign produz ganhos para fabricantes e consumidores.
Vira e mexe alguém enfia embaixo da porta um folheto de uma
pizzaria. Geralmente são mal desenhados e escandalosos, não sobrevivendo nem a
uma primeira leitura antes de serem descartados. Além disso, são geralmente impressos
em papel couchê, não reciclado, e impressos com tintas tóxicas. Não se pode
pedir que pequenas empresas como as de entrega do bairro tenham conhecimento
avançado de marketing, e ainda bem que elas existem - são estes negócios em sua
maioria familiares que dão emprego a milhões de pessoas e tornam a economia
mais dinâmica e inclusiva.
No entanto, o avanço dos conceitos mais sustentáveis se
espraia rapidamente para uma área crucial à economia e à saúde do planeta, o
design, e sua consciência poderia corrigir os dois defeitos dos tais flyers da
pizzaria apontados acima - se bem executados, teriam melhor retorno , trazendo
mais consumidores, e fariam uso de materiais que, uma vez jogados fora, não
contribuíssem com a montanha de lixo do planeta. A atividade no Brasil apenas
engatinha, mas há nos EUA e Europa empresas como a Celery Design Collaborative,
com sede em Berkeley na Califórnia, e da qual o autor é sócio fundador, e que
se encontram há mais de uma década no ecodesign. A experiência de Brian
Dougherty e seu livro são portanto benvindos, e trazem contribuição valiosa.
Dougherty trata especificamente do design de coisas
impressas, como embalagens, revistas, jornais, peças de marketing em papel e
tinta. Há ciência em sua abordagem, e ele reconhece, de saída, que materiais
alternativos parecem, por enquanto, mais caros que os tradicionais poluentes,
mas que pesquisas e experimentações podem derrotar esta noção. Ainda que assim
fosse, ele argumenta, o uso mais inteligente de matérias-primas, aliado a
técnicas de funcionalidade, elegância e eficácia de mensagens acabam pagando o
custo e trazendo melhor resultado.
Uma parte substancial do livro é essencialmente técnica, e
como tal o conteúdo poderá interessar apenas aos profissionais envolvidos com o
design, e interessados em saber mais sobre o ecodesign. Isto, no entanto, é
fundamental, uma vez que serão estes designers os influenciadores de mudanças
de atitudes de fabricantes e consumidores na marcha para um planeta mais
sustentável. O papel deles é muito importante, sobretudo na educação de quem
primeiro produz o desperdício: "Não faz sentido algum esperar que os
consumidores arquem com a responsabilidade ambiental oriunda de más decisões de
design por parte dos fabricantes e revendedores".
A frase pode soar exagerada, uma vez que consumidores podem
e devem recusar o que não consideram apropriado, mas faz sentido. Não há como
querer esticar uma ponta da corda se não há ninguém do outro lado.
Fonte: Exame