quinta-feira, 12 de julho de 2012

Paulistanos que disseram “não” ao carro (e aos congestionamentos)


Fatigados com a rotina diária de embreagem-primeira-marcha-ponto-morto, personalidades contam em livro por que não há luxo maior do que se locomover à pé, de bicicleta, ou por debaixo da terra usando metrô, em uma cidade como São Paulo.

Se você mora em São Paulo, sabe muito bem como a vida pode ser dura quando se trata de sair de um lugar para chegar a outro. Fatigados com a rotina diária de embreagem-primeira-marcha-ponto-morto, 12 paulistanos bem-sucedidos resolveram aposentar o carro. Eles falam sobre esse feito no livro “Como viver em São Paulo sem carro”, que já citamos aqui.

Para o idealizador do projeto, o empresário Alexandre Lafer Frankel (ele próprio um pedestre convicto há 10 anos), mais do que adotar uma postura “talibã” contra o automóvel, o importante é tentar descobrir como ser menos dependente dos quatro-rodas. “Ir à padaria ou ao supermercado a pé já ajuda. Além de ser mais saudável, é bem melhor do que ficar preso no trânsito, se estressando”, diz. Mudanças de hábitos simples, mesmo para quem não mora perto do trabalho, defende.

O livro tem texto de Leão Serva, fotos de Claudio Edinger e ilustrações de Eva Uviedo. Confira abaixo como seis dessas personalidades conseguiram se alforriar do volante e dos congestionamentos:

Quem: 

Gilberto Dimenstein, jornalista e escritor, fundador da ONG Aprendiz e do site Catraca Livre

Por que não usa carro:

Prefere andar a pé e praticar o serendipismo (fazer descobertas afortunadas, aparentemente, por acaso). “Sempre acho gente, vejo coisas interessantes, descubro lugares e coisas novas”, conta. Para fugir do caos urbano, foi morar perto do trabalho e só marca reuniões de trabalho o mais próximo possível da Vila Madalena, onde vive.

No fim de semana, aproveita o tempo livre para folhear alguns livros na Livraria Cultura, visitar o Centro Cultural Banco do Brasil e dar uma passadinha no Mercado Central – tudo a pé, mesmo que o caminho não contribua para isso. “São Paulo não é uma cidade do pedestre, é uma cidade do automóvel. Em Nova York, a calçada é o lugar dos nobres, aqui é dos pobres”, critica.


Quem: 

Raí, ex-jogador de futebol e sócio da empresa Raí Velasco

Por que não usa carro:

Depois de morar um ano inteiro em Londres, onde fazia tudo de bicicleta, resolveu testar a magrela em São Paulo por 360 dias. Percebeu que a vida era melhor e mais tranquila longe do volante, e passou a andar de bike, metrô e, vez ou outra, de táxi dependendo do trajeto. Se diz mais feliz desde então, já que não se estressa com os congestionamentos, nem se preocupa com multas.

Acredita que a qualidade de vida na cidade é muito prejudicada pelo trânsito. Pondera: “Metade da culpa é do poder público. A outra metade é das pessoas. Tem muita gente que já poderia ter deixado o carro e ajudado a diminuir o trânsito”.


Quem: 

Rita Lobo, escritora e apresentadora do programa “Cozinha Prática”, do canal GNT

Por que não usa carro:

Diz que detesta ficar dentro do carro parada no trânsito. Por isso, procurou organizar sua vida (trabalho, escola dos filhos, lazer) no bairro onde mora, nos Jardins. Ao concentrar suas atividades numa mesma região, consegue almoçar com as crianças todos os dias em casa, o que considera um “luxo urbano”.

Pedestre de carteirinha, ela dá a receita para quem quer curtir a cidade a pé: “As sandálias não podem ser chinelos, que ficam soltos. Compro sandálias com tira no peito do pé, que são mais confortáveis para andar distâncias longas”. Aí é só botar o pé fora de casa. “Há muitas coisas deliciosas para se experimentar andando pela cidade, e consumindo só com o olhar. Sabendo levar, São Paulo é melhor que Paris”, afirma.


Quem: 

Milton Jung, radialista na CBN

Por que não usa carro:

A decepção veio depois de participar em 2010 de um desafio da Semana Mundial sem Carro, que testa a rapidez no deslocamento de vários tipos de transporte na cidade de São Paulo em horário de pico. Ele foi de helicóptero (mais veloz que um carro) enquanto o amigo cicloativista André Pasqualini usou a bicicleta.

Resultado: a bike chegou primeiro (acredite, até o céu paulistano é congestionado às 18h). “Achei tão boa essa ação que me convenci a usar mais a bicicleta. Hoje, noto que, ao pedalar, você vê coisas da cidade que de dentro do carro não aprecia”, diz.


Quem: 

Cândido Malta, arquiteto e urbanista, professor da FAU-USP

Por que não usa carro:

Em uma cidade rica de pessoas e paisagens urbanas, é preciso andar a pé para conhecê-la, principalmente porque cada vez mais é inviável usar o carro, argumenta o urbanista, que gasta 25 minutos entre sua casa, no Jardim Paulistano, e o escritório, na Av. Nove de Julho. Na hora do almoço, pela proximidade, consegue até apreciar uma comida caseira.

Presidente da Associação dos Amigos do Bairro Jardim Paulistano, aos finais de semana, cuida dos jardins de sua rua e das calçadas dos vizinhos. “Como urbanista, defendo que vale a pena ser o que os franceses de ‘flaneur’, ou seja, o cidadão que perambula em sua cidade, descobre os lugares, faz amizades”, conta.


Quem: 

Sérgio Kalil, empresário e sócio dos restaurantes Spot e Ritz

Por que não usa carro:

Como os demais pedestres convictos da lista, o empresário está convencido de que ficar no trânsito é “a maior perda de tempo que um homem pode sofrer”. Para fugir desse martírio diário, decidiu morar perto do trabalho e há 14 anos não usa carro. Resolve tudo a pé ou de metrô e quando precisa (mas só quando precisa mesmo) recorre a um táxi.

Além de driblar os congestionamentos, a andança cotidiana queima calorias, o que lhe permite usufruir, sem culpa, de um dos melhores prazeres da vida: “Quem anda janta! Meu maior prazer em andar é poder comer à vontade, chegar em casa e poder comer uma caixa de chocolates se quiser”, se gaba.


Fonte: Exame







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