quarta-feira, 30 de maio de 2012

Em Harmonia com a Natureza

Quando Melina Goulart e Matheus Barreto entraram pela primeira vez na casa em que moram há três anos, em Niterói, na Zona Metropolitana do Rio, o cenário não era muito convidativo: fechado e claustrofóbico, rodeado por um matagal sem fim, aquele não era o lar com o qual um jovem casal sonha. Mas era o desafio perfeito para Camille Kurowsky, bioarquiteta e amiga do casal. Foi assim que a engenheira florestal e o professor de geografia, juntos há nove anos, deram início ao projeto de ter uma vida mais integrada com a natureza sem sair do meio urbano


Hoje (acima) e há três anos (abaixo): uma casa fechada e escura deu lugar a uma lar sustentável.

Entre xícaras de café orgânico e bananas chips feitas no sítio da família, em Saquarema, Melina nos mostra a colheita do dia: inhame, maracujá e carambola. Um pequeno tour pelo jardim e já descobrimos uma variedade de frutas desconhecidas: ingá, abiu, jussara... Sem falar nos temperos e plantas medicinais cultivados na horta, ao lado do galinheiro.

Mas é o que está dentro da casa que nos trouxe aqui. Em uma sala de estar naturalmente clara e fresca, graças a portas e janelas que proporcionam a ventilação cruzada e claraboias que iluminam os cômodos, Camille nos explica que a casa foi reformada de acordo com os preceitos da permacultura, cujo objetivo é desenvolver práticas mais eficientes para manter uma vida ambientalmente sustentável. E foi assim que, em cinco meses de trabalho, o casal transformou aquela construção horrorosa, como diz Melina, em um lar harmônico.

- Nós só aproveitamos a fundação e as principais paredes. Como a casa já tinha elementos de alvenaria, não pudemos usar adobe (tijolos de barro que são uma das principais características das bioconstruções), então procurei aplicar outros elementos da bioarquitetura, como o telhado verde e o bason - lembra Camille.




A bioarquiteta Camille ao lado da claraboia, que garante mais luminosidade á casa, e Melina em seu telhado verde


Motivo de curiosidade e estranheza, o bason é um vaso sanitário que não está ligado à rede de esgoto e sequer utiliza água. Na parede do banheiro, um quadrinho explica aos visitantes o seu funcionamento: homens também fazem xixi sentados, o número um vai para um compartimento específico, e o número dois escorrega para uma espécie de caixote que fica do lado de fora da casa, onde seca com o calor do Sol e, depois de alguns meses, vira adubo. A "descarga" é feita com serragem e cinzas, que ajudam a eliminar o odor, e um cano externo leva o vapor da secagem para a atmosfera. Tudo muito natural.

- Os animais comem da terra e depois as suas fezes voltam para a mesma terra. O vaso sanitário que a gente conhece existe há pouco mais de um século. O que nós fazemos aqui é retomar uma tradição, mas de uma forma mais higiênica - afirma Melina.


Motivo de estranheza para muitos, o Bason é um vaso sanitário que não usa água.

O telhado verde é outro atrativo da casa. Ele é habitado por três porquinhos da índia, que passeiam entre arbustos de boldo e outras plantas rasteiras. A vista da Serra da Tiririca a leste e do Corcovado a oeste fizeram do telhado o lugar ideal para bater papo e contemplar o pôr-do-sol. Logo embaixo, na varanda do segundo andar, o espanhol Pablo González, amigo do casal e também morador da casa, dá aulas de Tai Chi Chuan.

- Nessa casa todos os dias tem visita. A gente está resgatando o conceito de comunidade: um toma conta do filho do outro, divide as frutas que dão no quintal. É assim que se vive de maneira mais integrada - diz Melina.

Para ser completamente sustentável, a casa ainda precisa de alguns ajustes, como uma cisterna para a captação da água da chuva, e placas de energia solar - reformas que demandam um investimento um pouco maior. Mas aos poucos serão feitas, garante Melina. Quando perguntamos se ela usa máquina de lavar roupa, a resposta vem em tom de brincadeira:

- Claro! Eu não sou xiita não, gente!



Em sentido horário: o coqueiro é umas das 15 árvores frutíferas do quintal; compartimento externo onde ficam armazenadas os dejetos do bason; vasinhos com verduras e temperos; maracujá e carambola e inhame na colheita do dia. 

Fonte: Globo
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