por Carla Legner
Reúso é o processo de utilização da água por mais de uma
vez, tratada ou não, para o mesmo ou outro fim. Essa reutilização pode ser
decorrente de ações planejadas ou não. A água de reúso tratada é produzida
dentro das estações de tratamento e pode ser utilizada para inúmeros fins, como
geração de energia, refrigeração de equipamentos, em diversos processos
industriais, em prefeituras e entidades que usam a água para lavagem de ruas e
pátios, no setor hoteleiro, irrigação/rega de áreas verdes, desobstrução de
rede de esgotos e águas pluviais e lavagem de veículos.
A escassez de água nos grandes centros urbanos e o aumento
de custos para sua captação e posterior tratamento, devido ao aumento do grau
de poluição das fontes de água, faz do reúso de água um tema de enorme
importância nos dias atuais.
Vantagens
A grande vantagem da utilização da água de reúso é a de
preservar água potável exclusivamente para atendimento de necessidades que
exigem a sua potabilidade, como para o abastecimento humano. Entre outras
vantagens estão a redução do volume de esgoto descartado e a redução dos custos
com água, luz e esgoto.
A água já utilizada (água residuária) é coletada e
encaminhada, por meio de tubulações, a uma central de tratamento. Depois de
tratada e com seus parâmetros de qualidade ajustados à finalidade a que se
destina, a água é encaminhada para o consumo de reúso. No caso dos efluentes
domésticos, pode-se fazer o reúso do esgoto bruto e da chamada água cinza, que
é a parte do esgoto que vem de chuveiros, lavatórios e lavagem de roupas,
excluindo-se o que vem de vasos sanitários e de cozinhas.
Na maior parte dos casos de reúso em empreendimentos
comerciais e residenciais, privilegia-se o reúso da água cinza, que é coletada
em tubulações separadas das demais, que levam a água para o ponto onde fica
instalado o sistema de tratamento. Em geral, a central de tratamento fica na
parte baixa dos prédios e a água, após tratamento, é bombeada, de volta, para o
abastecimento dos pontos de consumo de água não potável, como a descarga de
vasos sanitários, rega de jardins e canteiros, lavagem de pisos e calçadas,
reposição de água em sistemas de refrigeração, lavagem de veículos.
De acordo com Sibylle Korff Muller, engenheira da
AcquaBrasilis Meio Ambiente, empresa especializada no tratamento de esgoto
doméstico, o principal benefício do reúso de água é preservar os recursos
hídricos do Planeta e permitir que a chamada água potável seja direcionada
apenas para as finalidades mais nobres, como as de consumo humano e animal e as
de contato direto com as pessoas.
“Tendo em vista os altos preços da água potável e,
substituindo-se por água de reúso, os volumes de água geralmente usados em
todos os fins em que a potabilidade não é necessária reduz-se o volume de
consumo de água comprado das concessionárias de águas e esgotos e, garante-se
ao empreendedor/usuário, uma enorme economia financeira pela redução de sua
conta de água”, ressalta.
“Nas indústrias, por exemplo, ao mesmo tempo em que agrega
uma dimensão econômica ao planejamento econômico dentro da sua política de
gestão dos recursos hídricos, acrescenta também a boa prática ambientalmente
correta, valorizando os seus produtos e marca junto aos seus consumidores”, explica
Luiz Abrahão, engenheiro de tecnologias e processos da Veolia Water Brasil.
Tipos de reúso
O reúso de água pode ser indireto ou direto. O indireto
ocorre quando a água, utilizada em alguma atividade humana, é descarregada no
meio ambiente e novamente utilizada, em sua forma diluída.
O direto ocorre quando os efluentes, após serem tratados,
são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reúso, não
sendo descarregados no meio ambiente.
Sibylle explica ainda que existem basicamente os processos
biológicos e os físico-químicos. A empresa dá preferência aos processos
biológicos por serem eficientes e não produzirem lodos químicos, como acaba
acontecendo com os processos físico-químicos, que se caracterizam pela
decantação dos poluentes mediante adição de produtos químicos.
Os processos biológicos são geralmente baseados em decantação
e degradação biológica da matéria orgânica existente no efluente, a sua maior
carga poluente. Utilizam-se, para isto os microorganismos do próprio efluente
que com introdução de ar, acabam por realizar o trabalho de tratamento da água.
“Ao final do processo, após a chamada clarificação da água, na maioria das
vezes por decantação, é necessária, ainda, a desinfecção do efluente, a qual
pode ser feita com cloro, uv ou outro processo, desde que se deixe um valor
residual de cloro no tanque de armazenamento da água de reúso”, completa
Sibylle.
Atualmente, com mais de 45 sistemas de reúso de águas cinza
em operação espalhados pelo Brasil, a AcquaBrasilis já mostrou aos
empreendedores de que o reúso de água é uma realidade possível, que os sistemas
são confiáveis, têm boa tecnologia, assistência técnica eficaz, com baixa
manutenção, simples e fácil operação, baixo consumo de energia e trazem uma boa
economia na conta de água e, ainda, melhoram a sua imagem frente aos seus
clientes e investidores.
“É um mercado em ascensão. No entanto, deve-se sempre visar
o atendimento de parâmetros mínimos de qualidade da água de reúso resultante do
processo escolhido. Daí, a enorme importância de bons projetos e da aplicação
de processos confiáveis, bem como, de uma operação bem automatizada que já
possa eliminar eventuais falhas humanas”, finaliza a engenheira.
A empresa Veolia Water Brasil possui a linha completa de
equipamentos e sistemas para o tratamento de águas visando reúso. “Na
realidade, não há simplesmente uma única tecnologia capaz de garantir a
qualidade de água para o reúso, mas sim a combinação de sistemas e
equipamentos, tais como clarificação, filtração, membranas, carvão ativado,
ultravioleta, etc. É claro que a associação dessas tecnologias dependerá de alguns
critérios importantes: capacidade da planta, tipo e concentração dos
contaminantes presentes na água a tratar, finalidade da água de reúso, área e
custos de implantação da planta de tratamento”, explica o engenheiro.
Para etapas de clarificação, a Veolia possui o Actiflo™ e o
Multiflo™ que são processos físico-químicos de alta-taxas e de grande
eficiência na remoção de material em suspensão e certos compostos orgânicos e
inorgânicos. Na área de filtração, pode-se contar com o equipamento
Discfilter/Drumfilter, filtros abertos ou fechados com diversos materiais
filtrantes, membranas de micro, ultra e nano-filtração além de sistema de
osmose reversa e eletrodiálise inversa para a remoção da salinidade dos
efluentes a tratar.
O futuro e o presente do reúso de água
De acordo com Luiz, o mercado de reúso de água vem
duplicando o seu volume de tratamento em média a cada cinco anos. “A Veolia
está presente nesse mercado com muitas referências espalhadas pelos diversos
continentes e já soma mais de três milhões de m3 por dia em plantas de
tratamento visando reúso de água. Por isso, é um dos focos principais de
atuação no mercado brasileiro nas áreas municipal e industrial”, completa.
Fernando Barros Pereira, engenheiro civil e gerente
comercial da General Water, empresa que implanta e opera desde a captação da
água até o tratamento dos efluentes para reúso e descarte, explica que o reúso
pode ser feito de diversas maneiras, das mais simples às mais sofisticadas. As
estratégias mais comuns e difundidas são o reúso de efluentes industriais (cujo
tratamento variará conforme a caracterização do efluente), o reúso de esgoto
doméstico ou águas negras e o reúso de águas cinza.
“A General Water trabalha com sistemas de tratamento de
esgoto doméstico e efluentes industriais e a água de reúso proveniente dos
nossos sistemas é destinada aos mais variados usos, como lavagem de pisos,
irrigação, descargas de vasos sanitários e mictórios e processos industriais.
Posso destacar, inclusive, o desenvolvimento de um sistema no Shopping Iguatemi
Campinas que reduz a temperatura interna do Shopping através da aspersão
controlada de água de reúso na cobertura do complexo.
Em virtude de condições de escassez extrema, alguns países
do mundo, como Israel, Cingapura e Namíbia já fazem o reúso direto de esgoto
para fins potáveis”, enfatiza Fernando.
O gerente explica também que existem diversos tipos de
tecnologia, cuja escolha deve ser baseada na qualidade do efluente a ser
tratado e na qualidade requerida para a água de reúso. Para a produção de água
de reúso a partir do tratamento do esgoto doméstico posso destacar o sistema
MBR, que combina um reator biológico de lodos ativados com membranas de
ultrafiltração. Trata-se da mais moderna tecnologia para tratamento de esgoto
existente. Dentro da tecnologia de MBR, a General Water trabalha tanto com
membranas tubulares, quanto com membranas de placas planas, buscando sempre
adequar os projetos às necessidades e particularidades de cada cliente.
“A demanda por soluções sustentáveis vem crescendo
exponencialmente, o que faz com que o mercado de reúso também se beneficie
deste crescimento. Essa tendência é muito interessante para todos nós, seres
humanos, pois o setor, além de gerar empregos e desenvolvimento, traz
benefícios ambientais muito valiosos para a sociedade”, ressalta Fernando.
Por meio da divisão de negócios Water & Process
Solutions, a Dow oferece um amplo portfólio com as mais modernas tecnologias
para tratamento e reúso de água: osmose reversa, ultrafiltração e em resinas
iônicas. Tais soluções podem ser utilizadas em diversas aplicações como em água
industrial, na área farmacêutica, em geração de energia, dessanilização,
tratamento de efluentes e reutilização, entre outras.
De acordo com Flávia Costa, representante da Dow, a osmose reversa
é utilizada em processos de purificação de água por meio da remoção de sais e
outras impurezas. Além desta aplicação, a tecnologia também está sendo
utilizada em processos industriais devido ao seu desempenho e custo-benefício.
Esta tecnologia também é indicada para locais com alto índice de salinidade, em
que há muita contaminação orgânica. “Seja para dessalinização de água do mar ou
para aplicações tradicionais como desmineralização de água para caldeiras,
torres de resfriamento e reúso em processos industriais, o mercado de osmose
reversa está em franca expansão”, completa Flávia.
A ultrafiltração é um processo de purificação impulsionado
por pressão no qual a água e substâncias de baixo peso molecular penetram por
uma membrana e as partículas, coloides e macromoléculas são rejeitadas. O fluxo
através da membrana semipermeável se dá por meio de uma diferença de pressão
entre as paredes internas e externas da estrutura da membrana.
No caso das resinas de troca iônica, elas trabalham com o
tratamento primário de água de alimentação de caldeiras. Possuem sua estrutura
baseada em um copolímero de Estireno e Divinilbenzeno, o qual oferece uma série
de vantagens em termos de capacidade e estabilidade. A sua porosidade única e
alta estabilidade térmica garante a mais completa remoção de compostos
orgânicos durante o processo de tratamento de água.
“O grande diferencial está no seu tamanho de partícula
uniforme. Por não apresentarem grandes partículas, possuem uma maior área
superficial de contato por unidade de volume resultando em uma melhor cinética
de troca, menor consumo de regenerante e águas de lavagem”, completa Flávia.
A Cetrel, empresa criada com a atribuição inicial de tratar
os efluentes líquidos e dispor os resíduos sólidos gerados pelas indústrias do
Polo, atualmente é responsável pelo tratamento, disposição final dos efluentes,
resíduos industriais, bem como pelo monitoramento ambiental em áreas de
influência de complexos industriais. Entre suas concepções está o projeto Água
Viva. Trata-se da implantação de um novo sistema de reúso de água no Complexo
Industrial de Camaçari, na Bahia.
Eduardo Pedroza, gerente de negócios da Cetrel, explica que
a tecnologia utilizada nesse sistema trabalha com sensores que medem em tempo
real a qualidade do efluente. A partir desse monitoramento é possível
identificar se o efluente deve ser destinado ao tratamento de reúso de água ou
não. “O segredo do reúso de água esta antes do tratamento, esta no processo de
seleção dos efluentes e esse sistema seleciona efluentes industriais com menor
índice de poluentes, que antes eram descartados”, explica.
Ainda de acordo com Eduardo, a grande inovação não é o
tratamento, por que quando se tem água de qualidade ruim acaba se investindo
muito no tratamento para obter uma água de qualidade boa, gerando assim um
custo alto. A qualidade do material requer a utilização de poucos componentes
químicos no tratamento, o que diminui o custo e reduz o tempo gasto no
processo.
A Braskem, primeira empresa atendida pelo projeto, irá
economizar 4 bilhões de litros/ano no processo industrial, quantia equivalente
ao consumo médio diário de uma cidade com até 150 mil habitantes. Em anos
chuvosos, a economia pode chegar a 7 bilhões de litro/ano. Com a produção de
água de reúso haverá a redução de 66% do gasto com energia elétrica em relação
ao que era antes necessário para o tratamento dos efluentes e a captação e
produção de 1m3 de água para uso industrial.
“É um projeto economicamente e ambientalmente viável e
vantajoso. Acredito que as empresas cada vez mais vão procurar uma tecnologia
limpa, ou seja, aquela que gera menos resíduo. A água de reúso contribui para
sustentabilidade, a indústria vai deixar de explorar águas de reservatórios,
rios, etc, além de economizar financeiramente, pois seu custo é mais barato”,
explica Eduardo.
Ricardo Fittipaldi, representante da H2 Life, empresa especializada
em criar soluções tecnológicas ligadas à água, resalta que o reúso é uma medida
de conservação de água e tem grande aplicação em diversas atividades, sobretudo
aquelas que demandam grandes volumes de água e não necessitam de água de
qualidade elevada quando comparado aos padrões de potabilidade. Como exemplo, o
representante cita o reúso industrial em torres de resfriamentos e o reúso de
esgoto tratado para descarga em bacia sanitária.
“Para implementação da prática de reúso existe, atualmente,
uma vasta gama de tecnologias de tratamento de efluentes, desde uma simples
filtração até processos avançados. Porém, cabe destacar que os processos de
separação por membranas tem sido considerado como elementos chaves na
viabilização do reúso de água, sobretudo pela elevada qualidade e estabilidade
do efluente produzido”, destaca Ricardo.
Contato das empresas:
AcquaBrasilis: www.acquabrasilis.com.br
Cetrel: www.cetrel.com.br
Dow: www.dow.com
General Water: www.generalwater.com.br
H2 Life: www.h2life.com.br
Veolia Water Brasil: www.veoliawaterst.com.br
Fonte: Revista TAE