“Será isso a nossa salvação, caso queiramos continuar dando
o ar de nossa graça por aqui”. O "isso", a que o economista paulista
Marcus Eduardo de Oliveira se refere, em tom de alarme, é a economia verde.
Segundo ele, pelo menos até a primeira metade do século 21, obrigatoriamente,
deverá ocorrer à transição para uma economia de baixo carbono que incorpore a
dimensão social.
De acordo com Marcus, que é especialista em Política
Internacional e autor de vários artigos sobre a relação entre a economia e a
ecologia, "já perdemos muito tempo menosprezando a atividade econômica que
promove a destruição ambiental em prol de uma economia que enaltece apenas e
tão somente o produto e o mercado, e desdenha, sobremaneira, da condição de
vida das pessoas.”
O economista também defende que se faz necessário alertar a
opinião pública sobre a importância da transição para a economia verde. “Já
fomos muito incompetentes no trato dos recursos naturais, e já passou da hora
de virarmos esse jogo", ressaltou. Para Marcus, produzir a qualquer custo
já não faz o menor sentido. "Isso é parte de um modelo econômico que se
mostrou completamente fracassado e criminalmente assustador, cujos resultados
estão expressos aí, nessa completa desestruturação climática”, criticou.
O modelo econômico moderno, nas palavras do economista,
deve, necessariamente, “incorporar inovação tecnológica e desenvolvimento de
produtos com menor emissão de gases". Para isso, na concepção dele, o
modelo mais plausível e urgente é adotar medidas que diminuam a produção de
eletricidade oriunda de termoelétricas de carbono e encontrar energias
renováveis, como a nuclear, a eólica e a solar fotovoltaica, por exemplo.
Desperdício de recursos
No caso específico do Brasil, o economista chama a atenção
para o desperdício de água e energia. Uma simples torneira pingando consome
1400 litros de água por mês. “De toda a água produzida no país, 46% são
“perdidas” pelos ralos. Na Europa, essa perda não chega a 10%. Isso além de ser
um crime ambiental é um risco para todos nós”, observou.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA) são
retirados dos rios e do subsolo no Brasil 840 mil litros de água a cada
segundo. Desse total subtraído dos mananciais brasileiros, 69% vão para a
irrigação, 11% para o consumo urbano, 11% para o consumo animal, 7% utilizados
pelas indústrias e 2% pela população rural. Nesse aspecto, o economista
salienta que “um percentual considerável de perdas estão nas cidades brasileiras
que possuem redes malconservadas. Há casos conhecidos de cidades que chegam a
perder até 75% de água”.
Não muito diferente disso é o que se perde em relação à
energia, tanto no uso residencial quanto no industrial. O economista alerta que
ao combater o desperdício de água estamos ao mesmo tempo combatendo a perda de
energia, uma vez que a luz e a água são recursos naturais que estão diretamente
interligados. “Não podemos perder de vista que as usinas geradoras de quase
toda a eletricidade consumida no Brasil são hidrelétricas”.
Para Marcus de Oliveira, o verdadeiro desenvolvimento só
pode ser considerado viável se contemplar o respeito ao meio ambiente,
resguardando o aspecto social. "Por isso, o que chamamos hoje de economia
verde só faz sentido se incorporar a dimensão social, daí a importância do
termo economia verde inclusiva. Adotar esse modelo de baixo carbono com uma
economia voltada a atender os graves conflitos sociais é a nossa única
salvação”. Por fim, o economista ainda ressalta que “se os principais países
não buscarem estratégias para dirimir a grave crise social e ambiental o futuro
de todos estará em risco”.
Fonte: Ecodesenvolvimento